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Pelé, O Rei.

Uma homenagem à vida do maior atleta do esporte mais popular do mundo dentro e fora dos gramados, do factual ao lúdico, cem dias depois de sua morte

Esta história é uma homenagem. 

Era madrugada na cidade de Três Corações, quando João Ramos do Nascimento e Celeste Arantes conheceram seu primogênito. A eletricidade, também recém-chegada ao pequeno município mineiro, inspirou o jovem casal a batizar a criança com uma versão adaptada do nome do inventor da lâmpada, Thomas Edison. Em 23 de outubro de 1940, o bebê de futuro brilhante recebeu o nome de Edson Arantes do Nascimento.

A certidão de nascimento, porém, feita  quase um mês depois por Dondinho ( apelido de João Ramos), apresentava  dados incorretos: de nome Edison, com “i”, o menino teria nascido em 21 de outubro. Os erros foram corrigidos no ano seguinte, quando foi emitida a certidão de batismo.

A trajetória de “Dico” com a bola começou de um jeito bem tradicional entre os brasileiros. Ensinado pelo pai, que era jogador de futebol, ele jogava em campos de terra batida com bolas improvisadas, geralmente feitas de meias recheadas com jornal. A princípio, o garoto era goleiro. Durante as partidas recreativas com seu tio Jorge, Edson se espelhava em José Lino da Conceição Faustino para fazer as defesas. Conhecido como “Bilé”, o atleta era goleiro do Vasco da Gama de São Lourenço de Minas Gerais, equipe pela qual Dondinho havia jogado anteriormente. Mas, ao tentar pronunciar o nome do goleiro, a dicção infantil fazia o menino  pronunciar algo como “Pilé “. Daí, surgiu o apelido Pelé, que parecia incomodar a criança e, por esse exato motivo, acabou ganhando força entre os colegas da escola. 

Quando a família se mudou para Bauru, cidade do interior paulista, Pelé passou a integrar equipes esportivas. Depois de sua passagem pelo Sete de Setembro e pelo Ameriquinha, onde quando calçou chuteiras pela primeira vez, o jovem jogador juntou-se ao Baquinho, equipe júnior do Bauru Atlético Clube. O caçula do time, com 13 anos, aos pouco foi se tornando estrela, participando de grandes goleadas e sendo fundamental para os dois títulos conquistados pela equipe.

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Quando Pelé completou 15 anos, houve uma desintegração no elenco do Baquinho após a saída do técnico Waldemar de Brito. Com isso, o garoto foi explorar um novo campo: o futebol de salão. Pelo Radium, ganhou diversos campeonatos e foi artilheiro, demonstrando um nível absurdo de qualidade técnica e de talento. 

Não demorou muito para que chegasse a primeira proposta. Apesar do interesse do Bangu, dona Celeste, que não queria que o filho fosse jogador de futebol profissional, impediu a ida do filho ao Rio de Janeiro. Ela não contava, porém, com o poder de convencimento de Waldemar de Brito. O antigo técnico convenceu a matriarca de que jogar pelo Santos Futebol Clube era o destino de Pelé, que se tornaria “o maior jogador de futebol do mundo”.

O Santos Futebol Clube de Pelé

Edson Arantes do Nascimento chegou à Vila Belmiro em 22 de Julho de 1956. Guiado por Waldemar de Brito, o garoto impressionou o então treinador do Santos Futebol Clube, Luís Alonso Pérez (Lula), de tal modo que, no mês seguinte, Pelé assinou um contrato profissional com o clube. A estreia do Rei na equipe principal do alvinegro praiano foi em 7 de Setembro, contra o Corinthians de Santo André. Entrou no segundo tempo, substituindo o atacante titular Emmanuele Del Vecchio e marcou o sexto gol de uma vitória santista por 7 a 1. 

Na temporada seguinte, o Santos FC e o Club de Regatas Vasco da Gama uniram-se em um combinado para disputar amistosos internacionais. Em três partidas, Pelé marcou 5 gols. Os relatos sobre o jovem prodígio de camisa alvinegra ganharam força e passaram a chamar a atenção de figuras importantes do futebol mundial. A mais importante, sem dúvidas, foi a de Sylvio Pirillo, técnico da Seleção Brasileira. Em 1957, Pelé recebeu sua primeira convocação para defender a camisa canarinho.

Ainda em 1957, o garoto Pelé participou de seu primeiro campeonato paulista com o Santos. Ao final dos jogos, foram 36 gols marcados pelo jovem jogador — que os colocaram em primeiro na artilharia da competição. Mesmo assim, o clube da baixada santista não foi o campeão: ficou em segundo lugar, atrás somente de seu rival Corinthians.

Em 1958, o desfecho foi diferente. Nas 38 partidas disputadas em seu segundo campeonato paulista, Pelé marcou incríveis 58 gols — e tornou-se artilheiro pela segunda temporada consecutiva. Pela primeira vez, foi um dos principais nomes a levar o Santos a repetir seus feitos de 56 e 57 e levantou uma taça com a camisa alvinegra praiana. Até hoje, a marca do Rei permanece imbatível, e ele ainda figura como o maior goleador de uma edição do torneio que reúne as potências do futebol paulista. Começava, então, a era que mudaria para sempre a história do futebol, que colocaria o time de uma cidade litorânea de São Paulo no mapa do mundo. Começava o Santos dele, de Pelé.

