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Esta é a Sua Morte é bonito na embalagem, mas conteúdo deixa a desejar

Existem poucas coisas tão populares na mídia quanto a imagem do sofrimento dos outros, explorada de diferentes formas: tragédias naturais, familiares, guerras, doenças, miséria, enfermidade etc. Alguns acreditam que isso acontece por compaixão, mas, quando assistimos com frequência a imagens tão chocantes e continuamos perfeitamente capazes de desligar a tv/computador e seguirmos naturalmente com nossas …

Esta é a Sua Morte é bonito na embalagem, mas conteúdo deixa a desejar Leia mais »

Existem poucas coisas tão populares na mídia quanto a imagem do sofrimento dos outros, explorada de diferentes formas: tragédias naturais, familiares, guerras, doenças, miséria, enfermidade etc. Alguns acreditam que isso acontece por compaixão, mas, quando assistimos com frequência a imagens tão chocantes e continuamos perfeitamente capazes de desligar a tv/computador e seguirmos naturalmente com nossas vidas, é inegável que muito disso é fruto de uma curiosidade mórbida inerente a todos nós. Não é muito difícil perceber isso no dia a dia: se ocorre um acidente na estrada, por exemplo, rapidamente o cenário se enche de pessoas ao redor sem nenhuma justificativa além de “ver” o que aconteceu, mesmo sabendo que a visão provavelmente não será agradável.

Em Esta é a Sua Morte – O Show (This Is Your Death, 2017), o diretor Giancarlo Esposito ‒ conhecido por ter interpretado o personagem Gus Fring na série Breaking Bad (2008 – 2013) ‒ leva essa morbidez ao extremo. Adam (Josh Duhamel) é o apresentador de um famoso reality show no qual mulheres competem para decidir quem se casará com um milionário. Durante a transmissão ao vivo de um dos episódios, uma dessas mulheres reage à própria derrota assassinando outro dos participantes e depois se matando, o que, como era de esperar, aumenta consideravelmente a audiência. Após este ocorrido, os chefões da emissora encontram um jeito perverso de criar um novo programa, no qual quem participa é desafiado a suicidar-se em troca de um prêmio.

Apesar da premissa interessante e de uma cena inicial bem realizada, Esta é a Sua Morte aguenta pouco até que comece a tropeçar em suas próprias incoerências, e não melhora daí para a frente. Seu primeiro erro é evoluir rápido demais de uma situação bastante plausível para outra completamente absurda, sem a sensibilidade necessária para convencer o espectador e fazê-lo embarcar na história. O roteiro ‒ escrito por Noah Pink e Kenny Yakkel ‒ por vezes busca toques de verossimilhança encaixando no diálogo algumas explicações jurídicas, mas estas, expostas de modo raso, entram por um ouvido e saem pelo outro. Alguns atores se esforçam ‒ como Josh Duhamel e Caitilin FitzGerald, que faz uma das produtoras do novo reality ‒, mas o material com o qual trabalham é tão fraco que o resultado continua medíocre.

Enquanto a maioria dos personagens oscila entre decisões maquiavélicas e momentos de humanidade duvidosa, o próprio Giancarlo Esposito interpreta Mason,  um senhor que trabalha como faxineiro e luta para enfrentar as dificuldades financeiras de sua família. Com ele, a projeção perde ainda mais pontos. A personagem é um clichê bem conhecido de quem está acostumado com histórias de superação: o homem humilde que não se corrompe pelas tentações. A certa altura, o enredo em volta dele assume um tom tão moralista que soa quase como um filme religioso, definindo claramente o que é “certo” ou “errado” e o que cada um precisa fazer para alcançar a redenção.

O debate levantado acerca da cultura nociva transmitida pela televisão é bastante pertinente, mas nem com isso a produção se destaca, já que no cinema e na própria TV este tema tem sido tratado de maneira bem mais eficiente. Exemplo disso é a série American Horror Story (2011 – atualmente), que em sua sexta temporada simulou um reality show em que as personagens eram levadas a uma casa mal assombrada para morrerem uma a uma; ou Black Mirror (2011 – atualmente), que em mais de um episódio teve como tópico a relação perversa entre mídia e sociedade ‒ e que provavelmente serviu de inspiração para Esposito, já que muitos aspectos de Esta é a Sua Morte, desde a temática até a trilha sonora, lembram bastante o seriado.

É curioso que, com tantos problemas, o filme ainda possua um ritmo bastante fluido, e sua 1h45 de duração passe quase despercebida, mantendo sempre presente o sentimento de “o que vai acontecer a seguir?”. Mesmo com direção, atuações e roteiro fracos, a trama absurda consegue ter fôlego o suficiente para prender a atenção de quem assiste, seja por curiosidade ou vergonha alheia. Não muito diferente de certos reality shows por aí.

Esta é a Sua Morte chega aos cinemas no dia 21 de setembro. Confira o trailer abaixo:

por Matheus Souza
souzamatheusmss@gmail.com

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