Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘Til it’s done: Austrália luta para se consolidar como potência

Jogando em casa com o elenco em seu auge, australianas têm bons motivos para se manter otimistas

Por Diego Coppio (diegocoppio@usp)

Apesar de nunca ter passado das quartas de final, a seleção da Austrália é uma das candidatas para surpreender na Copa do Mundo de 2023. Isso se deve a uma oportuna conjunção de fatores nesta edição: um ataque estrelado e experiente, uma craque geracional em seu auge, o bom retrospecto recente e a atmosfera proporcionada por jogar em casa com uma torcida cada vez mais engajada na modalidade.

Breve histórico

Assim como em diversos lugares do mundo, na Austrália havia manifestações do futebol praticado por mulheres — com a formação de times e ligas — até a Football Association desencorajá-lo na primeira metade do século 20. A prática não deixou de existir, porém perdeu força e incentivo.

A modalidade voltou a ganhar força na segunda metade do século, impulsionada pela popularização do esporte decorrente da classificação australiana na Copa do Mundo masculina em 1974. No mesmo ano, foi fundada a Associação Australiana de Futebol de Mulheres (AWSA), dando início à trajetória profissional do futebol feminino no país.

As Matildas — apelido dado ao time em homenagem à uma canção tradicional australiana, Waltzing Matilda — logo se tornaram uma potência regional. Disputaram sete edições da Copa da Oceania, conquistando o título em três e o vice-campeonato em outras três. Devido à superioridade local, a Federação de Futebol da Austrália optou por deixar a Confederação de Futebol da Oceania para se juntar à Asiática em busca de maiores desafios e oportunidades para evoluir suas seleções. Na Ásia, as Matildas encontraram mais competitividade, conquistando apenas uma edição da Copa local, mas chegando quatro vezes na final.

Se em âmbito continental a Austrália é uma grande potência, mundialmente não se pode dizer o mesmo. Presente em todas as Copas do Mundo, com exceção da primeira, a seleção australiana nunca avançou até as semifinais. Sua melhor colocação foi o sexto lugar em 2007, e na última edição foi eliminada ainda nas oitavas de final em disputa de pênaltis contra a Noruega.

Apesar do sucesso regional, as jogadoras australianas passaram por uma série de descasos e situações complicadas para que pudessem praticar o esporte profissionalmente. Ainda nos anos 1990, as atletas treinavam com equipamentos de segunda mão reutilizados do time masculino. ”Nós tivemos dificuldades no período, mas nunca reclamamos muito”, conta a ex-defensora das Matildas, Amy Taylor, ao The Sydney Morning Herald. “Nós não éramos reconhecidas por ninguém, as garotas não eram pagas por seus esforços, mas nós deixávamos tudo em campo”.

Além de sofrer com o descaso com a infraestrutura de treinos, as Matildas lidaram com críticas duras da imprensa por posarem nuas para um calendário em 1999, almejando angariar fundos e aumentar sua popularidade. Apesar da repercussão negativa, cerca de 40 mil unidades foram vendidas.

Atualmente, as Matildas vivem dias melhores. São a terceira seleção mais popular no país, atrás apenas dos times masculinos de cricket — o esporte mais popular do país —, futebol — resultado da boa campanha no Qatar — e rugby, e a tendência é de crescerem ainda mais. Em dados confirmados pela Nike, a venda de camisas da seleção feminina superou a da masculina na Copa do Mundo do Qatar, um indicativo da rápida ascensão da popularidade das Matildas.

Hoje, a Austrália é a décima colocada no ranking da FIFA, três posições atrás do Brasil. Apesar disso, as australianas são adversárias historicamente indigestas para as brasileiras. Nas últimas cinco partidas entre as duas seleções, as Matildas venceram todas — além da eliminação da Copa do Mundo de 2015, quando as australianas venceram o Brasil por 1 a 0 com gol de Kyah Simon, que estará presente na Copa em sua terra natal.