Antes mesmo de disputar e ganhar sua primeira Copa do Mundo pelo Brasil, em 1958, Edson já recebeu mais um apelido que ficará marcado para sempre na história: “Rei”. Em março daquele ano, após o Santos vencer o América-RJ por 5 a 3 – quatro gols de Pelé -, o jornalista Nelson Rodrigues escreveu uma crônica enaltecendo o jovem de 17 anos, intitulada A Realeza de Pelé. Logo, a alcunha ganharia ares internacionais e seria expandida a proporções estratosféricas. 

Santos de Pelé. A parceria mais vitoriosa entre um clube e um jogador que poderia existir. [Foto: Reprodução/Instagram @pele]

No ano seguinte, 1959, o clube santista venceu, pela primeira vez em sua história, o Torneio Rio-São Paulo. A final, vencida em cima do Vasco, contou com dois majestosos gols do Rei e mais um de Coutinho: um 3 a 0 histórico. No paulista, porém, não tiveram a mesma sorte. A equipe alvinegra viu o Palmeiras ser campeão enquanto contentava-se com a segunda colocação. Ainda assim, Pelé manteve-se como o maior pontuador. Foi nessa época também que o Santos realizou sua primeira excursão para a Europa e disputou um total de 22 partidas — tendo, no total, 13 vitórias. O time começava a ganhar ares internacionais.

Na próxima temporada, a de 1960, o Santos voltou a figurar como o maior time paulista e deixou a Portuguesa na segunda posição na 59ª edição do Paulistão. O artilheiro, de novo ele: Pelé.  Em 1961, a história se repetiu. Novamente estava o Santos em primeiro, a Portuguesa em segundo e Pelé como principal goleador. Foi neste ano, também, que o time alvinegro foi campeão brasileiro pela primeira vez, vencendo o Bahia na disputa final.

62 e 63 foram tempos áureos, o passado só de glórias que cada torcedor santista se orgulha de contar — e cantar. Além de ganhar o paulista e o brasileiro, o alvinegro praiano em 1962 venceu a Libertadores e o Mundial Interclubes, ambos pela primeira vez na trajetória do time. Em 1963, de novo fizeram história: ganharam o torneio Rio-São Paulo, a Libertadores e o Mundial — com Pelé sendo artilheiro em vários desses campeonatos. O Santos consolidava-se como o melhor clube do planeta, o pioneiro em ser bicampeão do mundo.

E o resto é história. A partir daí, Pelé ainda ganharia seis campeonatos paulistas, três torneios Rio-São Paulo, três campeonatos brasileiros, uma Recopa Sulamericana e uma Recopa Mundial, além de dezenas de títulos internacionais — todos eles ostentando o manto preto e branco pelo qual era apaixonado. Disputou 1116 jogos pelo Santos, que foram palco das 1091 vezes que ele fez santistas do mundo inteiro gritar gol. Números que apenas alguém da realeza poderia alcançar.

Com a imagem lendária já construída, os contos sobre o Santos de Pelé surgem. É famosa a história de que o time santista foi responsável por parar uma guerra na África. A Guerra de Biafra, em 1969, cessou momentaneamente para que o clube pudesse jogar em segurança uma das várias partidas jogadas em excursões internacionais — e para que o povo pudesse assistir àquele que já tinha fama de Rei.

No mesmo ano em que o Santos parou uma guerra, Pelé alcançou um feito histórico: um pênalti, marcado contra o Vasco no grande palco do Maracanã, foi seu milésimo gol. Ele foi o primeiro a conquistar a marca. Os jornalistas e fotógrafos invadiram o gramado. Pelé dedicou o seu gol de número mil às crianças.

Mil gols, só Pelé! A equipe santista que jogou a partida em que ele marcou seu milésimo gol. [Foto: Divulgação/Santos Futebol Clube]

No dia 2 de outubro de 1974, foi o momento de aquela comunhão tão única chegar ao fim: Santos e Pelé, dois componentes tão inseparáveis, enfim separaram-se, depois de quase duas décadas de vitórias. No meio do jogo contra a Ponte Preta pelo campeonato paulista — o mesmo que venceu tantas vezes —, o Rei foi ao centro do gramado, ajoelhou-se e, de braços abertos, agradeceu e despediu-se de seus súditos tão fiéis. Mal poderiam imaginar que, naquele mesmo lugar, após cerca de 50 anos, o corpo de Edson seria velado.

Inversão. Um Rei ajoelha-se diante de seus súditos [Foto: Divulgação/Santos Futebol Clube]

Nesta mesma data, Pelé criou um dos maiores mistérios do Santos Futebol Clube. Conta-se que, depois de permanecer algum tempo em frente ao seu armário no vestiário santista, o Rei deixou algo lá dentro, trancou a porta à chave e foi embora. Até hoje, o armário nunca foi aberto — e resta aos torcedores brasileiros especular sobre qual foi o objeto deixado por Pelé ao seu time de coração naquele momento.

Trancado. Apesar de reformado, o armário de Pelé permanece fechado na Vila Belmiro. [Foto: Reprodução/Facebook Santos Futebol Clube]

Seleção Brasileira

Pelé contava que, após a derrota da seleção brasileira na Copa de 1950, disputada no Brasil, ele prometeu ao seu pai que venceria uma Copa do Mundo. Mal sabia o pequeno Edson que esse gesto de consolo tão espontâneo não só se tornaria realidade, como aconteceria não só uma, mas três vezes ao longo de sua carreira.

A estreia de Pelé pela seleção brasileira — que começava a vestir a famosa camisa amarelinha — aconteceu pouco menos de um ano depois de seu primeiro jogo como profissional pelo Santos e pouco menos de um ano antes de sua primeira Copa do Mundo, em 1958. Como não poderia ser diferente, o garoto de 16 anos entrou em campo pela primeira vez por sua seleção logo contra a Argentina, pela extinta Copa Roca (equivalente ao Superclássico das Américas). O Brasil perdeu por 2 a 1, mas o gol foi de Pelé. No segundo jogo, vitória por 2 a 0 com mais um tento do menino que nem sonhava em ser rei. E título para o Brasil!

1958: Primeira Copa, primeiro gol, primeiro lugar. 

A primeira convocação de Pelé para a seleção tinha sido feita pelo treinador Sylvio Pirillo pelo fato de muitos dos convocados usuais estarem indisponíveis. Com a troca de comando, porém, o menino foi chamado à disputa de sua primeira Copa do Mundo, aos 17 anos. O torneio ocorreu na Suécia e Vicente Feola era o técnico da seleção brasileira à ocasião. 

Nos dois primeiros jogos (vitória por 3 a 0 contra a Áustria e empate por 0 a 0 com a Inglaterra), Edson ficou no banco. Ele estava inscrito como o camisa 10 da seleção — o que, é sempre bom lembrar, nada significava à época — e não existiam substituições a menos em casos de lesão. Para o terceiro jogo, porém, Feola decidiu colocar o menino do Santos como titular. A seleção venceu a União Soviética por 2 a 0 com direito a uma assistência de Pelé para um dos gols de Vavá e garantiu a primeira colocação do grupo 4 daquela Copa

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Mas foi no mata-mata que Pelé começou a mostrar a que vinha. Nas quartas, a vitória por 1 a 0 contra País de Gales foi com gol dele. Nas semis, uma goleada acachapante contra a França de Just Fontaine — que fez 13 gols naquela Copa, um recorde até hoje —: 5 a 2. E o primeiro hat-trick do Rei com a seleção. A final, contra a Suécia, terminou com o mesmo placar e é, até hoje, um dos jogos mais lembrados da carreira de Pelé: o dia em que um menino de 17 anos conquistou o mundo pela primeira vez. Na goleada, ele marcou dois gols.

1, 2, 3, 4, 5…O placar da final de 1958, contra os donos da casa, já indicava um caminho vitorioso para o Brasil. Na imagem, a mãe de Pelé, dona Celeste (1922-hoje), sua irmã, Maria Alice (1944-hoje) e seu pai, Dondinho (1916-1996), reagem ao primeiro gol do Brasil na final — marcado por Vavá.

Se hoje, Lionel Messi é o craque e campeão mundial pela Argentina vestindo a camisa 10, é porque há 65 anos um jovem chamado Edson disputou (e venceu) sua primeira Copa do Mundo usando a camisa 10. E assim seria com qualquer que fosse o número nas costas do Rei.

1962: Pelé escreveu certo por pernas tortas

O título da Copa do Mundo de 1962, no Chile, está longe de ser um dos grandes feitos da carreira do Rei. Isso porque o protagonista daquela conquista não foi o Pelé da perfeição com a bola nos pés, mas o Mané da imperfeição nas pernas que com a bola era angelical. 

O Brasil de Aymoré Moreira estreou vencendo o México por 2 a 0, no grupo 3. Um gol de Pelé, outro de Garrincha. No jogo seguinte, diante da Tchecoslováquia (que havia vencido a Espanha de Ferenc Puskás no primeiro jogo), um empate por 0 a 0 perigoso — e com um agravante: o camisa 10 se machucou. Para o jogo decisivo, contra os espanhóis, Amarildo, companheiro de Garrincha no Botafogo, foi escolhido para substituir o Rei. O Brasil todo engoliu em seco quando a Espanha abriu o placar, mas o substituto de Pelé fez questão de mostrar aos espanhóis quem era a seleção campeã do mundo e virou a partida, com dois gols.

As fases seguintes da Copa foram de show de Garrincha. Em uma das maiores exibições individuais de um jogador em um Mundial, o “Anjo das pernas tortas” fez quatro dos sete gols da seleção brasileira nos confrontos diante de Inglaterra (vitória por 3 a 1) e de Chile (vitória por 4 a 2). Os demais foram marcados por Vavá (à época, atacante do Palmeiras). Na final, diante da mesma Tchecoslováquia de quem o Brasil não conseguira ganhar, Garrincha foi mais discreto. Bem marcado, abriu espaço para Zito, Vavá e Amarildo brilharem e darem o título ao Brasil, de virada, por 3 a 1.

1966: o Brasil foi vencido; a parceria, não.

A Copa de 1966 está longe de ser uma das mais lembradas, seja quando se fala em Pelé, seja quando se fala em seleção brasileira. O Brasil não venceu, como em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002; tampouco encantou ou empolgou, como em 1982 e em 1998. A Copa da Inglaterra foi a primeira vez em que a seleção canarinho não passou da primeira fase. 

