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Histórico de multicampeã: Alemanha vai em busca do tricampeonato mundial

A octacampeã europeia e bicampeã mundial vai a mais uma Copa do Mundo em busca de reafirmar o seu poderio no futebol mundial feminino

A seleção feminina de futebol da Alemanha é, hoje, a segunda melhor ranqueada (de acordo com o ranking Fifa) do mundo, atrás apenas do atual campeão da Copa do Mundo Feminina de 2019, Estados Unidos.

A Nationalelf conta com uma grande tradição no esporte e na Copa do Mundo, tendo disputado todas as oito edições do torneio e sido campeã duas vezes — em 2003 e em 2007. Na Eurocopa, competição que já ganhou oito vezes, a seleção ficou em segundo lugar na última edição. Apesar da derrota, a campanha até a final indica que a equipe tem boas chances de conseguir sonhar alto na Copa do Mundo de 2023.

Início e proibições

A realização do primeiro campeonato feminino de futebol na Alemanha ocorreu ainda em 1922, com algumas universitárias. Porém, desde então, a modalidade sofreu para conseguir sobreviver e se consolidar no país: durante o regime nazista, a prática do esporte pelas mulheres foi proibida. Na década de 1950, a medida foi revogada, mas em 1955 o futebol feminino voltou a sofrer repressões, sem que houvesse qualquer auxílio da Federação Alemã de Futebol (DFB).

Somente em 1970 é que a DFB deu fim ao banimento do futebol feminino. 12 anos depois, em 1982, foi criada a seleção feminina oficial da federação. Em sua primeira partida oficial, a Alemanha venceu a Suíça por 5 a 1. Mesmo após a sua oficialização, a seleção chegou a ficar de fora das duas primeiras edições da Eurocopa (em 1984 e em 1987) antes de ter maior sucesso.

Histórico da seleção

Na terceira edição da Eurocopa Feminina, em 1989, a Alemanha foi a anfitriã e a campeã do torneio — que acabou por ser um divisor de águas em sua até então recente história. A final foi contra a Noruega (campeã da edição anterior) e terminou com vitória alemã por 4 a 1. A artilharia da equipe se dividiu entre três jogadoras: Ursula Lohn, Silvia Neid e Heidi Mohr, com dois gols cada —  cada equipe jogou, no máximo, quatro partidas na competição: ida e volta das quartas de final, semifinal e final. A Nationalelf acabou o campeonato como a melhor defesa.

Elenco alemão comemorando o título da sua primeira Eurocopa, em 1989 [Imagem: Reprodução/UEFA.com]

Na edição de 1991 (a Eurocopa acontecia a cada dois anos), a final se repetiu: Alemanha e Noruega se enfrentaram por um bicampeonato que seria inédito no torneio. A Alemanha venceu novamente, dessa vez por um placar de 3 a 1 na prorrogação. A equipe teve o melhor ataque do torneio e, para isso, contou com a artilheira da competição, Heidi Mohr, que teve uma média de quase dois gols por jogo: marcou sete gols em quatro partidas. A Euro de 1991 serviu como eliminatória europeia para a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino da história, também em 1991, e classificou a Alemanha para o torneio.

Uma vez no mundial, a Alemanha ganhou os três jogos da fase de grupos e se classificou em primeiro lugar, avançando para as quartas. Lá, enfrentaram a Dinamarca, seleção que ficou em terceiro lugar na Eurocopa daquele ano, e venceu na prorrogação. Na semifinal, porém, as alemãs enfrentaram a melhor equipe da competição, os Estados Unidos — time que viria a ser o campeão da Copa. Na disputa de terceiro lugar, a Alemanha também perdeu, desta vez para a Suécia. Apesar de não ter conseguido chegar à final, Heidi Mohr foi novamente o destaque positivo e terminou como vice-artilheira, com sete gols marcados.