Trajeto até a Copa

A classificação automática não deve ofuscar a boa preparação das Matildas para a Copa. As australianas chegam com nove vitórias nas últimas dez partidas, com destaque para a vitória sobre a Inglaterra, que quebrou uma invencibilidade de 30 jogos das Leoas.

Na última sexta-feira, 14 de julho, venceram a Françaadversária do Brasil na fase de grupos — por 1 a 0, com gol de Mary Fowler, em amistoso que registrou o maior público da história do futebol feminino no país: pouco mais de 50 mil pessoas, recorde que certamente será quebrado assim que começar a Copa.

Fowler comemorando seu gol contra a França. A atacante é uma das jovens promessas do time australiano. [Reprodução/Instagram: @matildas]

Estilo de jogo e elenco

A Austrália chega na Copa do Mundo de 2023 praticando um jogo fundado na intensidade e nos contra ataques e apostando na velocidade das atacantes Cortnee Vine e Hayley Raso. O treinador Tony Gustavsson destaca os três pontos essenciais do DNA australiano: o jogo de pressão, o ritmo aplicado com e sem bola, e as jogadas de bola parada.

Para isso, o treinador estabeleceu variações na formação da equipe: ora no 4-2-3-1, com as laterais atuando como alas no ataque e a presença de Foord como meia atacante atrás de Kerr, ora com um 4-4-2, com as duas atletas compondo a dupla de ataque. 

A convocação de Gustavsson gerou algumas desconfianças na imprensa local. O uso da zagueira estreante Clare Hunt no time titular é visto como o grande risco defensivo assumido pelo treinador. Além disso, há dúvidas sobre a forma física de algumas jogadoras que vêm de lesões recentes, como é o caso de Kyah Simon, Clare Polkinghorne e Alanna Kennedy.

Confira abaixo o elenco convocado pelo técnico sueco:

https://www.instagram.com/p/CuOMhnxvrna/?img_index=1

Sam Kerr

Se a popularidade das Matildas está em ascensão, o motivo principal tem nome e sobrenome: Sam Kerr. Dona de uma comemoração icônica, a australiana é um dos principais nomes do futebol feminino atualmente, embora dissesse odiar o esporte quando criança.

O mortal para trás é uma das marcas registradas da maior artilheira da história das Matildas [Imagem/Reprodução: @samanthakerr20] 

A atacante de 29 anos do Chelsea e maior artilheira da história das Matildas vive seus melhores anos na carreira desde que chegou ao clube inglês em 2020, conquistando o tetracampeonato da FA Women’s Super League e o tri da Women’s FA Cup. Nessa temporada, foi a artilheira da equipe, com 29 gols e seis assistências em 38 jogos. Em 2021, ficou em segundo lugar no prêmio Fifa The Best, atrás apenas da espanhola Alexia Putellas, do Barcelona. 

Kerr é hoje a jogadora de futebol mais bem paga no mundo, recebendo 525 mil dólares (R$2,5 milhões) por ano, além de ser um dos rostos principais de peças publicitárias da Nike e da EA Sports. Para a desenvolvedora de jogos, Kerr figurou junto com Kylian Mbappé na capa do Fifa 23 Ultimate Edition, tornando-se a primeira jogadora de futebol a aparecer na capa de uma edição mundial do jogo.

https://www.instagram.com/p/CgKNdGojLS8

A Austrália na Copa

As anfitriãs estreiam pelo grupo B dia 20/07 contra a Irlanda, às 7h, horário de Brasília, no Estádio Olímpico de Sydney. Depois, enfrentam Nigéria e Canadá nos dias 27 e 31, respectivamente. A expectativa é de classificação, porém o jogo contra Canadá promete ser um dos mais disputados da fase de grupos.

À exceção dos Estados Unidos em 1999, nenhum outro país-sede venceu a Copa do Mundo. Mas os fatores discutidos fazem os ventos soprarem a favor das Matildas. Agora, é lutar até que esteja feito.

Imagem de capa: Reprodução/Instagram @matildas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima