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Mostra na filosofia, no cinema e na psicologia

– E aí, tá indo na Mostra? – Tô sim, inclusive acabei de sair de um filme. – Que legal, qual? – O Guia Pervertido do Cinema. – Nossa, como que é? – É um documentário de um filósofo esloveno sobre conceitos da psicanálise presentes no cinema. Essa sinopse faz o filme parecer muito mais …

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– E aí, tá indo na Mostra?

– Tô sim, inclusive acabei de sair de um filme.

– Que legal, qual?

O Guia Pervertido do Cinema.

– Nossa, como que é?

– É um documentário de um filósofo esloveno sobre conceitos da psicanálise presentes no cinema.

Essa sinopse faz o filme parecer muito mais pseudo-intelectual e pedante do que realmente é. Produzido em 2006 e em cartaz na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário estrelado por Slavoj Žižek (que será chamado a partir de agora de SZ para facilitar o entendimento) é uma análise bem humorada, ainda que conceitualmente densa, de diversos filmes, de clássicos a cults, de europeus a hollwyoodianos.

O filme parte da psicologia para dissecar obras de diretores como Alfred Hitchcock, David Lynch, Andrei Tarkóvski, mas também de fenômenos pop como Matrix, (The Matrix, 1999) Clube da Luta (Fight Club, 1999) e a saga Star Wars. Devidamente instalado nos cenários do filme que aborda, vemos SZ relacionar Os Pássaros (The Birds, 1963), de Hitchcock, ao Complexo de Édipo, um desenho do Pluto ao Superego, Darth Vader a Sigmund Freud e por aí vai.

O público de O Guia Pervertido do Cinema (The Pervert’s Guide to Cinema, 2006) sofre tentando absorver e sedimentar a metralhadora conceitual de SZ. O filósofo e a diretora Sophie Fiennes, irmã de Ralph Fiennes, que interpreta o Voldemort, na saga Harry Potter, tentam suavizar essa dificuldade, através de imagens dos filmes citados e da irreverência de SZ.

Aos corajosos que se aventurarem por duas horas e meia de psicanálise, o filme reserva um olhar peculiar e muito bem argumentado a obras de que nos cansamos de ver infinitamente reproduzidas. Um momento que ilustra essa renovação de perspectiva é a leitura de SZ das cenas no banheiro de Psicose (Psycho, 1960), em que Janet Leigh morre esfaqueada enquanto toma uma ducha. Ao comparar a duração menor da cena do assassinato com a maior da de limpeza dos vesígios, o filósofo divaga sobre o quão nos satisfazemos ao restaurar a ordem de uma realidade estilhaçada pelo desejo.

A trilha sonora de Brian Eno é outro destaque do filme, apesar de reduzir-se à introdução e à vinhetas que separam as três partes do filme. Eno consegue reforçar a ideia de Fiennes de desviar-se, ainda que parcialmente, da estética documental clássica.

O Guia Pervertido do Cinema guarda seu trunfo na figura de SZ, com seu sotaque pesado, sua gesticulação agitada, quase caricatural, e sua fuga do estereótipo do acadêmico sisudo. Percebe-se aqui o que leva o esloveno a sofrer críticas de sua postura beirando ao performático.

O documentário é um programa denso para quem quiser só se divertir ou se entreter. Entretanto, recompensa os cinéfilos propondo ampliar as possibilidades de leitura de um filme, por recusar-se a simplesmente decodificar as obras. O Guia Pervertido do Cinema é um exercício de tradução, antes de exercício (pesado, quase maratona) para suar o cérebro.

Por Henrique Balbi
henriquebalbi92@gmail.com

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