A seleção alemã voltou a ganhar a Eurocopa em 1995, em vitória por 3 a 2 na final diante da Suécia. Novamente, a Alemanha teve o melhor ataque e Heidi Mohr foi a artilheira da competição, agora com cinco gols. No mesmo ano, disputou a Copa do Mundo, em que terminou em primeiro lugar no seu grupo, com três vitórias em três jogos, ganhou da Inglaterra e da China e chegou a sua primeira final no torneio. Porém, a boa seleção alemã não conseguiu vencer a sua já conhecida rival: a Noruega, que foi campeã ao vencer por 2 a 0.

Dois anos depois, em 1997, a Alemanha foi campeã europeia pela quarta vez. Nessa campanha, a Alemanha sofreu apenas um gol e foi a melhor defesa da competição. As alemãs eliminaram a Suécia na semifinal e, na final, venceram por 2 a 0 a Itália, equipe de melhor ataque e que tinha a artilheira da competição, Carolina Morace. A partir de então, a Eurocopa Feminina passou a ser realizada a cada quatro anos. Logo, a próxima edição só veio em 2001.

Antes disso, na Copa do Mundo de 1999, o time teve uma campanha abaixo do esperado e terminou em segundo lugar no seu grupo. A eliminação veio na primeira fase de mata-mata, nas quartas de final, para os Estados Unidos. Apesar da decepção, foi depois desse campeonato que se iniciou a “era de ouro” da seleção: a Nationalelf ganhou as cinco grandes competições que disputou em sequência: três Eurocopas e duas Copas do Mundo.

Na Eurocopa de 2001, sediada na Alemanha, a seleção fez valer o mando e venceu todos os cinco jogos, além de ter sido o melhor ataque e a melhor defesa. A equipe ficou em primeiro lugar em um grupo que tinha a Suécia, venceu a Noruega na semifinal e voltou a vencer a Suécia na grande final. Duas alemãs, Claudia Muller e Sandra Smisek, dividiram a artilharia do torneio, com três gols cada.

Em 2003, veio o primeiro título de Copa do Mundo. A Alemanha teve, disparadamente, o melhor ataque da competição — Birgit Prinz, artilheira e melhor jogadora da copa, foi responsável por sete dos 25 gols feitos pela seleção alemã. O time venceu todos os jogos disputados, com direito a um 7 a 1 contra a Rússia nas quartas, um 3 a 0 contra os EUA na semifinal e um 2 a 1 na grande final, novamente contra a Suécia.

Elenco alemão comemorando o título da sua primeira Copa do Mundo, em 2003 [Imagem: Reprodução/Twitter/@FIFAWWC]

As excelentes campanhas continuaram: na Eurocopa de 2005, mais uma campanha com 100% de eficiência garantiu o título contra a Noruega na final, além de mais uma artilharia do campeonato para a seleção, desta vez com Inka Grings. Na Copa do Mundo de 2007, a brasileira Marta foi a artilheira e levou o Brasil até a final. No entanto, a seleção canarinho não conseguiu passar pela poderosa defesa alemã — que não tomou nenhum gol no campeonato — e perdeu o jogo por 2 a 0. Já em 2009, Grings ficou novamente com a artilharia da Eurocopa, e a Alemanha novamente com o título. O time ganhou todos os jogos e, na final, ainda goleou a Inglaterra por 6 a 2.

A seleção já se encontrava como uma das maiores do mundo, com duas Copas do Mundo e sete Eurocopas conquistadas. Na Euro seguinte, em 2013, as alemãs tiveram uma campanha um pouco mais modesta. Embora não tenham vencido todas as partidas, nem tido o melhor ataque, elas venceram Itália, Suécia e Noruega (na final) por 1 a 0 e garantiram mais um troféu — o sexto consecutivo entre 1995 e 2013.

Antes mesmo de ser hexacampeã europeia de forma consecutiva, a Alemanha jogou a Copa do Mundo de 2011. A equipe chegou como a atual bicampeã, mas uma derrota por 1 a 0 nas quartas de final diante do Japão acabou com os sonhos do tricampeonato. Na Euro de 2017, outra derrota na primeira fase do mata-mata, desta vez para a Dinamarca, eliminou as chances de um heptacampeonato consecutivo no continente e encerrou uma dinastia que já durava mais de 20 anos. 

