Uma população quase despercebida e um tema sobre o qual pouco pensamos. Quantos filmes com personagens portadores de albinismo você já assistiu? Qual é a visão que esses filmes trazem acerca do grupo? É comum que não venha nenhuma obra à mente de imediato, mas muito provavelmente você já teve contato com filmes que apresentem um personagem albino ou com características albinísticas – o qual muito provavelmente foi representado de forma negativa.

Entendendo o albinismo
Segundo a Organização Nacional de Albinismo e Hipopigmentação dos Estados Unidos (NOAH), albinismo é uma condição genética hereditária que reduz a quantidade de melanina na pele, cabelo e olhos. A melanina é uma proteína que confere pigmentação ao corpo e protege a pele contra os raios solares ultravioleta. Por esse motivo, os portadores de albinismo possuem peles e cabelos muito claros e estão mais suscetíveis aos danos causados pelos raios solares, sendo importante o uso de chapéus e protetor solar e evitar longos períodos de exposição ao sol.
Existem diversos tipos de albinismo com alterações em diferentes genes. Os portadores de cada tipo apresentam características ligeiramente diferentes, o que pode incluir variações nas cores do cabelo, pele e diferentes níveis de problemas de visão. O albinismo oculocutâneo (OCA) afeta os olhos, pele e cabelo, enquanto o albinismo ocular (OA) – mais raro – implica na perda de pigmentação apenas nos olhos. Dentro do albinismo oculocutâneo existem 7 tipos atualmente reconhecidos, alguns deles ainda divididos em subtipos.
Os problemas de visão também são características importantes na vida de pessoas que vivem com albinismo. Eles são causados pelo desenvolvimento anormal da retina e pela presença de padrões anormais de conexões nervosas entre o olho e o cérebro. Além disso, a falta de pigmentação nos olhos faz com que seja difícil controlar a entrada de luz pela íris e pupila, prejudicando ainda mais a visão em ambientes muito claros, sendo importante o uso de óculos escuros para proteger os olhos.
Ao contrário do que muitos pensam, os portadores de albinismo não possuem olhos vermelhos. Pode acontecer que as veias dos olhos fiquem mais aparentes sob determinadas condições luminosas devido à pouca pigmentação, proporcionando um tom vermelho ou lilás, o que não define a cor da íris. O albinismo também não está associado a nenhuma doença cognitiva, outro mito difundido. É possível que uma criança com albinismo tenha dificuldade de aprendizado devido aos problemas de visão e à exclusão social, principalmente em países africanos, onde a ocorrência da doença é mais comum. A condição cognitiva de portadores, porém, é completamente normal e não possui relação com o albinismo.
“Albino Bias”
O estereótipo e mito sobre albinismo está presente em toda a cultura popular. “Albino Bias” é um termo utilizado para designar a representação negativa e não realística de pessoas com albinismo ou com características que remetam à pouca pigmentação em filmes, séries, livros, quadrinhos e outros. Os personagens com essa condição de pele são geralmente retratados como vilões, aberrações e de forma negativa em geral.
São muitos os recursos usados para representar de forma negativa os personagens com albinismo. O dermatologista Dr. Vail Reese – o qual já trabalhou com a NOAH – lista no site www.skinema.com/albinism/ alguns dos estereótipos aplicados aos personagens: são violentos e assassinos, possuem apelidos bobos ou ridículos, se vestem apenas em branco, são assustadores, possuem outros problemas de saúde e morrem de maneira trágica.
A NOAH se posicionou contra a tendência de Hollywood em representar seus personagens com albinismo como vilões. A estreia de O código da Vinci – trazendo o vilão Silas – em 2006 foi vista com maus olhos pela organização, visto que 2004 e 2005 haviam sido os primeiros anos que não apresentaram vilões com características albinas em décadas.
O estereótipo reforçado em filmes
A Última Esperança da Terra
A Última Esperança da Terra (The Omega Man, 1971) foi o segundo filme baseado no livro “Eu sou a lenda”, de Richard Matheson. Além de ser considerado por críticos um filme de qualidade ruim e enredo fraco, é também extremamente preconceituoso. Esse foi provavelmente o primeiro filme a introduzir o “albino bias” ao cinema.
A população da Terra foi praticamente extinta devido a disseminação de uma bactéria que causa a morte quase instantânea do portador. Alguns humanos sobreviventes sofreram mutações as quais, aparentemente, deixam a pele, cabelos e olhos mais brancos e também desenvolvem fotofobia, tornando-os incapazes de ficarem expostos ao sol ou à luz. Em nenhum momento é explicado como essa mutação se desenvolve e se possui algum outro efeito colateral além desses citados.


