por Júlia Pellizon
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Você consegue imaginar um filme trash que consegue te convencer da anormalidade dos acontecimentos até os 15 minutos finais? Bom, se não conhecia, agora conhece: A Mosca (The Fly, 1986) está entre as produções cinematográficas que guarda toda a sua bizarrice para as últimas cenas. Curioso ou não, a obra é uma das trash clássicas que merecem pelo menos uma assistidinha esporádica.
Estrelado por Jeff Goldblum e Gleena Davis, o enredo é bastante simples, se comparado a outros do mesmo estilo. Um cientista chamado Seth Brundle cria cápsulas de teletransporte e ao testá-las consigo, algo dá errado e o seu código genético se funde ao de uma mosca. A partir de então, sua aparência humana diminui vertiginosamente até ocorrer a transformação completa de ser humano para uma mosca gigante.
Paralelamente à história principal, o cientista trava um romance com uma jornalista que ele conhece em uma festa. A moça, em busca de fatos únicos para a sua reportagem, primeiramente usa o físico como fonte para uma biografia do criador do teletransporte. Porém, conforme as experiências vão aumentando e, consequentemente, o envolvimento romântico entre eles, Veronica Quaife deixa o lado de investigação jonalística de lado para viver uma paixão com Seth.
É inegável o poder que a construção desse enredo tem em relação à verossimilhança. Apesar de você ler este texto e pensar: “ é nunca que um homem viraria uma mosca”, mas o diretor fez um trabalho fantástico ao criar um pseudoambiente no qual isso fosse possível. Verdade é que David Cronenberg praticamente criou um subgênero de terror, o body horror, com mudanças físicas drásticas e doenças infecciosas. Como um bom terror dos anos 80, não há efeitos especiais perfeitos, mas até que um gelo seco aqui, um raio torto ali e até a metamorfose do homem-mosca enganam bem.
Classificado como terror e ficção científica, A Mosca não apresenta o potencial trash até os minutos finais. Então, toda aquela verdade consegue ser destruída e uma sucessão de gargalhadas podem vir à tona pela bizarrice das cenas. Acredite, quando você pensa que acabou, o físico funde seu DNA ao da cápsula, será que isso é possível, e ele se torna um homem-mosca-cápsula.
Outro detalhe surpreendente no filme é a quantidade de vezes que Veronica chora. A moça fica em um estado tão deplorável pelo amado estar se tornando em um inseto gigante que chora a cada três minutos. Quando descobre que está grávida de Seth? Dá-lhe mais choradeira na tela. E quando ela o vê soltando enzimas nos carboidratos para digerí-los, mais propriamente dizendo, vomitando em rosquinhas açucaradas? Claro que tem que chorar mais um pouco. Uma Maria Madalena arrependida que nem em tragédias dramáticas se consegue encontrar: mais uma estrelinha surreal, ou melhor, a cereja do bolo.
Portanto, a dica para aquele domingo tedioso e para baixo é: assista A Mosca acompanhado por um balde de pipoca e minhoquinhas doces. Aliás, junte os amigos e desfrute desse momento único na vida, no qual você realmente acredita que um homem pode virar uma mosca. Da mesma maneira que acredita em vampiros, X-Men e bruxos. E ainda leva um bônus: os críticos até chamam o filme de cult. Bom, só que desta vez, o Cinéfilos já avisa: o seu castelinho de verdade irá desmoronar em 15 minutos, que terminarão como os mais bizarramente engraçados e aleatórios da sua vida.