por Maria Beatriz Barros
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Durante o século XX, a Walt Disney Pictures consagrou seu nome no mercado cinematográfico com a produção de animações baseadas em contos de fadas. Seguindo um caminho similar, sua afiliada ABC criou há poucos anos o seriado Once Upon a Time, no qual as clássicas histórias são recontadas sob outra perspectiva. O sucesso de audiência da série inspirou as grandes produtoras de Hollywood, principalmente a Disney, a também dar uma nova versão aos contos maravilhosos tão populares no passado, criando roteiros como Malévola (Maleficent, 2014), Espelho, Espelho Meu (Mirror Mirror, 2012) e o musical Caminhos da Floresta (Into The Woods, 2014).
Donzela Nem Tão Indefesa
Era uma vez uma menina de cabelos negros e pele branca como a neve, filha de um rei e de uma rainha. Seu nome era Branca de Neve. Sua mãe veio a óbito quando ela ainda era muito pequena, e o pai casou-se novamente, com uma bruxa má, que invejava a beleza da enteada. Quando aquele veio a óbito, a então rainha mandou um caçador liquidar a princesa. Contudo, o homem tem piedade de Branca, e a permite fugir para a floresta. Lá, ela se refugia na casa de sete anões, homens. Quando sua madrasta descobre que a inimiga não estava morta, planeja outra arapuca para acabar de vez com a princesa, que acaba envenenada por uma maçã. No fim, um príncipe encantado, homem, aparece para salvá-la com um beijo de amor verdadeiro.
Essa é a história popularizada da Branca de Neve, graças à animação da Disney lançada em 1937, Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and The Seven Dwarfs), a primeira do gênero. Apesar da protagonista ser uma mulher, os heróis do filme são os homens que a ajudam, pois sem eles não haveria transcurso temporal.
O cenário muda um pouco nas novas adaptações do conto dos Irmãos Grimm, que por si já é uma releitura de histórias orais. Tanto em Espelho, Espelho Meu (2012, Mirror Mirror), quanto em Branca de Neve e o Caçador (2012, Snow White and the Huntsman), a protagonista não é nem um pouco indefesa. No primeiro, inclusive, quem perde a sanidade é o príncipe encantando, e a Branca de Neve que o ajuda a se recuperar, enquanto luta contra madrasta e seus mercenários e tenta desvendar os mistérios em torno da morte de seu pai.
Já na segunda releitura, a princesa lidera uma rebelião para tirar sua madrasta do trono, com a ajuda do caçador. Por trás do enredo de ambos os filmes, é possível identificar temas não encantados, contemporâneos, como o empoderamento feminino, apesar das diferentes perspectivas quanto ao conto da Branca de Neve.
Bruxa Madrinha
O décimo sexto longa de animação da Walt Disney Pictures contemplou um conto de Charles Perrault, em A Bela Adormecida (1959, Sleeping Beauty). No filme, a recém nascida princesa Aurora é amaldiçoada pela bruxa Malévola. Como vingança por não ter sido convidada para o batizado da menina, ela a condena a morrer furando o dedo em uma roca no seu aniversário de 16 anos. As fadas boas que lá estavam fazem de tudo para atenuar a maldição, substituindo a morte por um sono profundo, do qual Aurora só poderá acordar se receber um beijo de amor verdadeiro. A princesa é afastada do castelo e criada pelas três fadas, suas “tias”, sem saber de sua origem ou destino. Porém, em seu décimo-sexto aniversário, a menina, apaixonada pelo príncipe Philip, volta para o castelo de seus pais. Lá, ela fura o dedo em uma roca, e concretiza a maldição. Malévola sequestra Philip para que ele não possa acordar Aurora, mas com a ajuda das fadas boas, ele escapa e beija a princesa, que acorda. Os dois vivem, então, felizes para sempre.
Já o filme Malévola (Maleficent, 2014), também produzido pela Disney, nos traz outra versão dos fatos, sob a perspectiva da bruxa má. De início, vemos que a antagonista não é bem uma bruxa, mas sim uma fada que perdeu as asas, graças ao pai de Aurora, o rei Stefan. A maldição contra a princesa foi retaliação a tudo que ela sofreu. Ela vigia todo o desenvolvimento da menina a quem projetou sua vingança, e acaba criando um laço com ela.
