Sol, luz e ouro são os principais símbolos do amarelo, mas, se pararmos para pensar, vai muito além disso. O amarelo no trânsito, no design e na mídia aparecem por uma razão, já nas frutas e roupas, nem tanto. Apesar disso, nosso contato com essa cor, intencional ou não, nos afeta. Nessa reportagem, exploraremos o universo do amarelo em nosso dia a dia, bem como sensações provocadas por essa cor.
O amarelo em si
O amarelo, junto ao vermelho e azul, é uma cor primária, ou seja, não pode ser obtida com a mistura de outras cores. É também a cor mais clara de todas as cores cromáticas, isto é, todas as cores excluindo as neutras preto, branco e cinza, e pode ser facilmente transformado em outras: misturada com um pouco de vermelho, torna-se laranja, com um pouco de azul, torna-se verde.
De acordo com o livro Psicologia das Cores, de Eva Heller, o amarelo é a cor favorita de apenas 6% das pessoas, perdendo esmagadoramente para o azul, que atinge 45% de predileção. Aqui, estamos nos referindo aos tons mais comuns, como o amarelo gema. Na realidade, o amarelo possui 115 tons.
O amarelo em nós
As cores, luz e sombras formam a primeira camada de identificação visual do mundo físico segundo Luciano Guimarães, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e pesquisador sobre as cores na mídia. As cores nos afetam em três dimensões: biofísica, linguística e cultural. No nível biofísico, o amarelo é capaz de ativar áreas do cérebro e promover maior índice de atenção. Não é a toa que seja tão utilizado nas canetas marca-textos, que usamos para destacar e nas placas de trânsito de advertência e nos semáforos, que visa alertar o motorista de sua passagem. “No semáforo temos a dimensão linguística, pois é um código que precisa ser ensinado e aprendido, compartilhado linguisticamente”.
“É na dimensão cultural que o amarelo ganha significação mais rica e as sensações ultrapassam largamente o âmbito da experiência física”, explica Luciano Guimarães. “Na raiz cultural de seus significados, o amarelo se liga ao sol, ao trigo, ao fruto maduro e ao ouro, cada um carregando seus valores agregados culturalmente”.
No entanto, essa cor não carrega só associações positivas. Costumamos lembrar do amarelo solar e nos esquecemos do amarelo pálido esverdeado, o amarelo fétido do enxofre. Michel Pastoureau, um dos maiores especialistas na simbologia das cores, constata a atribuição ao amarelo da inveja, avareza, mentira e traição.
Tanto franceses quanto brasileiros usam a expressão de sorriso amarelo como o sujeito desconcertado. Na Alemanha, icterícia (Gelbsucht) é uma expressão de cobiça (Geldgier). Em inglês, yellow também significa covarde. Em francês, o amarelo é jaune, a raiva é jaunir e o ciúme é jalousie. Em inglês, o ciúme é jealousy.
“Por essa razão, é na soma das três dimensões e no estudo do contexto em que o amarelo está aplicado que podemos pensar quanto afeta nossa emoção e nossa razão”, complementa o professor.
O amarelo no design
O amarelo é uma cor chamativa, empregada de diferentes maneiras. A designer Helena Nabuco explica que essa cor é frequente quando o objetivo é trazer luz, alegria ou provocação ao projeto. “O amarelo é muito utilizado quando queremos trazer impacto visual, pois é uma cor que contrasta muito com outras cores. Por causa disso, é muito bom para posters, cartazes e comunicações de rua, que precisam se destacar”.
O tom do amarelo é fundamental para a percepção do espectador. “Temos desde o amarelo mostarda, quase marrom, ao amarelo meio bege, quase bebê”, explica Helena. “Cada tom corresponde a um universo e significado diferente”. Tons claros trazem leveza a arte, enquanto tons escuros, um certo peso. “Nas telas, o amarelo intenso é muito agressivo para áreas grandes, mas bom para pequenos realces, ou em telas que ficarão por pouco tempo em exposição”, adverte Luciano.
“O amarelo conversa muito com o sol. Eu definiria ele como uma cor solar, forte, energizante. E a sensação seria de luz, brilho, foco, energia”, finaliza a designer.
O amarelo no design de interiores
No design de interiores, a presença do amarelo é diversificada e traz sensação de calor e energia, além de elevar o ânimo. “É muito utilizado em acessórios e objetos, como almofadas, luminárias, cadeiras e cômodos”, conta Luchesca Pelegrini, profissional da área. Entretanto, se não for dosado, pode causar desconforto visual.
A cor em áreas de alimentação, como cozinhas e salas, é controvérsia, já que o amarelo estimula o apetite. Apesar disso, o amarelo pode combinar com todos os cômodos da casa, dependendo do tom, da utilização e do gosto do cliente. É ideal em escritórios e áreas de estudo, pois o amarelo contribui para uma atmosfera ativa e estimula atividades intelectuais.
“Tons vibrantes nos despertam, e por isso evitamos utilizá-los em quartos, já que são ambientes de descanso. Tons mais neutros tornam o ambiente aconchegante, sendo o amarelo pastel uma alternativa”, explica Luchesca. “Sempre usamos luzes amarelas para dar um toque de aconchego no cômodo”.
Em espaços pequenos, é necessário mais atenção na escolha das cores, pois elas interferem na amplitude do ambiente. O amarelo, por sua vez, pode reduzir visualmente o espaço.
O amarelo na pintura
O pintor holandês Van Gogh (1853-1890) é reconhecido pelo grande uso de amarelo nas suas pinturas ao retratar campos, estrelas e as várias versões de girassóis. De acordo com o livro Psicologia das Cores, “Van Gogh pintava com amarelo cromo, um corante muito venenoso que contém chumbo e enxofre”. O amarelo cromo, na época, era mais barato que o amarelo cádmio, que o pintor não mais conseguia arcar. Por saber que as cores de sua pintura empalideceriam, empregou camadas espessas de tinta em sua pintura. Apesar disso, com o passar das décadas, seu amarelo luminoso tornou-se pálido e seu laranja luminoso, acastanhado.
Segundo Michel Pastoureau, em entrevista a Revista Sol, na pintura da Idade Média o dourado assumiu as “qualidades” do amarelo, que caiu em desuso. “No século XIX, por reação, com a pintura ao ar livre, volta a ver-se muito amarelo e nada de dourado. A partir da invenção da bisnaga de tinta, e da possibilidade de pintar fora de portas, há mais amarelo na pintura, mas os dois grandes pintores do amarelo são Van Gogh e Gauguin”.
Existe aqui, em volta de tudo, uma tonalidade de enxofre, o sol me sobe a cabeça. Uma luz, que na falta de palavra melhor, não posso denominá-la de outro modo, senão amarela. Ah, como é lindo o amarelo! (Van Gogh)
O amarelo nos chakras
Os chakras são centros de energia que regem nosso corpo físico, emocional, mental e energético, segundo ensinamentos esotéricos e religiões orientais, como hinduísmo e budismo. São sete chakras, a cada um atribuído uma cor e influenciando saúde e personalidade.
O chakra amarelo corresponde ao Plexo Solar ou Manipura, localizado acima do umbigo e próximo ao estômago. Está ligado a nossa personalidade e poder pessoal, além de participar na forma que nos relacionamos com o mundo e com os outros. Relaciona-se diretamente com órgãos do sistema digestivo e é onde digerimos impressões imateriais da nossa volta.
O excesso de energia desse chakra leva ao egoísmo, fúria e dificuldade de digerir/assimilar, enquanto a sua falta de energia provoca insatisfação e fraqueza. Para alinhar e equilibrar os chakras, são utilizadas as pedras Citrini Amarelo, Cristal com Enxofre, Topazio Imperia e Calcita Amarela.
A cura pelas cores é popular no esoterismo. Geralmente, “as regiões do corpo que estão doentes são tratadas com as cores correspondentes a cada chakra, para intensificar sua energia cromática”, uma das maneiras de cura retratada em Psicologia das Cores.
O amarelo no Oriente
O amarelo, juntamente com o vermelho, é uma das cores mais populares da China e simboliza o poder e a sabedoria. Na era das Dinastias, a cor da majestade imperial era o amarelo, vista como a cor mais nobre e elevada, sendo também masculina. Na Índia, o amarelo é a cor dos deuses e governantes. A veste do deus Krishna, por exemplo, é amarelo-dourada.
O amarelo se faz presente na filosofia chinesa dos opostos complementares Yin Yang. Yin, como força feminina, passiva, receptiva, e Yang como força masculina, ativa, criadora. No Ocidente, costumamos encontrar o símbolo Yin Yang com uma metade preta e outra branca, que são vistas como opostas. Porém, de acordo com o simbolismo cromático chinês, seria preto (yin, feminino) e amarelo (yang, masculino), como cores de maior contraste.
Texto que prende o leitor da primeira à última palavra Parabéns minha neta linda. Continue escrevendo com os 115 tons do AMARELO
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Texto de uma escrita leve e altamente informativa! Obrigada.
Apesar de não ser avó da autora do texto, concordo inteiramente com as palavras de Armanda Pinheiro. Excelente texto!
Verdade viu, vovó Armanda Pinheiro. Não consegui deixar de ler até chegar ao final…
Interessante!