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‘Babilônia’: homenagem ou exagero?

Filme de Damien Chazelle prometeu muito, e entregou até demais

Damien Chazelle estreou seu filme com expectativas gigantescas. Depois do surpreendente Whiplash (2014), do sucesso La La Land (2016) e do esquecível O Primeiro Homem (First Man, 2018), o mesmo diretor prometia, novamente, uma grande homenagem ao cinema. Babilônia (Babylon, 2022) faz da transição do cinema mudo para o falado pano de fundo para inúmeras histórias. Mas, ao invés do segundo filme do diretor, que espelhava na tela a magia arrebatadora de Hollywood, Babilônia se perde em suas promessas e tem tudo, menos sentimento. 

Enquanto o caos se espalha na tela em meio a drogas, sexo, festas e exagero, a credibilidade e conexão que poderiam surgir dos personagens apresentados vai se esvaindo, já que eles estão chapados demais para falar alguma coisa conexa. O roteiro, nesse sentido, se perde na narrativa, apesar de contar com discursos e falas que mereciam muito mais seriedade. A comédia besteirol se instala no filme com um grande papel, ao reduzir o drama e o crescimento da indústria cinematográfica e dos personagens a uma grande piada sem graça, que, surpreendentemente, arranca gargalhadas do público.

Jack no ar segundos antes de cair em uma piscina
Brad Pitt interpretou ator em fim de carreira [Imagem: Divulgação: Paramount Pictures]

Em um roteiro esquematizado para crescer no tempo das mudanças do cinema, fica óbvio que o protagonista do filme é Manny (Diego Calva), o mordomo mexicano que sonha em fazer parte de algo maior que ele: a indústria cinematográfica. Já na primeira festa do filme, ele encontra Nellie LaRoy (Margot Robbie), a garota que consegue um papel de atriz por acaso e faz sucesso no cinema mudo, mas, quando transgride para o falado, enfrenta dificuldades entre a vulgarização e sofisticação de sua imagem. Jack Conrad (Brad Pitt), por sua vez, faz o papel de um ator que, com mais de 80 filmes na carreira, vê seu talento e propósito desaparecerem quando tenta o cinema falado, e se afoga na melancolia. Na mesma festa ainda são apresentados os personagens de Lady Fay Zhu (Li Jun Li), uma cantora lésbica, Sidney Palmer (Jovan Adepo), um músico negro, e Elinor St. John (Jean Smart), uma jornalista que, assim como em Hacks (2021), traz uma sátira para a história.

Com esses caminhos que se cruzam, separam e embaralham, o longa ganha gás para levar suas três horas adiante, sem se tornar arrastado. O problema é que, mesmo com todo esse tempo, o diretor não consegue desenvolver bem nenhuma das muitas histórias que se propõe a contar, abordando temas sensíveis superficialmente para dar lugar a cenas desnecessárias e grotescas.

O filme até tenta trazer um pouco de romance entre os protagonistas, Manny e Nellie, mas falha inevitavelmente com a falta de empatia ou sentimento que a narrativa os impediu de transmitir. Então, mesmo em uma cena em que os atores esbanjam química, os personagens faltam com motivos e desenvolvimento, e nem a melhor melodia pode arrancar alguma torcida do telespectador.

Nellie sorri com os braços ao redor de Manny, que a segura pela cintura, ambos se encarando no meio de pessoas dançando.
Romance entre Nellie e Manny lembra vagamente o de La La Land [Imagem: Divulgação/Paramount Pictures]

Apesar da obra contar com elementos de tirar o fôlego, como uma fotografia impecável, uma trilha sonora estonteante e performances dignas de estrelato, a grande bagunça que Chazelle se propôs a retratar não leva a lugar nenhum. O telespectador pode até sair do cinema com a melodia do filme na cabeça e alguma reflexão, mas as cenas exageradas vão prevalecer mais na memória do longa do que qualquer homenagem à paixão do diretor.

O filme estreia no dia 19 de janeiro nos cinemas. Confira o trailer abaixo:

*Imagem de capa: Reprodução/Paramount Pictures

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