Por Juliana Brocanelli
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“Violette”, distribuído pela Imovision, é uma cinebiografia de Violette Leduc, uma das grandes escritoras e feministas francesas do século passado. O filme tem início com uma frase de Violette: ” A feiura em uma mulher é um pecado mortal. Se você é linda, é olhada na rua pela sua beleza, se você é feia, é olhada na rua pela sua feiura.” Logo de cara, portanto, fica evidente o modo como Violette Leduc, interpretada pela quase desconhecida Emmanuelle Devos, se sente acerca de si mesma: desconfortável. Essa luta interna, pontuada pela amargura, marcará a vida toda da escritora e também está presente do início ao fim do longa.
Filha bastarda de um rico jovem francês, Leduc conheceu desde cedo a rejeição. Aliás, esse é o sentimento que a acompanha pela vida toda e marca suas relações e, principalmente, sua produção literária. Ela busca sua liberdade – de opressões internas e externas – através de sua escrita. É também por esse meio que ela se firma como um dos expoentes do movimento feminista.
A intenção da produção é, essencialmente, mostrar a relação de Leduc com Simone de Beauvoir (Sandrine Kimberlain), uma das maiores escritoras, filósofas e feministas do século XX. Sugerida sutilmente nos escritos de Beauvoir, a relação erótica das duas mulheres é explicitada no filme através da busca incessante de Violette por Simone. O longa, inclusive, se apoia na imagem de Simone para atrair o público.
A estréia do longa no Brasil, em agosto de 2014, dialoga com a recente “invasão” dos romances homossexuais nas telonas do mundo. Depois de um 2013 recheado de produções que sugeriam um novo olhar sobre a homoafetividade, como “Azul é a cor mais quente” (La vie d’Adèle), “Tatuagem” e “Além da Fronteira” (Out in the Dark), é interessante que esses filmes continuem a chegar ao grande público.
É impossível falar sobre a biografia de Violett Leduc sem considerar a imperativa influência de Beauvoir, Sartre e Camus – todos grandes pensadores franceses. A escrita libertadora e sem pudores de Leduc aflora após a insistência de Simone. Esta vê a caneta e o pergaminho como o único caminho para superar certos traumas, além de quebrar de vez os paradigmas da conservadora sociedade francesa da década de 1950.
E foi exatamente isso que Violette Leduc fez. Suas publicações chocaram a sociedade francesa, pois continham relatos de seu primeiro amor homossexual e da realização de um aborto. Apesar de não protagonizar a cena literária local, seus livros sofreram censura por parte da edição.
Dirigido por Martins Provost, o drama francês se divide em sete partes que focalizam em questões específicas, como a publicação de sua grande obra “A Bastarda”. Ainda que Leduc seja uma figura que inspira libertação e inconformismo, o molde do filme é essencialmente conformista com o padrão de cinebiografias. Montado sob os famigerados moldes dos filmes cults, ele apresenta uma fotografia escura e poucas falas.
Apesar de se propor a contar a vida da escritora, o filme desvia seu curso e se torna mais uma homenagem. Embora capte a dramaticidade e histeria da personagem histórica, não é, decididamente, para leigos.