Por Maria Beatriz Barros
mabi.barros.s@gmail.com
Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui
Há uma tênue linha entre as boas histórias e os acontecimentos ordinários. Algo que por vezes possa passar desapercebido, mas combinado com os certos personagens e inserido em determinado contexto, explode em exoticidade e sutileza. Acontecimentos do acaso, encontros felizes que compõe os grandes enredos da história. Nada menos do que uma obra de arte pode ser considerado o filme que consiga juntas seis condições dessas, entrelaçá-las e confluí-las, o pungente e esperançoso The Paradise Suite (The Paradise Suite, 2015).
Um grupo de guerreiros e sobreviventes busca fazer justiça, da maneira como podem, na cidade de Amsterdã. A bela jovem búlgara, Jenya (Anjela Nedyalkova), deixa seu país natal na esperança de trabalhar como modelo em Amsterdã. No entanto, seu destino recaí nas mãos da máfia de tráfico humano e prostituição, encabeçada por Ivica (Boris Isakovic). Tal personagem vive uma vida dupla: por um lado, pai e marido amoroso, por outro, criminoso de guerra sérvio. No passado, ele acabou com a vida de Seka (Jasna Djuricic), uma enfermeira da Bósnia cujo único objetivo é trazer justiça a memória de seu filho.
O africano Yaya (Isaaka Sawadogo) também acaba envolvido nos negócios sujos de Ivica. Para ajudar a vizinha e seus filhos pequenos a não serem despejados, o imigrante aceita trabalhar na casa noturna do sérvio. A circunstancia junta os dois personagens mais explorados do filme, Yaya e Jenya, no The Paradise Suite, clube noturno de Ivica. Apesar da dura realidade dos imigrantes ilegais na Europa já ter sido muito retratada no universo cinematográfico — como no longa francês Samba (Samba, 2014) —, a excelente atuação de Sawadongo traz nova perspectiva a situação. O doce africano nos cativa, comove e desespera.
Os dois últimos personagem ficam a cargo dos suíços Lukas (Erik Adelöw), o pequeno pianista prodígio, e seu pai Stig (Magnus Krepper), um famoso maestro. É a clássica história do pobre garoto rico: sua mãe é cantora lírica, e passa boa parte do tempo em turnê, enquanto ele vive com o pai, que exige dele nada menos do que a perfeição no piano. Ainda, o menino sofre bullying de seus colegas de escola, e é obrigado, aos sete anos, lidar com toda essa pressão.
São usadas técnicas narrativas impecáveis para que, no final, as histórias tenham em algum ponto se tocado, e as personagens trocado influências, diretas e indiretas, que os mudaria para sempre (e a nós, espectadores, também).
Diversos dramas europeus contemporâneos são explorados na segunda produção do diretor holandês Joost van Ginkel. Ainda que os temas já tenham sido trabalhados anteriormente, a excelente atuação e direção muda a perspectiva com a qual encaramos tais problemas, os torna nossos, e semeia a vontade de combatê-los. O “paraíso” colocado no título foi, claramente, uma ironia bem feita.
The Paradise Suite (The Paradise Suite, 2015), é o escolhido da Holanda para concorrer uma vaga ao Oscar, um fortíssimo concorrente para o brasileiro Que Horas Ela Volta? (2015). O brilhante longa, que de paradisíaco não tem nada, estreou no Festival Internacional de Filmes de Toronto, neste ano, e esteve em cartaz na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Assista ao trailer: