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O importante é cooperar… e se divertir!

Você com certeza já ouviu que o importante não é ganhar, mas competir. A competição é algo que ligamos naturalmente ao esporte. É quase automático: ao escutar uma palavra, lembramos da outra, e tudo bem, porque a competitividade não é ruim. Aliás, a concorrência justa e saudável é um tempero tanto para o esporte de …

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Você com certeza já ouviu que o importante não é ganhar, mas competir. A competição é algo que ligamos naturalmente ao esporte. É quase automático: ao escutar uma palavra, lembramos da outra, e tudo bem, porque a competitividade não é ruim. Aliás, a concorrência justa e saudável é um tempero tanto para o esporte de alto rendimento quanto para aquele jogo entre amigos no final de semana. Porque é ela que dá a emoção, aquela que você sente quando não sabe quem será o campeão do US Open, ou quem leva o campeonato brasileiro esse ano, nem se quem vai ganhar essa semana é o time com ou sem camisa. Mas não é só isso que o esporte tem a nos oferecer. Também podemos, por muitas vezes, notar a cooperação nas quadras – em especial nas modalidades coletivas – entre duplas e times que, se não jogam juntos, não conseguem alcançar seus objetivos.

Assim, os jogos cooperativos surgem com o intuito de dar destaque a essa característica, deixando a competição um pouco de lado. Afinal, o tempo todo somos estimulados a competir em diversas áreas de nossas vidas. Por que não incentivar também a cooperação? Esse tipo de jogo é bastante utilizado em aulas de educação física escolar e propõe que, desde pequenas, as crianças aprendam a respeitar as diferenças, limitações e dificuldades do outro, e consigam entender que nem sempre alguém precisa perder para que a vitória exista. Muitas vezes, podemos vencer juntos. Como isso funciona? Existem várias maneiras de jogar cooperando.

Para o professor Rhafael Arantes, coordenador de educação física do Colégio Marista de Goiânia e especialista em psicomotricidade, a maneira de trabalhar um jogo cooperativo varia de acordo com a faixa etária. Para crianças de até nove anos, aproximadamente, a competitividade ainda é algo inconsciente, e esse jogo toma a forma de uma simples brincadeira de faz de conta: “A criança é muito egocentrista, quer tudo pra ela, só que se ela é inserida num jogo cooperativo com uma história, ela participa daquilo como se fosse a melhor coisa do mundo. Vai feliz, dá risada”. Ao fim da brincadeira, então, o professor deve intervir, explicando para a criança de que tipo de jogo ela participou e a importância de ajudar o colega e junto com ele chegar em um objetivo.

A partir dos dez anos de idade, o cenário é outro. “Eles já começam a excluir aquele coleguinha que não é tão bom no esporte, têm as panelinhas formadas, já querem só fazer as coisas que eles gostam, então, a proposta tem que ser um pouco diferente. A gente mostra a importância do jogo cooperativo primeiro, pra depois colocá-lo pras crianças”. Nesse caso, existe também um desafio maior em atrair o interesse das crianças e tornar a atividade prazerosa. É também possível que a competição se faça mais presente. Um exemplo de brincadeira que faz sucesso entre essa faixa etária é o frescobol. “Época de tempo seco, por exemplo, a gente faz muito esse jogo. Várias raquetes e várias bolinhas, a turma inteira jogando, você escolhe a sua dupla. É um jogo cooperativo. Duas pessoas tentando manter a bola no ar o maior tempo possível. Porém, passa dois minutos, o menino vê que tem um outro jogando, vê que tem outra dupla jogando, e o que ele começa a fazer? ‘Vamos ver quem deixa mais tempo a bola no ar’. E a competição já entra de novo no enredo”.

Talvez pareça um pouco confuso falar de competição dentro dos jogos cooperativos, mas ela pode estar presente neles, assim como a cooperação pode fazer parte dos competitivos. Isso porque existem diferentes tipos de jogos cooperativos, nos quais a competitividade se expressa de diversas formas. Terry Orlick, que possui PhD em psicologia do esporte e é um importante pesquisador do assunto, classifica-os em três tipos, para que possamos compreender isso melhor: jogos sem perdedores, jogos de resultado coletivo e jogos de inversão.

