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Silêncio é a manifestação da insatisfação em O Outro

O Outro (El Outro, 2007), ainda inédito no Brasil, será apresentado na 36ª Mostra Internacional de Cinema, que acontece em São Paulo, entre os dias 19 de outubro e 02 de novembro. O filme foi exibido na última quarta (10) e sexta-feira (12), no programa Mostra Internacional de Cinema na Cultura, no canal TV Cultura. …

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O Outro (El Outro, 2007), ainda inédito no Brasil, será apresentado na 36ª Mostra Internacional de Cinema, que acontece em São Paulo, entre os dias 19 de outubro e 02 de novembro. O filme foi exibido na última quarta (10) e sexta-feira (12), no programa Mostra Internacional de Cinema na Cultura, no canal TV Cultura. Com um contínuo pesar de tensão, o filme traz reflexões sobre as satisfações e insatisfações que todos carregamos diariamente em nossas vidas.

Juan (Júlio Chávez) tem uma vida pacata e seu cotidiano não é, nem de longe, os mais movimentados. 46 anos e casado, ele vê sua vida passar de maneira morna. Apesar de um claro incômodo, o personagem se apresenta como resignado.

O diretor argentino Ariel Rotter deixa sua marca nas cenas longas e sem corte, que se prolongam até causarem a irritação e a inquietude do tédio.

Observar um homem pensativo em cenas de dois minutos, um abdômen contrair e relaxar por mais alguns muitos segundos e um batucar incessante de dedos, sem nenhum corte, é desconfortante e cansativo. Isso torna a ação de assistir o filme difícil. Mas, apesar de as sensações causadas não serem as melhores, é possível destacar, como um mérito do trabalho, a conquista do objetivo principal: levar o espectador a refletir também sobre a passividade de suas ações. Somos todos passivos diante da vida? Estamos de fato onde queríamos estar ou só permanecemos inertes perante tudo e todos?

Juan tem um pai doente, a quem visita constantemente. Uma relação humana bastante delicada é construída. Juan vê o pai sofrer em cima de uma cama, com seus movimentos debilitados o fazerem eternamente dependente da ajuda externa. E o pior de tudo: ele não aceita a ajuda. A velhice potencializa o tom de dureza da existência: o fim da vida não é fácil.

A ação tão esperada acontece quando o advogado tem de fazer uma viagem a trabalho. Ao chegar ao destino, Juan percebe que o passageiro que ocupava a poltrona a seu lado,  interpretado por Arturo Goetz, faleceu. Em um súbito impulso, decide adotar a identidade daquele homem, a quem nem conhecia, no novo local. Registra-se, então, como Manuel Salázar, médico, de 45 anos.

Juan está claramente partindo (ou ao menos tentando partir) para o novo. Em uma tomada em um bosque, o personagem aparece caminhando lentamente, observando a paisagem, respirando profundamente o ar puro do verde. Ele ainda se aventura em subida em árvores, em busca de frutas silvestres – e, em seguida, delicia-se com elas. É uma jornada de autoconhecimento. A construção da cena é muito bonita e é bastante interessante como, em uma única cena, Juan consegue explorar todos os seus sentidos.

Mais adiante, em um bar, se interessa por uma moça. Aproxima-se dela e a deixa perceber que ele a observa. Ela sai do bar e ele a segue. Tudo sem dizer uma palavra. Dias depois, quando decide ir ao velório do homem que lhe deu sua identidade temporária, Salázar, Juan encontra a moça misteriosa. Desta vez é ela quem o segue. A primeira palavra que os dois trocam só acontece depois de já terem dormido juntos.


Depois da jornada, Juan volta pra casa e reencontra a mulher e o pai. Resolve dar um banho no pai debilitado e ambos se entregam em uma conversa menos monótona do que antes. O que o espectador vê é que Juan está sim diferente, só não conseguimos dizer em que grau essa mudança se deu.

Júlio Chávez tem uma atuação destacável. O espectador sente que ele se entregou para o personagem e para as descobertas que se realizam ao longo de sua trajetória. Em uma leitura particular, diria que o filme não tem uma ausência de falas, mas uma presença constante e imponente do silêncio. Há muito nesse silêncio, um silêncio das relações, um silêncio de insatisfação, com a própria vida e a vida do outro.

A ausência de trilha sonora também chama a atenção. Todas as cenas se utilizam do ruído ambiente. Isso torna o filme mais pesado, já que uma canção de fundo poderia contextualizar bem o filme e dar certo ritmo, mesmo que a canção não lhe tirasse a carga dramática. Ainda assim, não se pode dizer que este é um defeito, já que a ausência de trilha sonora é proposital e faz parte do objetivo.

Os filmes da Mostra que serão exibidos pelo programa, serão veiculados sempre às quartas e sextas-feiras, às 22 horas, nas versões legendada e dublada, respectivamente. Os filmes também podem ser vistos, nos mesmos dias e horários, em transmissão online através do site http://cmais.com.br/aovivo.

Por Paloma Rodrigues
martinho.paloma@gmail.com

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