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5 motivos para não começar uma revolução na sala de cinema

Mariana Brecht Depois de um dia cansativo, você resolve ir ao cinema. Após enfrentar a usual fila na bilheteria, compra um saquinho da boa e velha pipoca: “seis reais”, você pensa, “os preços estão cada vez mais abusivos!”. Depois disso, você entra na sala: “por que esse ar condicionado está tão frio? Eles não percebem …

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Mariana Brecht

Depois de um dia cansativo, você resolve ir ao cinema. Após enfrentar a usual fila na bilheteria, compra um saquinho da boa e velha pipoca: “seis reais”, você pensa, “os preços estão cada vez mais abusivos!”. Depois disso, você entra na sala: “por que esse ar condicionado está tão frio? Eles não percebem que o meio ambiente sofre com isso?!”. As luzes se apagam. Propagandas e propagandas: “ah, essa sociedade consumista e pequeno-burguesa me cansa!”.

Então, finalmente, o filme. Aí você para pra pensar. “Não é revoltante que os homens tenham tamanha sede de poder que dediquem suas vidas a um anel ou até mesmo a uma pedra (uma pedra!)?! Ainda tem aqueles tantos outros que acabam tentados pelo lado negro, ou que deixam o próprio irmão ser pisoteado por gnus por pura ambição!

É inadmissível também que o preconceito social chegue a tal ponto que separe os botes salva-vidas por classes; que a imagem feminina seja tão explorada: cheerleadres, bond girls, vampiras lésbicas!

Nada mais é como antigamente. Não vivemos mais em um mundo de arco-íris e tijolos amarelos, de homens tão puros de coração que poderiam beber do cálice sagrado. As coisas não podem ficar como estão. O mundo precisa de heróis.

Então, por que não começar uma revolução?! E por que não agora?! “Cinéfilos do mundo, uni-vos!”

“Calma, calma”, sussurra sua consciência, indignada. Talvez não seja uma boa ideia. Antes que você tome qualquer atitude, pense bem. Devem existir um, dois, quem sabe até, hm cinco motivos relevantes pra você não fazer isso.

1. O barulho. Se você já viu qualquer movimento sindical sabe que esta é uma premissa: não se faz uma boa revolução sem um megafone. Mesmo que você sempre carregue o seu com você, pode não ser uma boa ideia. Veja bem, um comentário em tom de voz normal tem cerca de 50 decibéis e já arranca vários “shhh” dos outros espectadores. Ampliada, sua voz teria cerca de 100 decibéis. Com certeza atrairia os lanterninhas e a antipatia das pessoas a sua volta. Você quer adeptos, não inimigos.

2. A legião de adeptos. Pode acontecer de você ter essa epifania revoltosa em uma sessão vespertina de algum filme iraniano de baixo orçamento com três horas de duração e legendas em francês. Com azar, você pode acordar os poucos espectadores e deixa-los realmente furiosos. Com sorte, você pode convencer um crítico pernóstico com o seu discurso, mas o que é um líder com apenas um seguidor?! Nesse caso, pode dizer adeus às faixas, às passeatas e à tão sonhada revolução.

3. A causa. Você realmente esperava começar uma revolução alegando que o mundo está perdido porque o Mufaza caiu de um penhasco?! Ok, aqui vai uma dica: líderes revolucionários precisam de uma causa que afete a vida em sociedade. A vida real em sociedade. Pense nisso antes de se preocupar se as pessoas vão ou não segui-lo. Uso de peles de animais, exploração de trabalhadores no leste asiático, PM no campus. Uma causa concreta, for god’s sake!

4. Os reacionários. Vamos considerar a remota possibilidade de que todas as dificuldades citadas tenham sido superadas. Você não pode esquecer que nem todos serão partidários da sua causa. Imagine-se como segurança de um shopping center em uma pacata noite de sexta-feira em que uma multidão de pessoas sai de uma sala no meio da estreia do novo filme do Bruce Willis segurando faixas, megafones e acreditando serem perfeitas máquinas mortíferas caso alguém se oponha à sua revolução. Seguranças são grandes. Eu não ousaria perturbar qualquer um deles.

5. O desfecho. Todos os outros na sala de cinema se identificaram com os seus ideais, cada um chamou mais dez pessoas, que chamaram mais dez e voilá, você, tem sua revolução. Tudo parece perfeito como nos filmes. As galinhas não viraram torta e V explodiu o Parlamento. Você se lembra, porém, de alguns nomes: Che, Trotsky, Conselheiro. A vida real de repente acena para você como se falasse “ei, lembra de mim?” e nem tudo parece mais tão simples. Nessa hora você olha para trás e engole seco. Uma verdadeira multidão depende de você. É um beco sem saída. Correr para se livrar do destino de mártir não é uma opção, continuar e virar um deles, muito menos. Então você volta a ouvir aquele sussurro dizendo para pensar uma, duas, quem sabe hm, cinco vezes antes de começar uma revolução na sala de cinema…

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