Na primeira categoria, encaixam-se atividades que acontecem com apenas um time tentando alcançar um objetivo em comum, não havendo competição. Na segunda, existem diversas equipes brincando, mas todas ainda com um objetivo comum, e assim a competitividade também não se faz presente. Já nos jogos de inversão, existem diversas equipes competindo entre si, mas os jogadores mudam de time a todo o tempo, dificultando a identificação de vencedores e perdedores. Porém, com as alterações nas regras e adaptações que esse tipo de jogo permite, até mesmo o frescobol – considerado um jogo cooperativo sem perdedores – pode tornar-se competitivo, como já citado no exemplo do professor Rhafael. Isso não é errado, desde que a vitória não venha a ser o objetivo principal e todos continuem se divertindo.

Rhafael também diz que, no ambiente escolar, os jogos cooperativos ajudam a enfraquecer as “panelinhas” e a criar novas afinidades. Para ele, é preciso ensinar a criança a ajudar não só seus amigos, mas todos os colegas. “Vão existir situações quando eles forem adultos, que nem todos vão ser amigos, nem sempre eles vão trabalhar com as pessoas que gostam, e a gente tenta mostrar isso na escola”. Por tratar-se de atividades mais simples, que não requerem tanta habilidade, o professor também conta que esses jogos auxiliam na inclusão de crianças que não se destacam na prática de esportes, permitindo que elas brinquem junto com as demais sem que se sintam inferiores ou inseguras, e sem que tenham medo de fracassar. “Um jogo que a gente tá fazendo muito no início do ano, quando chega turma novata, e dá para fazer do primeiro ano do fundamental um até o ensino médio é você pegar a turma inteira e fazer um quadrado gigante. A gente estava fazendo no campo com elástico. Pegava quatro fincas e colocava no campo. ‘Entra aí todo mundo’. Entrava. ‘Beleza, agora a gente vai diminuir o quadrado’. Vai diminuindo o quadrado e eles têm que subir um nas costas do outro, ficar com um pé… E vai diminuindo até o negócio ficar muito apertado mesmo. Você se surpreende. Menino que você nunca ouviu falar nada na sala dando ideia e colocando o outro nas costas, é coisa muito bacana mesmo”.

Também é importante frisar que os jogos cooperativos não se limitam às aulas de educação física. Eles podem ser soluções divertidas para entreter as crianças em casa, nas festas infantis ou até nas reuniões de família, sendo que os adultos podem inclusive entrar na brincadeira. Enquanto a brincadeira acontece, são aprendidos valores como humildade, empatia, diálogo e paciência. O ginasta Terry Orlick, citado anteriormente, além de ter realizado pesquisas, escreveu livros sobre o tema, como o “Cooperative games and sports”, que sugere mais de 150 atividades, especificando inclusive a faixa etária ideal de cada uma e os materiais necessários. Nesse livro, ele também fala sobre a importância da cooperação e dá ideias de como criar suas próprias brincadeiras cooperativas. Algumas brincadeiras antigas e bem divertidas também são consideradas jogos cooperativos, como a queimada, a bandeirinha, escravos de Jó, cabo de guerra, pular corda e a amarelinha. Também pode-se usar a criatividade e transformar um esporte em jogo cooperativo de inversão, embaralhando os times a todo o momento, ou fazendo o jogador que pontuar mudar de time, por exemplo.

Ao ser perguntado sobre a importância de se trabalhar esse tipo de atividade com as crianças, o professor Rhafael responde: “As crianças estão cada vez mais competitivas. Se não existir um meio de mostrar para elas que existem outras coisas, eu não sei aonde é que a gente vai parar daqui a algum tempo, entendeu?”. Sua resposta traz à tona um questionamento importante: aonde vamos parar com tanta competição? Muito é questionado sobre nossa necessidade de competir. Seria ela real? Precisamos, de fato, ser sempre os melhores para nos destacarmos na sociedade? É necessário haver derrota para que a vitória exista? Pode-se apenas ter certeza de que a competição é uma dessas coisas que, em excesso, pode fazer muito mal. Voltando ao esporte, a competitividade pode ser um importante tempero, mas se exageramos, não conseguimos nem ao menos nos lembrar dos outros sabores e prazeres de torcer e praticar esportes. Nas arquibancadas, nos ginásios, nos estádios, esse exagero muitas vezes transforma sorrisos em lágrimas e mancha as quadras de sangue. O esporte perde o gosto. É importante lembrar desses sabores e entender que, muitas vezes, o mais importante é cooperar (e se divertir).

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