Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.
É verdade que é possível encontrar beleza em quase todo lugar, dependendo-se de como se procura. Apesar de ser mais óbvio encontrá-la na aventura e no destemido, a rotina e o cotidiano também têm a sua parcela de maravilha. Do outro lado do espectro, porém, fica o que encontramos na maior parte do filme Dias (Rizi, 2019): a monotonia e o cansaço.
Seguimos o dia de Kang (Lee Kang-Sheng). Os primeiros cinco minutos do filme mostram o homem olhando pela janela, vendo as árvores balançarem. A câmera parada combina com a quietude da cena, que não tem diálogo nem música – assim como no resto do filme. Kang aparenta sofrer de algum tipo de dor crônica, e passa o dia buscando algum alívio com alongamentos e massagens.
Intercalado com a rotina de Kang, a audiência acompanha Non (Anong Houngheuangsy), que prepara pratos tradicionais de sua aldeia natal. Ele lava e cozinha os alimentos e, quando a noite chega, tenta vendê-los, em geral com pouco sucesso.
O filme cumpre um papel quase documental, evidenciando, mesmo com a ausência de qualquer tipo de diálogo, a dificuldade que tanto Kang quanto Non sofrem no dia a dia: o primeiro com suas dores e o segundo tentando conseguir dinheiro. O sofrimento em comum dos dois, porém, é a solidão.
A segunda ocupação do jovem Non fica clara quando os dois personagens se encontram e passam a noite juntos. A cena é relaxante e íntima de início, mas prolonga-se por tanto tempo que o telespectador começa a sentir certo desconforto. Parece que não deveríamos estar presenciando o momento, já que ele só diz respeito à Kang e Non.
A falta de ação, trilha sonora ou diálogo no filme deixa o telespectador propenso a devaneios, não se tratando de um filme engajante. Simpatizamos com os personagens ao vermos suas rotinas pacatas e desprovidas de glamour, e o filme de fato parece um fragmento de realidade: um dia que encontra alívio durante a noite, apenas para retornar para a mesmice no dia seguinte. A película, porém, falha ao não contar uma história interessante e não prender o telespectador: as cenas são longas demais e com pouco ou nenhum movimento.
Contudo, Dias mostra a intimidade possível no silêncio, mesmo entre desconhecidos, e o refúgio de uma vida solitária. Com Non, Kang aparenta relaxar pela primeira vez em muito tempo. Já Non encontra mais significado no rápido encontro do que esperava.
Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Homegreen Films