A sétima arte carrega consigo, desde seu início, a ideia de expressão cultural extremamente liberal. Porém, um dos mais famosos centros de influência cinematográfica do mundo, já foi palco de uma série de censuras sobre o que podia ou não ir às telas. Sim, os filmes Hollywoodianos foram regidos, até o inicio da década de 60, por uma série de regras que buscavam assegurar “a moral e bons costumes” no cinema. Essa conduta era endossada por regras que foram agregadas no que foi conhecido como Código Hays.
Pouco antes da aplicação rigorosa dessa norma, o cinema em Hollywood atingiu o que tinha sido, até então, seu estopim liberal. Durante a Grande Depressão de 1929, com as ruas tomadas por desempregados e desesperados, o público se tornou alheio em relação a moral. Filmes com grande apelo provocativo, tratando de temas que era vistos como “tabus”, como prostituição, adultério, aborto, homossexualidade, suicídio e hipocrisia religiosa. Atingindo um grande público e tendo com grande influência por todo o mundo, os “detentores do poder moral”, passaram a ver nesses filmes um incentivo a sensualidade, a vulgarização e ao consumismo exagerado, o que era considerado como uma clara forma de corromper a mente dos jovens admiradores dessa nova arte.
Os produtores de cinema decidiram, então, fazer os filmes passarem por uma censura prévia antes de serem lançados. O escolhido para essa missão foi o presidente da Motion Picture Producers and Distributors of America, Will Hays. Apesar de muitos filmes já passarem por sua peneira moral desde 1924, pouco efetivamente. Nesse período diversos longas ganharam repercussão usando principalmente do sexo e dos problemas sociais vividos na época de pré-guerra como temas principais, formando então um novo subgênero cinematográfico que ficou conhecido como Pre-Code Hollywood (Hollywood pré código).
Como parte dessa nova categoria, encontravam-se filmes de Gangsteres como Inimigo Público (The Public Enemy, 1931) e Scarface – A Vergonha de Uma Nação (Scarface, 1932); e também os com maior provocação ao sensual, como Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931), Rainha Christina (Queen Christina, 1933) e Assim Amam as Mulheres (Christopher Strong, 1933). Foi então que, em meados de 1934, as novas regras de conduta finalmente entraram em prática, com a oficialização do Código Hays. Mas foi nas mãos do ativista religioso Joseph Breen que esse modelo conservador encontrou seu auge.
Breen via Hollywood como uma “cidade do pecado”, chamando produtores e atores de pervertidos e afirmando que os mesmos eram a escória do planeta. A intensa rigidez do código, que no período ficou conhecido como Breen Office, atingiu grandes nomes do cinema com regras extremamente agressivas, mas esses utilizaram de artimanhas para burlar o sistema. Como por exemplo no filme Interlúdio (Notorious, 1946) de Alfred Hitchcock, a cena onde Ingrid Bergman e Cary Grant, protagonistas do longa, se beijam interminavelmente, teve várias interrupções por exceder o limite de 3 segundos por beijo pré-determinado. Os personagens se separam sucessivas vezes e então voltam a se beijar, em uma cena que dura cerca de dois minutos e meio.
(a cena citada do filme Interlúdio)
Já no filme O Proscrito (The Outlaw, 1941) do diretor e produtor Howard Hughes, o ativista religioso mandou cortar cerca de 37 closes dos seios da personagem Rio, interpretada pela atriz Jane Russell, dizendo ser algo inaceitável. O produtor, por sua vez, resolveu passar por cima das regras e se recusou a fazer as alterações, só conseguindo lançar o filme 2 anos após terem sido feitas as gravações.
Sendo extremamente taxativo, o código proibia filmes com o tema de tráfico e escravidão branca, permitindo a de negro; além de miscigenação e alusão ao amor entre negros e brancos. Além dessas, foi vedado também destacar o submundo, ofender crenças religiosas, enfatizar a violência, uso de drogas, nudez, retratar gestos e posturas vulgares e muitos outros. Incluindo na lista até mesmo palavras que não eram aprovadas dizer, como gata, vadia, prostituta, mulher fácil, nádega e homossexual.
Com o passar do tempo, as diversas contestações e o crescimento do cinema europeu, o código foi perdendo a sua força e credibilidade. Oficialmente em 1968, o Código Hays perdeu seu espaço, sendo substituído por uma tabela de classificação de filmes que leva em conta a idade do espectador. Essa mudança foi garantida definitivamente com o lançamento de filmes como os clássicos Juventude Transviada (Rebel Without a Case, 1955), esse até mesmo antes da queda oficial do Código, e Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas (Bonnie and Clyde, 1967), que levaram à tela uma nova forma de fazer e ver cinema em Hollywood.
por Ana Luisa Abdalla
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