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O extrato do absurdo

Um filme com atores regulares, personagens esquisitos, roteiro fraco, números musicais bizarros, efeitos especiais toscos. Mas, principalmente, um filme cuja história se baseia em tomates que atacam seres humanos para matá-los. Receita para se criar um fracasso cinematográfico? No caso de O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of The Killer Tomatoes. EUA. 1978.) a resposta …

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Um filme com atores regulares, personagens esquisitos, roteiro fraco, números musicais bizarros, efeitos especiais toscos. Mas, principalmente, um filme cuja história se baseia em tomates que atacam seres humanos para matá-los. Receita para se criar um fracasso cinematográfico? No caso de O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of The Killer Tomatoes. EUA. 1978.) a resposta é um enfático “Não”.

O filme possui, de fato, todas as características capazes de torná-lo ruim citadas acima, mas é em como ele lida com sua própria natureza de “filme B trash” que se esconde seu real propósito: rir de tudo que se passa na tela.

O enredo não poderia ser mais simples: tomates modificados em um projeto do Departamento de Agricultura do governo dos Estados Unidos começam a atacar e matar os cidadãos norte-americanos sem nenhum motivo aparente. Em meio a esse grande “desastre natural”, o filme foca-se em três personagens: Mason Dixon (David Miller), homem de passado desconhecido, chefe da investigação governamental sobre os ataques dos tomates; Lois Fairchild (Sharon Taylor), repórter da coluna social do Times (de qual Times não se sabe…) que é encarregada de cobrir o avanço desses ataques em cima de um relatório confidencial do senado, vazado para a imprensa; e Jim Richardson (George Wilson), secretário de imprensa do presidente americano , cujo trabalho é atenuar a ameaça dos tomates assassinos utilizando-se dos serviços de uma empresa de publicidade – a Mindmaker – como forma de ocultar a periculosidade das frutas vermelhas.

Essas personagens se cruzam durante quase todo o filme. Agora, se você espera cruzamentos complexos à la Quentin Tarantino, pode esquecer. Estruturação e coesão não são os pontos fortes desse roteiro. O espectador é capaz de acompanhar sem problema algum os acontecimentos, porém, em certos momentos tem-se a sensação de se estar assistindo a flashes de cenas diferentes, com uma fraca linha condutora que liga todos eles.

O script de Costa Dillon, J. Stephen Peace e John De Bello (que também dirige a produção) não dá excessiva importância à sequência dos fatos ou a causas e consequências, tornando-o mais raso e extremamente simples. Agora, isso não significa, necessariamente, algo ruim, pois a falta de força na estrutura do roteiro é compensada no ponto central desse filme: a comédia.

Não há uma cena que não possua, de alguma forma, algo cômico. Seja uma piada, um trocadilho, uma gag visual: a comédia está sempre presente de uma forma ou outra. Isso se justifica pela visão que o próprio filme tem de si mesmo. Ele assume ser uma produção de baixo orçamento, com uma história absurda e, absurdo por absurdo, resolve extrapolar.

O leque de piadas é enorme: letreiros, no meio das cenas, anunciando promoções em lojas de móveis; espaços disponíveis para se alugar nos créditos iniciais; um falso livro chamado Os Tomates da Ira, que teria inspirado o filme; imagens de San Diego com “New York” escrito sobre elas (motivo pelo qual não se sabe onde exatamente a história se passa ou para qual Times Lois Fairchild trabalha); agentes da inteligência norte-americana especializados em natação ou mergulho; japoneses dublados toscamente com uma grave voz americana; soldados que cantam e dançam antes de partirem para a guerra e uma péssima música chamada “Amor de Puberdade”, cantada por um jovem com irritante voz fina. É um estilo de humor baseado no bizarro e no nonsense que faz rir pelo inesperado e pelo ilógico, semelhante ao do grupo britânico Monthy Python. A graça dessas piadas incoerentes faz os espectadores deixarem de lado a necessidade de uma trama complexa e se entregarem ao tom esquisito do filme.

Decoração do JCT's Attack of the Killer Tomato Festival (Crédito: Edwin Photography)

Tom esse que, assim como ocorreu com Python, criou uma legião de fãs até os dias atuais. Os tomates assassinos tornaram-se espécie de símbolos pop. Um exemplo é o JCT’s Attack of the Killer Tomato Festival, um evento anual realizado pelo restaurante JCT. Kitchen and Bar, localizado em Atlanta, Georgia, nos Estados Unidos. Nele, chefs e mixólogos da região oeste dos Estados Unidos são convidados a preparar pratos e bebidas que levem tomates em suas receitas, como forma de celebrar o verão americano de meio de ano.

Cartaz da última edição do JCT’s Attack of the Killer Tomato Festival

O filme, além de combinar com a proposta desse festival, influencia nas criações gastronômicas: os pratos e drinks são bastante criativos e diferentes, aproveitando o teor nonsense de O ataque dos tomates assassinos. Além disso, esse ano, o festival, que ocorreu em 22 de julho, foi mais especial para os fãs dos tomates: o ator David Miller participou julgando as melhores invenções, algo que, para o JCT. Kitchen and Bar, influencia o grande público do festival – que conhece o filme, mas nunca chegou a vê-lo – a conhecer mais sobre esse clássico dos filmes trash.

Um filme com atores regulares, personagens esquisitos, roteiro fraco, números musicais bizarros, efeitos especiais toscos, cuja história se baseia em tomates assassinos? Sim. – Mas, além disso, um filme excentricamente engraçado, que deixa suas marcas até hoje. Dê uma chance a O Ataque dos Tomates Assassinos, mas não o leve tão a sério, pois nem ele mesmo se permite esse luxo. Porém, cuidado: logo em seu início, ele deixa claro que você pode rir agora, mas nunca se sabe o dia de amanhã…

Fotos: Divulgação

Daniel Morbi
daniel.morbi@gmail.com

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