Este filme faz parte da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Um momento, uma fração de segundo, uma decisão que na hora parecia insignificante, mas de repente pode mudar toda a sua vida. Inúmeros exemplos no cinema tratam dessa problemática, e com direção dos irmãos Dardenne, chega A Garota Desconhecida (La Fille Inconnue, 2016) em uma trama policial que se mistura a crítica social, elemento frequente usado pelos diretores belgas.
Jenny (Adèle Haenel) é uma jovem médica bastante atenciosa a seus pacientes. Porém, no fim do expediente de um dia qualquer, alguém toca a campainha de seu consultório e ela decide não atender. No dia seguinte, ela descobre que uma mulher foi encontrada morta perto do local e através das câmeras, descobre-se que se tratava da pessoa que tocou a campainha e não foi atendida. Tomada pela culpa, Jenny começa uma jornada de descobrir quem era a garota, com o intuito inocente de apenas saber seu nome e poder avisar seus parentes. Mas ela acaba se envolvendo muito mais do que isso.
O desenvolvimento do mistério e as pistas que Jenny vai descobrindo são bem construídos, prendendo o espectador do começo ao fim, porém sem deixa-lo pilhado ou incomodado. Mas não se trata apenas de uma história de detetive. As camadas que constroem a narrativa vão além, trazendo para a tela questões importantes como a desigualdade social e de gênero.
As diferenças entre Jenny e a garota morta são gritantes: a médica branca, com uma profissão respeitada, com carro novo e iPhone se contrasta com a negra imigrante, prostituta e pobre. Mas as duas ainda são mulheres e como mulheres dividem o peso de terem nascido assim, ambas devem enfrentar a indiferença e o descaso dos homens que as cercam.