A Jornalismo Júnior promoveu no dia 17 de outubro, em parceria com o Projeto Redigir, a palestra Jornalismo & Educação. Os palestrantes convidados foram os jornalistas Rodrigo Ratier, editor daRevista Nova Escola e educador da ONG Repórter Brasil, e Michelle Prazeres, ex-coordenadora de Comunicação da ONG Ação Educativa. Ambos fazem parte do Grupo de Pesquisa sobre Práticas deSocialização no Mundo Contemporâneo, da Faculdade de Educação (FE) da USP.
Entre as várias relações possíveis entre o jornalismo e a educação, Michelle abordou na palestra a cobertura sobre educação na mídia, a tecnologia no ambiente educativo e os papéis da educação e do jornalismo na sociedade. Para ela, os dois campos estão interrelacionados pois ambos são processos socializadores, já que “não existe comunicação sem poder educativo e educação sem poder comunicativo”.
Sobre a utilização das tecnologias na educação, Michelle apontou que somente sua apropriação não garante uma melhora na educação. “A educação tem que formar para, com e sobre as mídias. A escola precisa acompanhar o mundo que está inserida, mas esse acompanhamento deve ser crítico e não um render-se ao fascínio das tecnologias”.
Ratier, jornalista formado pela ECA, discutiu o papel do jornalismo em educar o público, assim como a cobertura da educação feita pela imprensa. Para ele, “o jornalismo tem um caráter educativo, mas com limitações. Ele faz circular visões de mundo, ajuda na formação, informa, coloca diferentes pontos de vista, mas não forma como uma pedagogia ativa”.
Ele pontuou que, diferente da educação escolar, que consiste em um trabalho sistemático de compartilhamento ou imposição de um patrimônio cultural que uma geração passa para outra, o jornalismo tem a mensagem centrada no produtor, que é o detentor da palavra.
Educação na mídia
Sobre a cobertura de educação feita pela imprensa, Michelle acredita que o discurso e os valores da comunicação são preponderantes no discurso sobre a educação na mídia. Segundo ela, falta uma formação crítica e uma reflexão mais profunda sobre o papel da educação no mundo. “O jornalismo precisa discutir de fato a qualidade da educação, dando voz aos atores desse campo, que são o tempo todo massacrados tanto pelas políticas públicas quanto pelo que é dito na imprensa”.
Para Ratier, a educação tem ganhado um espaço cada vez maior na mídia, já que os jornais possuem setoristas de educação, as revistas se multiplicaram e diversas ONGs sobre educação já possuem seus braços jornalísticos. Mas, para ele, a grande imprensa ainda realiza uma cobertura estereotipada. “É uma cobertura ingênua. São tantos estereótipos e um total desconhecimento do campo que não são ressaltadas as coisas boas e não se focalizam nos verdadeiros problemas”.
O jornalista apontou diversos temas ausentes ou tratados erroneamente nessa cobertura, como a concepção de educação, o que ela realmente pode fazer, modelos de ensino, currículo das escolas, a privatização silenciosa e as armadilhas da igualdade e da meritocracia, que aprofundam as disparidades. “O que é a meritocracia num contexto de desigualdade?”, questionou.
Com ideias bastante similares, os palestrantes concordaram que a cobertura ainda é incipiente e precisa ser aprofundada, mas Michelle acredita que isso não deriva apenas da ingenuidade, mas pode estar também relacionado com um jogo interesses da grande mídia, que trata apenas dos assuntos pertinentes para ela.
Larissa Teixeira
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