Nas Copas do Mundo de 2015 e 2019, a Alemanha perdeu na semifinal para os EUA, e nas quartas para a Suécia, respectivamente. Na última Eurocopa, em 2022, disputada em solo inglês, teve uma ótima campanha, uma sólida defesa e a atacante Alexandra Popp como co-artilheira do campeonato ao lado de Beth Mead, da Inglaterra. Mas na final, contra a própria Inglaterra, a Nationalelf perdeu na prorrogação por 2 a 1 e viu o time-sede levantar a taça.

Já nas Olimpíadas, a Alemanha nunca havia conseguido repetir o bom desempenho que tinha em outras competições importantes. Isso mudou em 2016, no Brasil: o país não fez uma boa fase de grupos e passou em segundo lugar pelo critério do saldo de gols (fez apenas um gol a mais do que a Austrália, que passou de fase como uma das duas melhores terceiras colocadas). Já nas quartas e na semifinal, ganhou da China e do Canadá, respectivamente, e chegou à final. Na final, o placar de 2 a 1 contra a Suécia garantiu o título inédito à seleção alemã, que ainda teve o melhor ataque e a jogadora Melanie Behringer como a artilheira do campeonato.

Jogadoras históricas

Birgit Prinz 

A lendária jogadora alemã fez sua estreia na seleção com apenas 16 anos e encerrou a sua carreira internacional com 128 gols em 214 jogos. Com a Alemanha, foi bicampeã da Copa do Mundo em 2003 — edição na qual foi a artilheira e melhor jogadora da copa — e em 2007, além de ser pentacampeã da Eurocopa tendo vencido todas as edições que disputou. Prinz ainda ganhou o prêmio de melhor jogadora do mundo da Fifa por três vezes consecutivas (entre 2003 e 2005), além de ter ficado na vice-colocação em diversas ocasiões. Além disso, ganhou com o Frankfurt, por três vezes, a Liga dos Campeões Feminina da Uefa.

Silvia Neid 

Capitã nos três primeiros títulos da história da seleção (Eurocopas de 1989, 1991 e 1995), Neid ainda se tornou treinadora da Alemanha entre 2005 e 2016, conquistando mais duas Eurocopas, em 2009 e em 2013, além de uma Copa do Mundo, em 2007, e um ouro olímpico, em 2016.

Inka Grings 

Terceira maior artilheira da história da Alemanha, com 64 gols, a ex-atacante não esteve presente nos dois títulos mundiais da seleção. Apesar dos títulos da Eurocopa em 2005 e em 2009, quando foi artilheira, Grings não participou do elenco campeão mundial nem em 2003 — devido a uma lesão —, nem em 2007, quando ficou de fora devido a desentendimentos com a técnica Neid (a jogadora já era uma das grandes goleadoras do mundo no período). Na Copa de 2023, será técnica da Suíça.

Heidi Mohr 

Com 83 gols em 104 jogos pela Alemanha, ganhou os três primeiros títulos internacionais da seleção feminina (Eurocopas de 1989, 1991 e 1995). Nas duas últimas edições, foi artilheira e, em 1991, bateu o recorde de gols em uma só edição de Eurocopa Feminina, com sete gols marcados.

Nadine Angerer 

Goleira histórica da Alemanha e campeã mundial em 2003 e em 2007 (como reserva e como titular, respectivamente), foi a primeira goleira na história a ser eleita pela Fifa como a melhor jogadora do mundo, em 2013. Além disso, esteve presente no elenco campeão da Eurocopa de 2001, ainda como reserva, e foi titular nas conquistas continentais de 2009 e de 2013 (nessa última, foi a capitã).

Nadine Keßler (Kessler) 

Titular na conquista da Eurocopa em 2013, Kessler ganhou o prêmio de melhor jogadora do mundo da Fifa em 2014. Apesar disso, jogou pouco pela seleção e nunca chegou a disputar uma Copa do Mundo.

A luta contra o preconceito

Em 2019, antes da Copa do Mundo, a seleção feminina alemã de futebol postou um vídeo em suas redes sociais, em manifestação contra o preconceito sofrido pelo futebol feminino. No vídeo, as jogadoras comentam sobre como as pessoas não as conhecem, nem sabem sobre as conquistas da própria seleção, e afirmam: “Jogamos por uma nação que nem sabe os nossos nomes”.

