Há, no ano de 2013, limites para o que um homem pode vestir? O homem de hoje possui possibilidade de escolher livremente o que usar? No próximo inverno, para o estilista J.W. Anderson, homens e mulheres poderão usar qualquer coisa.
Intitulada “Mathematics of love” e repleta de roupas tradicionalmente destinadas a mulheres, a coleção de Anderson levanta importantes questões nessa época de extrema popularidade da moda, de muita informação, disseminação e visibilidade direcionados para esse meio. Mais do que mera esquisitice do mundo fashion, o desfile abre os olhos para uma consciência do que se veste. Roupas como as de Anderson exigem novos tipos de usuário, mostram que é necessário não apenas seguir, mas também utilizá-las como ferramenta de expressão pessoal.
O que Anderson quis com esse desfile não foi dizer que a partir de hoje homens deverão usar roupas femininas, mas que deve haver alguém que abra essa possibilidade ao produzir e comercializar essas peças. Quem forneça essa sugestão, abrindo uma opção de escolha, disponibilizando-as para quem quiser vesti-las. Para isso, ele recorre ao uso de roupas unissex, que não restringem ou delimitam seus usuários, deixando, assim, o ser humano totalmente livre para escolher entre peças que não se definem por sua etiqueta, por seu estereótipo ou qualquer característica pré-definida. Como uma tela em branco, essas roupas tomam significado a partir da experiência individual de quem as veste.
Nesse sentido, a moda se mostra cada vez menos impositiva, autoritária ou padronizante. Ela abre a possibilidade do consumidor, consciente, adquirir peças que convenham a seu gosto e estilo, transformando sua relação com a roupa. Esse pedaço de tecido que recobre o corpo recebe, então, um status, torna-se um objeto repleto de conteúdo. Ele se modifica a cada usuário que explora suas possibilidades, sua força está contida nessa constante transformação.
Propostas como a do estilista britânico revelam o lado da moda que transborda conteúdo e se posiciona na dianteira. Há nessas roupas a mesma ousadia e vanguarda de grandes ícones como Coco Chanel ou Yves Saint Laurent, que deram à mulher a possibilidade de agregar peças masculinas a seus guarda-roupas.
A iniciativa é uma provocação contra o preconceito secular que ronda o vestuário. A moda masculina passa a traduzir o ser humano do século XXI, sem barreiras para decidir e emancipado das ultrapassadas regras que se perpetuaram ao longo dos anos.
Essa visão libertária tira o usuário-consumidor de sua zona de conforto; mais do que só “seguir a tendência”, ela pede a criação e também aponta para um futuro plural no qual a moda torna-se muito mais inclusiva do que elitista. Com o poder dado pela internet e pela informação, os usuários podem, enfim, decidir por conta própria o que desejam vestir, tendo a possibilidade plena de escolha. Pessoas reais, com individualidade e capacidade ilimitada de imaginar novas metáforas para si. Utilizando-se da moda para dar forma a essa poesia.
por Felipe Higa
felipemassahirohiga@gmail.com