Esse é um ótimo exemplo do uso de características albinas para identificar vilões que não possuem motivo nenhum para agir daquela forma. O que torna o longa tão ruim é justamente a falta de explicação para aquele comportamento. Há uma cena que mostra uma personagem sendo transformada em um mutante e automaticamente alterando seus pensamentos e querendo se juntar a seita. O final do filme também deixa muito a desejar e faz com que o espectador desejasse ter gasto sua uma hora e meia de outra forma.
Powder
Esse filme não atribui características negativas ao personagem portador de albinismo nem o retrata como vilão. Nesse caso, ele é o protagonista e o mocinho do longa. O estereótipo, porém, está na forma com que ele é tratado pelas outras pessoas.

Desde o primeiro momento do filme, a condição de falta de pigmentação na pele é encarada como uma aberração. Antes que o espectador possa conhecer o protagonista, é dito que o garoto possa ter deficiências mentais e até mesmo deformações. Ao entrar em contato com a sociedade pela primeira vez, todas as pessoas que o cercam parecem chocadas e horrorizadas com a sua aparência, como se nunca tivessem tido contato ou nem soubessem da doença anteriormente.

Albino
Dificilmente será possível produzir um filme que reforce tanto o “albino bias” quanto o filme independente Albino (1976). O longa também é conhecido como The Night of the Aaskari, Death in the Sun e Whispering Death. Porém, o nome pelo qual ficou mais conhecido é aquele que reforça a condição de pele do vilão.

Por mais inacreditável que seja a maneira como retratam o personagem, o mais preocupante é que a história trate de um portador de albinismo africano e se passe em um país da África, local onde esse grupo está sujeito à maior discriminação e sofre um perigo real pautado em sua condição de pele.
Outros
O Código da Vinci – Esse foi o filme que exigiu uma posição mais firme da NOAH. “O Código da Vinci” fez muito sucesso e chamou a atenção da organização devido ao vilão Silas, o qual apenas reproduz as características descritas no livro que deu origem ao longa. No livro, é reportado que ele possui albinismo, foi rejeitado pelo pai e que isso fez parte do que desencadeou a sua personalidade como adulto.




Perseguições
Não é incomum que Hollywood identifique vilões e aberrações com condições ou marcas na pele. Com o albinismo, porém, essa tendência preconceituosa pode causar impactos diretos na segurança do grupo. Retratar esse grupo de forma negativa ou “mística” contribui para uma construção errônea e estereotipada no imaginário popular.
Existe uma crença antiga que afirma que as partes do corpo de albinos trazem riqueza e sorte. Essa crença é muito forte principalmente em algumas partes do continente africano. Dessa forma, existe uma intensa perseguição nesse continente contra os portadores de albinismo, os quais são mutilados e mortos com o intuito de terem partes de seu corpo vendidas por altos preços aos seguidores dessa crença.
A incidência de albinismo em algumas regiões da África pode chegar a 1 em cada 2000 pessoas. Essa porcentagem é muito alta quando comparada com outros continentes, o que apenas aumenta a preocupação e exige a atenção de autoridades para o problema.
O documentário White and Black: Crimes of Color evidencia a gravidade da questão enquanto segue uma jornalista que busca denunciar a perseguição na Tanzânia. O grande objetivo do documentário é procurar quem está realizando e patrocinando a perseguição de forma ilegal. Segundo o longa, são os curandeiros tradicionais os principais responsáveis pelas atrocidades, chamados de Witchdoctors. A jornalista mostra o constante medo, violência, discriminação, estigma e dificuldade de sobrevivência que essa população vive. É possível perceber no documentário que parte da sociedade os vê mais como aberrações e menos como humanos, assim como é feito em muitos filmes aqui citados.


por Maria Clara Rossini
mariaclararossini@usp.br
Vi o trailer depois de me interessar pelo o que acontece com pessoas albinas na africa,consegui ver o filme em um site,mas infelizmente não tinha legenda e nem era dublado,seria muito bom passar no Brasil,no Netflix ,por que não é uma historia,é baseado no que acontece infelizmente, não sei onde assistir esse filme gratuito e em português,se alguem souber, nome do filme White shadow.