Com alguns remanescentes da campanha anterior — incluindo Pelé e Garrincha — foram três jogos, uma vitória e duas derrotas. Coincidentemente, em uma das derrotas (contra a Hungria, por 3 a 1), apenas Garrincha jogou; e, na outra (diante da seleção portuguesa de Eusébio, também por 3 a 1), Pelé foi titular. No único jogo em que ambos atuaram, a estreia diante da Bulgária, o Brasil venceu por 2 a 0, com um gol de cada um.

Invencíveis. A partida diante dos búlgaros foi a última das 30 da dupla Pelé e Mané pela seleção brasileira. A 26ª vitória, somada a mais quatro empates. A estreia do dueto, alguns anos antes, também tinha sido contra a Bulgária. O valor simbólico foi grande. [Foto: Reprodução/Twitter @mundodabola]

1969: Gol de Pelé (mil vezes bis)   

“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé”

Carlos Drummond de Andrade, poeta (1902-1987)

O dia 19 de novembro de 1969 ficou marcado pela quebra da marca dos mil gols por Pelé. Em partida disputada contra o Vasco, o Santos venceu por 2 a 1 e o Rei marcou, de pênalti, seu milésimo gol na carreira. Se a Fifa ou os sites de estatística consideram, pouco importa. A verdade é que Pelé fez mil gols — mais do que isso, aliás —, o país vibrou e isso ainda reverberou para fora. 

Em conversa ao Arquibancada, Giuseppe Brocchetta, que nasceu em 1959, é italiano e vive em Pavia, uma comuna próxima de Milão, foi bem claro ao ser indagado a respeito do que Pelé simbolizava para ele: Creio que para descrever ‘O Rei’ no futebol mundial basta o fato de que, aqui na Europa, sempre impressionou a todos que ele, aos 29 anos, em 1969, fez o gol número mil! Esse é um número que recordo que teve muita repercussão entre os torcedores e aumentou o desejo por tê-lo visto jogar por uma equipe europeia”.

1970: a coroação final de um legado imortal

Dizem que a terceira vez é mágica. No caso de Pelé, várias coisas foram várias vezes. Pelé jogou por dois clubes. Pelé marcou mil duzentos e oitenta e três gols. (ou mil duzentos e oitenta e dois, a depender da contagem). Pelé entrou em campo mil trezentas e sessenta e três vezes. Oficialmente, Pelé jogou oitocentas e doze vezes e balançou as redes em setecentas e sessenta e sete oportunidades. Peledson atuou na política, na moda, na arte, na música, na cultura e no cinema. Pelé ganhou o Mundial de Clubes duas vezes pelo Santos. Foi campeão sul-americano outras duas, brasileiro seis vezes, paulista mais dez…ah, e Pelé também venceu a Copa do Mundo por três vezes. E gritou “Love” três vezes no Giant Stadium. Edson, por sua vez, casou-se três vezes, foi pai sete vezes e avô outras quatro. Até a cidade dele era Três. A única coisa única nisso tudo é ele próprio, Pelé — e mesmo ele se confundia com Edson a todo momento. Mas faz parte!

Depois do mau desempenho no Mundial de 1966, a seleção brasileira chegou ao México para a disputa da Copa de 1970 com grandes nomes e sendo influenciada pela instabilidade política que afetava o país à época. Às vésperas do Mundial, o então treinador João Saldanha foi trocado por Zagallo, decisão que passou por divergências ideológicas. Mesmo assim, o Brasil tinha uma ótima equipe e chegou como favorito.

Não mais com Garrincha, mas com uma legião de camisas 10 e um repertório tático revolucionário para o período, a seleção venceu os três jogos da fase de grupos: 4 a 1 na Tchecoslováquia, 1 a 0 na Inglaterra e 3 a 2 na Romênia. Pelé fez três gols e deu uma assistência nesses jogos. No mata-mata, o Brasil bateu dois adversários sul-americanos (Peru, por 4 a 2, e Uruguai, por 3 a 1) até chegar à final, contra a Itália. 

Sobre este jogo, aliás, Giuseppe conta ter más recordações: “Me recordo de ter visto, quando mais novo, os dribles de Pelé na TV em preto e branco. Ele passava por três, quatro, cinco jogadores como se fosse boliche. Também me lembro, infelizmente, do primeiro gol, de cabeça, que ele fez contra a minha Itália na final da Copa do Mundo”. Tarcisio Burgnich, zagueiro da Itália naquela partida, relatou, após o jogo, a dificuldade que era jogar contra Pelé: “Eu falei pra mim mesmo antes do jogo que ele era de carne e osso como qualquer um. Mas eu estava errado”. 

E viriam mais três gols brasileiros contra um italiano naquela final. Um desses tentos foi marcado pelo artilheiro do Mundial, Jairzinho — que fez sete ao todo. O “Furacão da Copa”, como passou a ser conhecido, concedeu entrevista à Jornalismo Júnior em 2020, quando o título completou meia década. 

Nos braços de seu povo. A declaração de Burgnich deixava bem claro: Pelé exalava realeza e não havia Azzurra que retirasse isso dele. [Foto: Reprodução/Twitter @WorldCupRamble]

1974: A escolha por ficar de fora

Em fevereiro de 1974, a CBF (Confederação Brasileira de Desportos), então entidade máxima do futebol nacional, fez um pedido formal para que Pelé abandonasse a aposentadoria da seleção brasileira — seu último jogo havia ocorrido em 1971, contra a Iugoslávia, em uma bonita despedida para mais de 135 mil pessoas. O craque, entretanto, recusou o convite, dizendo que, caso aceitasse, estaria “iludindo” os brasileiros que o viram vencer com a Amarelinha e se despedir simbolicamente três anos antes. A Copa de 1974 acabou ficando com a Alemanha Ocidental, que sediou o torneio.

New York Cosmos: ele ainda tinha amor (à bola) para dar

Love! Love! Love!”. O discurso arrepiante de Pelé no amistoso entre New York Cosmos e Santos, no dia 1º de outubro de 1977, marcou sua despedida dos gramados e, como consequência, de sua passagem pelo futebol estadunidense. Ele atuou um tempo por cada time e o Cosmos venceu por 2 a 1. O “King of Football”, como diria Mark Zuckerberg em um dos vídeos mais aleatórios da história, foi se aventurar no incipiente soccer dos Estados Unidos sim, por amor ao esporte — mas também e principalmente por uma necessidade.

Embora fosse o maior nome do esporte mais popular do mundo, Pelé havia tido complicações financeiras em anos recentes e, após recusar propostas dos Estados Unidos por cerca de três anos, acabou aceitando ir ao New York Cosmos para ser o atleta mais bem pago do mundo e fazer, finalmente, o seu merecido “pé de meia”. A passagem, iniciada em 1974, foi curta, mas o suficiente para que o Rei fosse eleito o melhor jogador da NASL (Liga de Futebol Norte-Americana), em 1976, e campeão em 1977 — isso tudo jogando ao lado de nomes como Carlos Alberto Torres e Franz Beckenbauer, simplesmente os dois últimos capitães a erguerem a taça da Copa do Mundo, naquele momento. Em 2020, o Arquibancada fez uma matéria sobre a passagem de Pelé pelas terras do Tio Sam.  

Segundo revisão realizada em 2015 pela entidade máxima do futebol, o Rei teria sete bolas de ouro (prêmio de melhor jogador do mundo) se os critérios para a premiação fossem os utilizados atualmente. À época, apenas jogadores que atuavam na Europa disputavam o troféu, ainda que o futebol fosse tão bom quanto, senão melhor, na América do Sul.

Pelé: a cara do Brasil. A cara do futebol.

Dando a benção para a seleção

Mesmo após sua aposentadoria, Pelé não ficou longe do futebol, e trabalhou, inclusive, como comentarista de algumas edições da Copa do Mundo. A mais marcante delas, talvez, tenha sido a de 1994, quando trabalhou ao lado de Galvão Bueno na histórica transmissão do tetra-campeonato mundial

A realeza de Pelé dentro e fora dos gramados é reconhecida, também, por aqueles que tiveram a oportunidade de vê-lo desfilar seu futebol nos gramados e conviver com ele quando já aposentado. Em conversa à Jornalismo Júnior, Jota Júnior, narrador esportivo, contou um pouco de como foi sua relação com Edson. Eles ficaram cerca de um mês juntos durante a Copa de 1986, no México — o que Jota definiu como uma “experiência surpreendente”, na melhor acepção possível.

“A impressão que tínhamos no dia a dia era a de estarmos convivendo com o cidadão Edson. Ele parecia se esquecer de ser Pelé, um ídolo de todos. Ouvíamos falar da simplicidade de Pelé e de como ele sabia ser ídolo, mas o Rei foi além. Foram 30 dias de convivência harmoniosa e de emoção diária, pois tínhamos ao nosso lado um ídolo mundial e dando lições de humildade”

Jota Júnior, locutor esportivo

José Francischagelis Júnior, ou apenas Jota Júnior, é jornalista e locutor esportivo. Ele teve passagens pela Rádio Clube de Americana, sua cidade natal, pela Rádio Brasil de Campinas, pela Rádio Gazeta de São Paulo, pela Rádio Bandeirantes, pela Rede Bandeirantes e pelo Grupo Globo, onde narrou no SporTV e no Premiere. Ele deixou a emissora no início do ano. [Foto: Reprodução/Twitter @mariocaixa]

Jota, que chegou a narrar jogos do Rei no Brinco de Ouro, estádio do Guarani, de Campinas, e no Pacaembu, disse ter aprendido com Edson a ser prestativo com fãs e admiradores. “Como Edson, é claro que [Pelé] cometeu seus erros, mas também acertou bastante. Fora de campo foi altruísta ajudando os boleiros de seu tempo que necessitavam de ajuda”, opina. O narrador também confessou admiração pelo repertório de jogadas de Pelé dentro de campo. 

Um fato curioso sobre a Copa de 1986, no México, é que Pelé, aposentado e aos 45 anos, cogitou voltar à seleção nacional. O treinador Telê Santana negou o pedido, o qual Pelé reconheceu, posteriormente, ter sido potencialmente “uma das maiores besteiras que fizesse” em sua vida profissional.

“Hoje não trabalhamos porque vamos ver Pelé”. Essa foto icônica, tirada na Copa de 1970, no México, retrata o tamanho de Pelé para o mundo. [Foto: Repodução/Twitter @AlexDeLlano]

E, de fato, o brilho da bola que a bota do brasileiro mais famoso do mundo chutava extrapola fronteiras. Krish Adwani, 19, é nascido em Iquique, Chile, mas tem suas raízes em Mumbai, Índia, e vive em São Paulo, onde estuda administração. Ele conta ao Arquibancada que, quando chegou ao Brasil, ainda criança logo incorporou a cultura do futebol para si, escolhendo o Santos Futebol Clube para torcer por causa de Neymar, mas também de Pelé: “O Pelé contribuiu para que o Santos se tornasse um dos maiores times do mundo e ainda parou uma guerra! Ele foi uma das pessoas que mais influenciou os jogadores nacionais e internacionais a jogarem futebol. Todo mundo conhece ele”.