Com frases de efeito como “Nós não temos bolas, mas sabemos como usá-las”, as jogadoras criticam o preconceito promovido por pessoas que duvidam de suas habilidades futebolísticas apenas por serem mulheres em um esporte que é, por muitas vezes, extremamente machista.

Sobre a falta de reconhecimento, comentam: “Não se preocupem, vocês não precisam saber quem nós somos. Vocês só precisam saber o que queremos. Nós queremos jogar nosso próprio jogo, no nosso próprio ritmo”.

Expectativas para a Copa do Mundo 2023

Ocupando o segundo lugar no ranking Fifa das seleções femininas de futebol, a Alemanha vai para a Copa do Mundo 2023 com fortes expectativas para o seu tricampeonato. A equipe treinada por Martina Voss-Tecklenburg é a atual vice-campeã da Eurocopa e conta com a presença de boas jogadoras. 

Entre os nomes de destaques da Alemanha, pode-se citar a atacante Alexandra Popp, que é líder tanto dentro – como capitã – quanto fora dos gramados – como porta-voz da seleção nacional e influenciadora da mentalidade do grupo. A jogadora tem como principais pontos fortes o domínio que tem no jogo aéreo e seu faro de gol, essenciais para atingir a artilharia da última Eurocopa ao lado da inglesa Mead, com seis gols, além de ter sido indicada ao prêmio ‘The Best’ na última temporada, ter ganhado o ouro olímpico em 2016 e já ter participado das últimas três Copas do Mundo, sendo capitã em 2019. Além dela, Lea Schuller também é um bom nome para o ataque.

O meio-campo está recheado de talentos, com Sara Dabritz, que também esteve presente na seleção campeã da Eurocopa em 2013, além de ter sido essencial para a conquista das Olimpíadas de 2016, com três gols feitos; Lena Oberdorf, que, com apenas 21 anos, esteve na seleção da Fifa de melhores jogadoras do mundo em 2022 e foi indicada ao prêmio ‘The Best’; e Svenja Huth, capitã da seleção na final da última Eurocopa – Popp ficou fora da decisão por uma lesão – , é muito conhecida pela sua movimentação em campo e por entregar tudo pela equipe, além de levar perigo pelas alas.

Para o sistema defensivo, Marina Hegering seria a muralha ideal na defesa alemã, mas por estar sofrendo com lesões, é possível que a sua companheira de zaga Kathrin Hendrich seja o principal nome no setor. No gol, duas ótimas opções fazem a Nationalelf não ter com o que se preocupar: Merle Frohms e Ann-Katrin Berger. Frohms, conhecida por sua agilidade sob o travessão e técnica com a bola nos pés, ergueu a taça da Copa da Alemanha, foi vice do campeonato nacional e alcançou a final da Liga das Campeãs da UEFA nesta temporada. Berger, que vem fazendo ótimas atuações com o Chelsea nos últimos anos, foi campeã do campeonato inglês e da Copa da Inglaterra, além de defender duas cobranças de pênaltis contra as então atuais campeãs da Liga dos Campeões, Lyon, para classificar seu time às semifinais.

Uma curiosidade muito interessante é que Berger, em novembro de 2016, foi diagnosticada com câncer na tireoide. Acontece que, nas vésperas da final da Eurocopa de 2022, a goleira descobriu que seu câncer havia voltado, o que não a impediu de seguir fazendo grandes jogos com o Chelsea, já que voltou aos campos dois meses depois.

Assim, Martina Voss-Tecklenburg usa o Wolfsburg, vice-campeão da Liga dos Campeões neste ano, como base de sua seleção, já que Popp, Huth, Oberdorf, Hegering, Hendrich e Frohms fazem parte do elenco do time alemão.

Jogadoras do Wolfsburg na final da Liga dos Campeões, em 2023, contra o Barcelona [Imagem: Reprodução/Instagram/@vfl.wolfsburg.frauen]

*Imagem de Capa: Reprodução/Instagram/@dfb_frauenteam

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