por Carolina Ingizza
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Querida, Encolhi as Crianças (Honey, I Shrunk The Kids, 1989) é um filme da Disney que foi sucesso no começo dos anos 90. Repetido à exaustão na Sessão da Tarde, o longa marcou a infância de muitos. Com uma premissa simples, um pai cientista que reduz seus filhos ao tamanho de insetos, a obra de Joe Johnston surpreende positivamente.
A comédia gira ao redor de duas famílias vizinhas, os Szalinski e os Thompson, que não se dão muito bem. Enquanto os Szalinski estão lidando com o fato de a mãe ter brigado com o pai e ter ido passar uns dias na casa da avó, os Thompson estão se preparando para uma viagem de pesca. O filme logo evidencia a desatenção de Walter Szalinski com os filhos (Amy e Nick) e a falta de diálogo entre Russ Thompson e seu primogênito, Russ Jr.
O Sr. Szalinski é um cientista que está trabalhando na criação de uma máquina para encolher objetos; e, por uma série de fatores, seus filhos e os dois meninos Thompson são acidentalmente reduzidos a poucos milímetros. Sem conseguir enxergar as crianças, os dois casais de pais passam a buscar desesperadamente por seus filhos.
Os jovens, por sua vez, percebem-se encurralados no jardim, que, por conta da proporção, se parece com uma floresta. A caminhada de volta para a casa dos Szalinski torna-se uma grande aventura, com os insetos e pequenos animais como verdadeiros monstros a serem enfrentados. Durante o trajeto, eles sofrem com ataques de abelhas, com o esguicho de água, com o cortador de grama, tudo é tão gigantesco que até mesmo formigas passam a ser um perigo.
Ao longo do filme, a relação entre as famílias melhora, havendo a formação de um casal entre Amy e Russ Jr, inclusive. Esse é um dos problemas do roteiro, que é muito previsível. Desde o início, o espectador sabe que as brigas entre vizinhos serão resolvidas e que os dois únicos adolescentes formarão um par romântico. Ainda que não prejudique muito a diversão de quem assiste, isso torna a experiência um tanto quanto entediante.
Para estabelecer rápido quem são os personagens, o filme recorre a estereótipos. Temos o cientista atrapalhado e desatento, a adolescente popular, o menininho prodígio, o americano médio que valoriza muito os esportes, o jovem que não tem interesse por nada. Contudo, ao invés de criar um problema, o filme usa isso para criar seu humor típico dos anos oitenta, abusando de caricaturas e situações inusitadas. Isso, em conjunto com os diálogos, é o ápice do filme.
Nick Szalinski é disparado o melhor personagem, sendo irônico e perspicaz em todas as suas falas. A sua imagem de cientista mirim contrasta com a ingenuidade própria de quem está na primeira infância, proporcionando a melhor piada do longa, que ocorre numa conversa entre ele e Russ a respeito de respiração boca a boca (infelizmente parte da graça é perdida na tradução para o português).
A parte visual não se destaca nem atrapalha a história, os cenários foram todos construídos manualmente, por conta da época em que foi filmado. Os insetos e objetos de cena são físicos, não havendo uso de computação gráfica, o que pode causar estranhamento no espectador atual, tão acostumado com grandes produções tecnológicas. O único detalhe fora do lugar, que pode prejudicar a imersão, é uma cena de luta entre uma formiga e um escorpião, que é dimensionalmente impossível.
O ponto central do filme reside na metáfora de pais que não enxergam os filhos. Criticando aqueles casais que ignoram os problemas das crianças e também os que projetam desejos e expectativas próprios em cima delas, Querida, Encolhi as Crianças se mostra mais do que uma simples comédia com doses de aventura. Mesmo com problemas na narrativa e com personagens não muito complexos, seu humor e seus diálogos fazem com que valha a pena lhe (re)assistir.