Alberto Parra, 49, por sua vez, é nascido em Maracaibo, Venezuela, e mora no Brasil há cerca de 13 anos. Embora não tenha visto Pelé jogar ao vivo, ele relata que histórias sobre o Rei chegavam com constância ao seu país: “Era um cara famoso demais. Chegava a imagem dele através de comerciais na TV, por meio da publicidade. Ele sempre estava alegre, bem humorado”. Alberto disse ter visto Pelé jogar por meio de filmes, documentários e relatos de jogos, mas, acima disso, exalta o fato de que Edson transcendeu o futebol: “Além do melhor jogador de futebol da história, ele foi uma grande pessoa e projetou uma imagem muito positiva globalmente, para além do futebol”. 

Reverências. O talento e a grandeza de Pelé são reconhecidos por diferentes figuras ligadas ao futebol. [Arte: Ricardo Thomé]

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De Edson para Pelé. Algumas frases de Edson Arantes do Nascimento ao longo de sua vida, com destaque para aquela em que homenageia Don Diego Armando Maradona. O vídeo acima é só uma mostra do que ambos estão fazendo nas arenas do Olimpo desde que se reencontraram, em dezembro passado. [Arte: Ricardo Thomé]

Edson: Cidadão Brasileiro

Para além das quatro linhas, Pelé participou de muitas outras esferas socioculturais brasileiras. Lançou músicas, estrelou em filmes, inspirou a criação de revistas em quadrinhos, foi garoto propaganda várias vezes e ainda investiu em saúde. Era quase inevitável, também, que uma figura tão relevante quanto a de Pelé evitasse se misturar a assuntos políticos, por mais que o Rei tenha evitado alguns temas ao longo dos anos.

[Foto: Reprodução/Twitter @MomentsofBrazi1]

Os jornais da época destacavam que Jânio queria transformar Pelé em “tesouro nacional”, mas a lei não permite que uma pessoa seja transformada em “tesouro nacional”

Grande parte das críticas a ele direcionadas referem-se à época da ditadura militar brasileira. O Governo Brasileiro utilizou-se de figuras que pudessem despertar  o patriotismo, como o esporte (em especial, o título mundial de 1970), a fim de obter apoio popular para a manutenção da estrutura ditatorial. Pelé nunca dirigiu um discurso direto à ditadura, o que, para muitos, sugeria um apoio velado. Porém, no início da década de 1980, o Rei fez singelos posicionamentos a favor do restabelecimento da democracia. Em 1984, ele foi capa da revista Placar, usando uma camiseta em defesa das Diretas Já.

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Mais diretamente relacionado à área política, Pelé foi ministro dos Esportes em 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso. No cargo até o ano de 1998, o maior feito de sua gestão foi sancionar a Lei Pelé — maneira como ficou conhecida a Lei Nº 9.615, de 24 de março de 1998. A medida gerou avanços na profissionalização do esporte no país.

O fim de um reinado

29 de dezembro de 2022. Há 100 dias, o mundo lamentava ao observar o trono do futebol ficar vazio, sem seu rei. A coroa, responsável por ornar a cabeça de quem tantas vezes fez os olhos brasileiros se encherem de brilho e os pulmões inflarem à expectativa dos gritos de gol estava, pela primeira vez em décadas, fora da posse de seu inigualável dono. Edson Arantes do Nascimento — ou como era mundialmente conhecido, Pelé — nos deixou, aos 82 anos.

O dia que sucedeu a partida de Pelé não poderia ser diferente: por todo o globo, homenagens à majestade perdida foram feitas por celebridades, por grandes jornais e, é claro, pelo povo — seus súditos, que não poderiam deixar de reverenciá-lo em morte tanto quanto o fizeram em vida.

O jornal Marca, um dos mais tradicionais no ramo esportivo da Espanha, estampando em sua capa o nome do Rei em letras garrafais, afirmou: “nunca antes quatro letras foram tão grandes”.

O nome Pelé ocupa seu merecido espaço. Capa do jornal espanhol Marca do dia 30 de dezembro [Foto: Reprodução/Arquivo Marca]

O The New York Times, um dos periódicos mais conceituados do mundo, reservou uma parte de sua primeira página para tecer elogios ao maior jogador da história — que inclusive jogou em um time da cidade, o New York Cosmos: “seu nome significa grandeza mesmo para aqueles que não o viram”.

Principal meio de comunicação de esportes argentinos, o Olé, deixou até o espanhol de lado e estampou, em português mesmo, “tristeza não tem fim”. O país que tem como ídolo maior Maradona destacou o atleta brasileiro como o único a levantar três vezes a taça da Copa do Mundo e afirmou: “fará falta para sempre”.

Ainda que a Argentina tenha seus ídolos, a majestade de Pelé é reconhecida. Capa do jornal argentino Olé do dia 30 de dezembro [Foto: Reprodução/Arquivo Olé]

Também da Espanha, o jornal As evidenciou aqueles que foram as ferramentas do Rei por tantas décadas: seus pés. A fotografia “Los Pies de Pelé”, de Annie Leibovitz, ocupou a maior parte da capa, seguida pelas palavras “O Rei” — apelido que tornou-se tão grande quanto o próprio nome “Pelé”.

