Este filme faz parte da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Filmar seu primeiro longa e conseguir se destacar em um dos festivais mais importantes do cinema: essa façanha foi realizada pelo colombiano Carlos del Castillo através de sua estreia na direção com La Ciénaga – Entre el mar y la tierra (2016), que venceu o prêmio do público de Melhor Filme no Festival de Sundance deste ano. Mas tal feito também deve ser creditado a Manolo Cruz, roteirista, produtor e ator que interpreta o protagonista Alberto, um jovem de 28 anos preso a uma cama devido a uma doença muscular degenerativa.
O longa tem como cenário um vilarejo de barracos e cabanas em um pântano vizinho ao Atlântico, onde os moradores se locomovem de barcos. A paisagem também contrasta o quão próximo está Alberto do mar que sonha conhecer, mas que é impossível que ele o realize, pois está preso ao aparelho que o mantém vivo. Ele recebe os cuidados impecáveis de sua mãe, Rosa (Vicky Hernandez), enquanto passa os dias a pintar e observar o mundo a sua volta com um espelho que segura pela boca. Mas o ponto alto de sua rotina está em esperar a visita da bela Giselle (Viviana Serna), sua amiga de infância e pela qual é apaixonado.
Essa paixão é o que dá ritmo ao filme. A bondade da moça não é vista com bons olhos por Rosa, que quer proteger (com razão) o filho de se machucar com um amor que não poderá ser correspondido. É aí também que entram os conflitos do passado de Rosa, que teve atritos com a mãe de Giselle no passado.
Todo o melodrama dá lugar a uma abordagem mais intensa apenas no clímax, deixando toda a emoção da produção na responsabilidade dos três atores principais. Viviana é simpática e doce em seu papel e Manolo Cruz está impecável como um personagem com deficiência física, se entregando literalmente de corpo e alma ao papel. Porém quem rouba a cena é Vicky Hernandez, que interpretando uma mãe superprotetora e preocupada com a saúde do filho entrega uma atuação impressionante, digna de uma personagem complexa e cheia de nuances como é Rosa.
Fugindo das questões existenciais de produções com a temática parecida, La Ciénaga – Entre el mar y la tierra se preocupa mais em contar uma história que mostre a complexidade da existência de Alberto e de sua relação com as pessoas e o ambiente em volta.
por Mel Pinheiro
mel.pinheiro.silva@gmail.com