Continuamos aqui o texto sobre a trilogia O Poderoso Chefão, vencedor de nossa enquete sobre o maior clássico do cinema.
Leia aqui a primeira parte.
Parte II
Seguindo o exemplo de seu antecessor, O Poderoso Chefão parte II (The Godfather part II) passou por diversos contratempos que valeram a pena. Ele alcançou grande reconhecimento e sucesso. Foi indicado ao Oscar de 1975 em 10 categorias, sendo que saiu vencedor em 6, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado.
A parte II começou a ser planejada durante as gravações da parte I devido às diversas críticas positivas que a história começou a receber em meio a primeira produção. No entanto, apesar dos grandes planos para o futuro da série, Francis Ford Coppola não queria dirigir a continuação, lembrando dos problemas que enfrentou na direção da primeira parte. Coppola gostaria de continuar envolvido na trama apenas como produtor e então o cargo de diretor foi oferecido a Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret, 2011). A recusa de Scorsese obrigou Coppola a retomar ao cargo de diretor.
A segunda parte da saga trata de duas histórias paralelas: um Vito Corleone inexperiente e um maduro Michael. O flashback é uma parte adaptada do romance de Mario Puzo e conta com Robert De Niro como o jovem Vito Corleone. Para a interpretação, De Niro passou quatro meses vivendo na Sicília para aprender os costumes e o dialeto falado lá. Coppola pensou em trazer Marlon Brando para interpretar Vito na sua juventude, mas, ao trabalhar no roteiro, lembrou-se dos testes que Robert De Niro havia feito para o filme anterior e o escalou, sem ao menos oferecer o papel a Brando.
Marlon Brando faria uma pequena aparição na sequência, mas não apareceu no dia das gravações. A falta foi um protesto pelo jeito que foi tratado pela Paramount durante as filmagens do primeiro filme. Para suprir a falta de Brando, Coppola teve de reescrever a cena em que ele aparecia. A cena sem Vito foi filmada no dia seguinte.
Aparentemente, o personagem de Vito Corleone é abençoado para os seus intérpretes. Se no primeiro filme, ele rendeu um Oscar de Melhor Ator a Marlon Brando, no segundo, a estátua de melhor ator coadjuvante foi dado a Robert De Niro.
Enquanto Vito Corleone se glorifica, tornando-se um homem influente e poderoso, mas sempre tendo como base o amor e a fidelidade a sua família, Michael entra em decadência. Ele passa por uma acusação federal e em uma audiência no Senado a palavra “máfia” é dita pela primeira vez na série. É acusado de ser chefe da família mafiosa mais importante do país. Nesse julgamento, a palavra é falada três vezes e então deixa de ser usada.
Além disso, Michael é alvo de uma tentativa de assassinato encabeçada por Hyman Roth (Lee Strasberg). O ator Lee Strasberg, já aposentado, foi um pedido de Al Pacino. Strasberg não queria participar do filme e apenas aceitou o papel depois de uma conversa com o pai do diretor, Carmine Coppola. E essa não foi a única intervenção de familiares de Coppola no filme. A atriz Morgana King, que interpreta a Mama Corleone, recusou-se a fazer a cena de seu velório, sobrando para mãe Coppola a função de ser o corpo no caixão – King filmou apenas a cena em que seu rosto aparece.
A irmã de Coppola também dá sua participação: Talia Shire dá a ideia do aborto feito por Kay Adams (Diane Keaton). No roteiro, Kay sofria um aborto natural, porém Shire sugeriu que a realização de um aborto artificial seria uma forma que Kay encontrou para machucar Michael em seu casamento decadente. Para agradecer a irmã, Coppola escreveu a cena em que ela vai às lágrimas pedindo que Michael perdoe o irmão, Fredo (John Cazale), pela traição.
Parte III
Dezesseis anos separam a segunda da última parte da trilogia. Essa diferença não é fruto do mero acaso. Francis Ford Coppola havia se recusado a fazer mais uma sequência da história da família Corleone. Mas a Paramont tentou levar a franquia adiante de qualquer forma. Cerca de 12 roteiros foram escritos, sendo que a maioria retratava a família Corleone agora sendo comandada por Anthony, filho de Michael. Os enredos envolviam o combate ao governo Castro, a CIA, ou a quartéis de drogas sulamericanos, e a estréia do filme tinha sido definida para o Natal do ano de 1980. Contudo, todos esses planos foram descartados quando Coppola decidiu entrar novamente no projeto e escrever um roteiro junto com Mario Puzo – mas abandonou o projeto novamente. Em entrevista a GQ Magazine inglesa em março de 2011, o diretor afirmou: “Eu absolutamente não queria fazer outros Poderosos Chefões mesmo depois do primeiro. Com certeza, eu não queria fazer um terceiro ou quarto. Se tivesse acontecido do meu jeito, haveria apenas um ‘O Poderoso Chefão’”.
A resistência inicial de Coppola em dirigir o filme não foi a única resistência que o projeto enfrentou. A morte da personagem de Robert Duvall, Tom Hagen, não foi algo planejado inicialmente. Pelo contrário: no roteiro que seria gravado, ele teria uma participação muito importante – a história giraria em torno dele e de Michael, sendo que Tom seria um informante. Ao perceber que a sua personagem havia crescido muito, Duvall queria que o seu pagamento também aumentasse. Com a recusa do estúdio, Duvall saiu de cena, e Coppola teve que readaptar o roteiro sem a sua personagem.
E assim como nas escalações de Marlon Brando para Vito Corleone e Al Pacino para Michael Corleone, Coppola também enfrentou problemas para escolher a atriz que interpretaria a filha de Michael, Mary. Embora a atriz cobiçada pelo diretor tenha sido Julia Roberts, Madonna tenha se interessado pelo papel e Winona Rider tenha declinado o convite para filmar Edward Mãos de Tesoura, quem acabou ficando com a personagem foi Sofia Coppola, filha do diretor. Entretanto, ela não agradou a crítica: levou duas estatuetas da Framboesa de Ouro para casa: a de pior atriz coadjuvante e de pior atriz estreante. E bateu um recorde nada agradável: com quatro outras pessoas na disputa, ela conseguiu porcentagens maiores do que 65% em ambas as categorias.
Ao alvo, as laranjas
Sempre que uma laranja aparece em cena em algum momento da trilogia, você pode ficar atento. É um sinal quase seguro de que algum evento no mínimo sinistro irá acontecer – ainda que um dos produtores da trilogia tenha dito que as laranjas serviam apenas para dar um pouco de brilho à fotografia escura dos filmes.
Por Odhara Rodrigues
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Por Rúvila Magalhães
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