Os pés que tantos milagres fizeram. Capa do jornal espanhol As do dia 30 de dezembro [Foto: Reprodução/Arquivo Olé]

E não só as mídias entoaram palavras de despedida ao majestoso Pelé. Ainda celebridades brasileiras e do resto do mundo — sobretudo jogadores de futebol, que em tanto se inspiram na trajetória e no talento de Edson Arantes do Nascimento — fizeram suas últimas homenagens.

É o caso de Neymar Jr., Menino da Vila e herdeiro da camisa 10 da seleção brasileira. O grande craque canarinho da atualidade, que igualou o número de gols do Rei com a equipe verde e amarela na última Copa do Mundo, escreveu: “eu diria que antes de Pelé, o futebol era apenas um esporte. Pelé mudou tudo”.

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Rodrygo, revelação santista que usou recentemente a 10 brasileira em um amistoso contra o Marrocos, também homenageou Pelé, a quem conhecia desde a infância. Em um jogo com sua equipe contra o CP Cacereño pela Copa do Rei — que, apesar do nome, não é relacionada ao Rei do Futebol —, o Rayo marcou o gol da classificação do clube merengue e comemorou socando o ar — tal qual Pelé fazia a cada rede balançada.

Outra integrante do palácio real futebolístico, Marta, a Rainha, fez um vídeo agradecendo ao Rei por mostrar a potência do futebol e por abençoar a todos com a arte que ele realizava com seus pés. 

Internacionalmente, os maiores nomes do esporte mundial manifestaram suas condolências. O argentino Lionel Messi, atual campeão do mundo e detentor da 10 de sua seleção, publicou uma foto ao lado de Pelé e desejou: “descanse em paz”. Já o astro português Cristiano Ronaldo, que recebeu das mãos do Rei a primeira das muitas Bolas de Ouro que receberia em sua carreira, não poupou palavras de carinho: “um mero ‘adeus’ ao eterno Rei Pelé nunca será suficiente para expressar a dor que abraça neste momento todo o mundo do futebol”.

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Um rei nunca perde a majestade

“Nenhum jogador brasileiro, nenhum, cresceu sem pensar em você, sem ouvir suas histórias, seu legado. Cada camisa amarela representa muito de você, cada clube quando contrata um brasileiro espera um pouco do Pelé. Espero poder passar um pouco da sua magia pra frente”

Gabriel Martinelli, atacante do Arsenal e da seleção brasileira, em suas redes sociais

Para que o sonho de Martinelli e de grande parte dos brasileiros se torne realidade, o Arquibancada indagou Jota Júnior sobre a importância de se manter a memória de Pelé viva e do papel do jornalista nesse processo. “Nós, jornalistas, temos a grande responsabilidade profissional de preservar a história desse grande ídolo. E se não tivermos, o mundo se encarregará de manter sempre vivas as suas façanhas”, disse. O locutor ainda lembrou o fato de que, independentemente da consciência coletiva no que diz respeito à fragilidade de sua saúde, o impacto foi grande — o que é corroborado por Giuseppe: “a notícia [do falecimento de Pelé] nos deixou um vazio. Perdemos um campeão que dificilmente encontrará um herdeiro entre os jogadores modernos”.

Desde que o Rei do Futebol se foi, uma série de manifestações mundo afora ocorreu em sua homenagem. Grandes atletas de outros esportes, como o ex-tenista Roger Federer, e jogadores de futebol, como o meio-campista brasileiro Bruno Guimarães, o atacante brasileiro Antony e o meio-campista inglês Kiernan Dewsbury-Hall prestaram suas homenagens. A Premier League anunciou que todos os jogos do Campeonato Inglês da rodada da semana do falecimento de Pelé teriam um minuto de aplausos antes de começarem e que os árbitros usariam braçadeiras pretas. Um deles, inclusive, homenageou Pelé com o uso de chuteiras personalizadas com o nome do Rei. O Liverpool prestou homenagem em sua partida e ofereceu uma coroa de flores a Pelé. O histórico Estádio de Wembley ficou pintado em verde-amarelo

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E assim foi, no Brasil e no mundo. Aqui, houve homenagens, inclusive, na tradicional corrida de São Silvestre, que ocorre toda virada de ano na capital paulista. A Federação Paulista de Futebol anunciou que a taça da edição de 2023 do Campeonato Paulista será especial e terá uma coroa em homenagem ao Rei Pelé. Na estreia do Santos no Paulistão, todos os jogadores usaram uma numeração especial em homenagem ao Rei. Marcos Leonardo, inclusive, comemorou fazendo o famoso soco no ar ao marcar para o Peixe na primeira partida da equipe na temporada dentro da Vila Belmiro. Na Copa São Paulo de Futebol Júnior também houve homenagens a Edson Arantes do Nascimento nas partidas dos meninos da Vila

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A despedida final e a busca pela preservação da memória de Pelé

O velório do maior atleta do esporte mais popular do mundo durou cerca de 24 horas, entre os dias 2 e 3 de janeiro, e ocorreu no gramado da Vila Belmiro, casa do Santos. Simbolicamente, o evento teve início às 10h da segunda-feira (2), com a entrada de familiares e pessoas próximas, mas só às 10h10 o público geral — seus súditos — entrou para se despedir. A Prefeitura de Santos registrou mais de 230 mil pessoas que passaram pelo velório.

