No dia 18 de março, a cantora brasileira Céu lançou seu quarto álbum, Tropix (2016), que reforça o amadurecimento musical consequente de sua rotina nos últimos anos: inúmeros shows no exterior, para acompanhar o sucesso de suas músicas por lá. Como poderia se imaginar, Céu mostra-se banhada de referências, mas sem perder a identidade e o jeito popular brasileiro de cantar. Em um primeiro momento, percebi seguidores de longa data da cantora estranhando Tropix, por senti-lo estrangeiro demais, frio. Porém, com um pouco mais de paciência, um brasileiro é capaz de encontrar a essência e o calor da Céu no álbum. E é nesse conflito calor-frio que Tropix se impõe, autêntico.
Desde seu primeiro álbum, lançado em 2005, a cantora passou por transformações significativas. Da moça bronzeada malemolente, que cantava armada com batidas fortes e ao mesmo tempo suaves, Céu passou pela estrada e pelo vento de Caravana Sereia Bloom (2012) e chegou a Tropix, vestida para a noite, acompanhada de batidas eletrônicas metalicamente marcadas. Mas há uma personalidade que se manteve a todo o tempo.
Na produção do disco, participaram o baterista Pupilo (da banda brasileira Nação Zumbi) e o músico francês Hervé Salters, conhecido pelo seu projeto de nome General Elektriks. De novo, uma mistura do brasileiro com o estrangeiro. O General Elektriks, que também acabou de lançar um álbum este ano, se insere na música eletrônica e, com certeza, teve grande influência nas batidas que marcam as canções do disco.
A primeira faixa “Perfume do Invisível”, além dos beats, também tem um quê de discoteca anos 70 em alguns trechos. A letra fala de um amor, mas de forma bem imagética, explorando cenas.
“No dia em que eu me tornei invisível
Passei um café ao teu lado
Fumei desajustado um cigarro
Vesti a sua camiseta ao contrário
Aguei as plantas que ali secavam
Por isso o cheiro me impregnava”
No seu clipe, é reforçada a ideia que cria o ambiente geral do disco: o moderno e o “pixelado” aquecidos pela voz, pela expressão e pela interpretação da cantora.
“Varanda Suspensa” talvez seja a música mais dançante do disco, que transmite mais tropicalidade. Vejo-a como uma das faixas (juntamente com “Arrastar-te-ei”) que mais mostra que o bronzeado da Céu também existe em Tropix.
“Vista para Ilhabela
Éramos a tela impressionista
Tropical, latino-americana
Litoral, início de janeiro
D’artes de veraneio
Úmidos faróis anunciando a noite neon”
https://www.youtube.com/watch?v=9LVsfsHAdpI
Céu também regravou, à sua maneira, a música “Chico Buarque Song” da banda paulistana Fellini (álbum “Amor Louco”, 1990).
Além disso, Tropix teve a participação da cantora brasileira Tulipa Ruiz, na faixa “Etílica/Interlúdio”. Céu canta sozinha a maioria das passagens, e Tulipa entra na segunda parte para contribuir com gritos em um momento psicodélico da música, que lembra bastante o som do Pink Floyd.
Em seu novo álbum, Céu se enfeitou no ensejo de atrair ainda mais o público de lá, sem perder o de cá. Escutar Tropix é perceber várias referências musicais (principalmente a eletrônica), utilizadas por alguém que viajou pelo mundo e não teve medo de ser influenciada. Influenciada, não dominada.
Por Giovanna Wolf
giwolftadini@gmail.com