Já com quase 16 anos, Aurora e Malévola passam a de fato conviver, e a primeira acredita que a bruxa má seja sua fada madrinha, tamanho era o entendimento das duas. Como no conto de Perrault, a princesa se apaixona por Philip, mas ele de encantado não tem muito. Na nova versão da história também nos é apresentado um mundo novo, o Brejo das Fadas, onde os seres mágicos habitam.
Era a Mesma Vez
A versão contemporânea de contos de fadas que mais manteve semelhanças com a prévia animação da Disney foi Cinderela. O panorama geral de ambos os filmes é de uma menina órfã, maltratada pela madrasta má e suas duas filhas. Ao receberem o convite para um baile real, onde o príncipe procurará uma noiva, as vilãs fazem de tudo para impedir Cinderela de comparecer a festa. No entanto, com a ajuda de sua fada madrinha, que cria com sua varinha de condão todas as condições para tal, inclusive um belo vestido azul, ela vai ao baile, mas com a premissa de voltar antes meia noite, quando o feitiço acabará.
Cinderela tem uma noite incrível, se apaixona pelo príncipe e é correspondida. Ao badalar da meia noite, porém, ela deixa o baile sem revelar sua identidade ao amado. Durante a fuga, ela perde um par de seu sapatinho de cristal, que posteriormente, guiará o príncipe até ela. Sua madrasta e meias-irmãs mais uma vez não medem esforços para que a jovem não experimente o tal sapato, e assim não tenha sua identidade revelada, e até o quebram. Mas Cinderela aparece com o outro par, o príncipe a reconhece e eles se casam e vivem felizes para sempre.
As diferenças entre os longas de 2015 e 1950 são detalhes. Por exemplo, na versão live-action, Cinderela conhece o príncipe antes do baile, em uma cavalgada, e naquele, a interação deles vai além de uma dança. Fora tais peculiaridades, o enredo permanece o mesmo clássico de sempre.
O conto de Perrault, desde antes da animação da Disney, exerce fascínio na imaginação popular. São muitos os filmes românticos que seguem a linha da paixão de um homem pela moça humilde. Por exemplo, o clássico Uma Linda Mulher (Pretty Woman, 1990), no qual Julia Roberts interpreta uma prostituta que conquista o amor do milionário Edward Lewis. Assim, é difícil uma nova perspectiva da história de Cinderela ser prestigiada, pois a original está enraizada.
Caminhos da Floresta
Uma floresta encantada onde vários personagens de contos de fadas habitam. Parece o filme perfeito para assistir em família, com os filhos. Bom, talvez as crianças fiquem um tanto quanto traumatizadas, ou até virem adultos sanguinários se assistirem ao novo musical nada infantil da Walt Disney Pictures, Caminhos da Floresta (Into The Woods, 2014).
No longa, as histórias de Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel e João e o Pé de Feijão são concomitantes. O elo que as liga é um casal, composto pelo irmão da Rapunzel e sua esposa, amaldiçoados por uma Bruxa (Meryl Streep) para não terem filhos. No intuito de reverter a maldição, eles devem conseguir uma série de artefatos correspondentes a cada um dos contos maravilhosos presentes na produção cinematográfica: a vaca branca de João, um sapato de Cinderela, o cabelo da Rapunzel e a capa de Chapeuzinho.
No entanto, os enredos retratados trazem elementos de suas versões originais, transmitidas oralmente na Europa há séculos. Para fazer caber o sapatinho de cristal em seus pés, as filhas da madrasta de Cinderela cortam seus dedos e calcanhares. Além disso, Chapeuzinho Vermelho e sua avó são devoradas pelo Lobo Mau, e cabe ao caçador abrir a barriga daquele para salvar avó e neta, o matando.
Outras versões live-action de animações clássicas da Disney estão sendo produzidas, como Peter Pan, que será lançado em Outubro de 2015. O filme, entitulado Pan contará também com uma releitura dos fatos, na qual Capitão Gancho será amigo de Peter e o vilão será o Barba Negra. Ainda, está sendo gravada uma nova versão de A Bela e a Fera, prevista para estrear em 2016. Os protagonistas serão interpretados por Emma Watson, a Hermione de Harry Potter, e Dan Stevens, como o príncipe amaldiçoado.