O sepultamento, por sua vez, ocorreu no dia 3, no Memorial Necrópole Ecumência, em Santos, para amigos e familiares. Antes disso, o caixão seguiu em cortejo pelas ruas da cidade, em caminho que passou, propositalmente, em frente à casa de sua mãe, Celeste (100), que é viva.

O caixão de Pelé foi carregado por figuras como seu filho, o ex-jogador Edinho, e Zé Roberto, ex-jogador do Santos e da seleção brasileira. [Fotos: Reprodução/Instagram @433 e @doentesporfutebol]

O velório do Rei gerou discussões a respeito das ausências e presenças. Enquanto figuras importantes como o presidente Lula, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, e o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, estiveram presentes, nomes como Neymar Jr. e atletas campeões do mundo pelo Brasil em 2002 não estiveram presentes. 

O jogador do Paris Saint-Germain enviou uma coroa de flores e alegou não ter sido liberado por sua equipe para comparecer presencialmente, o que foi negado pelo clube. Cafu, capitão da seleção na conquista do penta, gravou um vídeo justificando sua ausência. João Paulo, goleiro e capitão do Santos, comentou esses casos, ressaltando a importância de Pelé e de se prestar homenagens a uma figura como a dele. 

Homenagem final do núcleo Arquibancada

Toda vez que nasce um santista, nasce junto um súdito do Rei Pelé. Eu não me recordo de quando me apaixonei pelo clube e nem de quando ouvi o nome “Pelé” pela primeira vez. Sempre estiveram ali, juntos, indissociáveis, assim como na história. E, apesar de sequer saber quando meu amor começou, fico feliz e honrada de ter a certeza de que algo que vive no meu coração também viveu no do maior atleta de todos os tempos: a devoção pela camisa santista. Como é bom ser torcedora do clube que teve seu passado só de glórias construído pelas mãos do próprio Rei — de uma lenda que teve o orgulho de nascer, viver e morrer no Santos Futebol Clube. Ainda que eu não saiba como o amor pelo futebol e, acima de tudo, pelo Santos, começou, posso afirmar que, como Pelé, ele é imortal. Obrigada, Rei, por tudo.

Ingrid Gonzaga

Não existem motivos para o amor. Ele é o elo que nos une, ainda que direcionado a diferentes coisas. Há 100 dias, um dos nossos nos deixou. Veio o vazio. O que fazer com aquela sensação estranha de que a Terra passou a girar diferente? A resposta talvez seja: continuar amando, por ele. Edson Arantes do Nascimento soube amar e nos ensinou a amá-lo. Ainda que ele não esteja mais conosco fisicamente, seu legado é eterno. Ele foi, é e sempre será parte indissociável da paixão santista. Único e infinito. Dizer “obrigada” parece pouco, ainda que acompanhando de todos os advérbios de intensidade existentes. Enquanto não inventam palavras grandiosas o suficiente para consagrá-lo, espero que continuar amando o Santos e o legado do Rei seja a melhor das homenagens. 

Maria Trombini

Cem dias sem o dez que é um só, ainda que seja muitos: uma história de onisciência

Pelé marcou mil gols, milhões de pessoas e uma infinidade de gerações. Pelé foi nota dez. Pelé foi O dez. E Pelé sabia isso.

Pelé não foi um rei. Pelé foi “O Rei”, como o descrevem pessoas e periódicos por todo o planeta — com o nosso artigo mesmo. E Pelé sabia disso.

Edson peleou, para Pelé imperar. Errou, para que Pelé pudesse reinar. E Edson sabia disso.

Pelé arrepiou a pele de seu reino. Seus súditos, ele emocionou, enlevou e, a eles, seu legado deixou. Consigo, levou apenas Edson, para que Edson pudesse descansar. E ambos sabem disso.

Pelé fez encher as redes de bolas, os olhos de lágrimas e o coração de sangue. Pelé fez história, está na história e é a história. E eu tenho certeza de que Ela também sabe disso.

Pelé é único e será eterno. E — olha que bom! — todos nós sabemos disso. Obrigado, Rei!

Ricardo Thomé

O Arquibancada e a Jornalismo Júnior também prestam suas condolências a Roberto Dinamite, ídolo máximo do Vasco da Gama, que faleceu no dia 8 de janeiro, aos 68 anos. 

A foto “Pelé com Auréola”, tirada por Domício Pinheiro e presente no livro “Pelé 70” é tão icônica quanto redundante.  [Foto: Reprodução/Twitter @museudofutebol]

2 comentários em “Pelé, O Rei.”

  1. Estou encantado com o profissionalismo destes “juniores”!

    Um texto completo, recheado de história, rico em fatos, depoimentos e curiosidades , que se encerra com depoimentos emocionados e emocionantes de seus três jovens autores.

    Trabalho de qualidade , para ser divulgado e publicado.

    Parabéns ! Parabéns !

  2. Teresa , obra do meu menino.
    O texto é gigante e não tenho a pretensão de que Você o leia na íntegra.
    Mas , como Santista que é, alguns pontos podem despertar sua curiosidade
    Recomendo o depoimento final dos três jovens jornalistas que assinam a matéria.
    Um beijo

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