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Cornerman Fight Night: evento transmitiu UFC 319 com direito a cerveja grátis

Ginásio Cornerman recebeu atletas e amantes do MMA para torcerem pelos brasileiros da Fighting Nerds em uma watch party da noite de UFC

Por Letícia Longo (letlongo2006@usp.br) e Manuela Trafane (manutraf@usp.br)

Na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, fica a academia Cornerman. Em dias normais, o maior ginásio de lutas da América Latina é repleto de atletas de Muay Thai, Boxe e Jiu-Jitsu, mas esse não era um dia normal: era o dia do UFC 319. A luta aconteceu em Chicago, nos Estados Unidos, e foi transmitida em tempo real pela Cornerman. Os atletas e espectadores começaram a chegar às 19h do dia 16 de agosto, mas só saíram às 2h do dia seguinte.

O Ultimate Fighting Championship (UFC) é uma organização de Artes Marciais Mistas (MMA), que produz eventos regulares de luta ao redor do mundo. O UFC 319 é um dos eventos esporádicos organizados pela corporação. Contava com cinco brasileiros participantes – o número é fruto do crescimento da popularidade das artes marciais no país. Quando concebido, o UFC tinha como objetivo determinar qual a luta mais eficiente em combate — quase não existiam regras, as únicas proibições eram mordidas e enfiar dedos nos olhos do adversário. Após críticas sobre a falta de regulamentos, a empresa passou por uma reformulação que definiu a maioria das características adotadas hoje. As lutas são projetadas para serem testes de resiliência e habilidade, enquanto englobam características dos mais variados tipos de luta. Pode-se adotar a estratégia de dominar um estilo, ou de combinar vários para alcançar a vitória.

Funciona assim: em um ringue em formato de octógono, os atletas lutam rounds de cinco minutos, que variam entre três, em lutas padrão, e cinco, quando competem pelo título. O sistema de pontuação concede até dez pontos por round, com base na trocação, no ataque, na defesa, na técnica, no domínio do ambiente… Os juízes definem o ganhador caso não haja finalização durante a luta – um nocaute ou uma manobra que impeça movimento são tipos de finalização.

Para acomodar os espectadores da Cornerman, foram colocados sacos de pancada deitados pelos tatames, simulando bancos ou até mesmo travesseiros. Na frente deles, uma enorme tela, pela qual olhos vidrados observavam a competição. Além dessa, também havia outras três TVs acima de um dos ringues, para quem estava na arquibancada ou no balcão (área VIP). Vários dos adultos presentes tinham em suas mãos copos vermelhos de cerveja com o nome “Spaten”. A marca se tornou patrocinadora oficial do UFC no Brasil em meados de 2024. O acordo fechado garante sua participação em todas as iniciativas do Ultimate pelo país, além da promoção de seus produtos em arenas esportivas. Na Cornerman, um stand ao fundo distribuía a bebida em copos ou na própria garrafa, “para ser apreciada com moderação”.

Público da Cornerman acompanha transmissão do UFC

O octógono surgiu como formato ideal para ser lar das lutas da UFC porque, diferente dos ringues do boxe, não dava espaço para fuga — sem cantos para fugir ou cordas para se segurar, o atleta era obrigado a lutar [Imagem: Acervo Pessoal/Letícia Longo]

A noite contou com 12 lutas transmitidas no total, mas os panfletos do evento anunciavam dois atletas em especial: Karine Silva e Carlos Prates. Os brasileiros fazem parte do time “Fighting Nerds”, que treina na Cornerman. 

Fighting Nerds

O time que disputa o UFC tem como descrição do Instagram IT’S BULLYING PAYBACK TIME” (É hora da revanche ao bullying), e prega uma luta analítica e técnica. Como forma de identidade visual, os lutadores usam óculos de hastes pretas com um esparadrapo no meio, uma alusão à estética nerd

A ideia surgiu com Pablo Sucupira, que sofria bullying por ser “baixo e quieto” quando pequeno — um clássico nerd.  Começou a praticar boxe e Muay Thai, mas logo virou treinador. Após algum tempo, conheceu Caio Borralho, e juntos eles formaram a Fighting Nerds, por volta de 2014.

O atleta Jean “Lord” Silva faz parte do grupo, e o descreve como mais que uma equipe: “A Fighting Nerds traz o conceito de transformar o ser humano em uma pessoa melhor, e também de transformar o atleta em provedor, provedor de si, da sua família”.

Destaque da temporada, o time conta com dezenas de atletas. Além de Jean, Ícaro Brito e Mauricio Ruffy estavam presentes na watch party, torcendo por seus parceiros de equipe junto aos fãs do esporte. O primeiro trazia em seu pescoço uma corrente com a logo do time, além de sua tatuagem com o mesmo símbolo. Ambos estavam nervosos sobre as lutas de seus companheiros: “Sou muito mais sair na mão do que ver meus irmãos saindo na mão”, diz Ruffy. A tensão estava no ar.

4 membros da fighting nerds, equipe brasileira que disputa o UFC

The Fighting Nerds foi eleita a Academia do ano em 2024 pelo MMA Awards 2024 [Imagem: Reprodução/Instagram: @fightingnerds]

Karine Killer Silva

Karine deveria lutar com JJ Aldrich naquela noite, mas a americana desistiu de última hora por motivos desconhecidos. Quem a substituiu foi Dione Barbosa, brasileira do time Kings MMA

As duas entraram para competir no peso mosca feminino. Essa luta era uma chance de revanche, pela derrota de Silva em 2019, na competição Katana Fight. O primeiro round acabou com Killer no chão, mas não derrotada. Os segundo e terceiro foram agitados, com momentos no tatame e outros de trocação em pé. 

Depois da discussão entre os juízes, o braço da atleta do Fighting Nerds foi levantado pelo árbitro, anunciando um revide bem-sucedido. A academia vibrou pela primeira vitória da equipe, descrita por Ícaro Brito como “uma verdadeira guerra”. A conquista classificou Karine Silva no 10º lugar no ranking peso-mosca feminino do UFC. Entretanto, o nervosismo ainda não havia acabado: a luta de Carlos Prates viria em seguida.

Boxe

Entre uma luta e outra, a Cornerman proporcionou uma demonstração ao vivo. Dois membros da equipe Tony Boxe lutaram em um dos ringues na academia. Seu treinador, Antônio Pereira Gomes Filho, ou Tony, ministra aulas no espaço como coordenador, mas também treina atletas de alta performance, como Hugo Paiva e Ricardo Santana. 

As pessoas presentes ali, inicialmente pelo MMA, faziam comentários como: “Caramba, ele sempre bloqueia!”, e emitiam o clássico som “Uuh!”, quando um deles acertava o soco. Após uma sequência de golpes eletrizante, o sino tocou quatro vezes e culminou em empate; os dois se abraçaram e sorriram para o público.

Enquanto o boxe é um esporte de combate limitado apenas a socos com as mãos, o MMA combina diversas artes marciais (boxe, Jiu-Jitsu, Muay Thai, etc.), permitindo socos, chutes, quedas e finalizações  [Imagem: Acervo Pessoal/Letícia Longo]

Carlos Prates

O brasileiro entrou no ringue. Em seu peito levava o Muay Thai, não só metaforicamente: uma gigantesca tatuagem com o nome do esporte está estampada debaixo de seu pescoço. Iniciou no Muay Thai sua carreira no mundo da luta, com 16 anos, e só migrou para o MMA algum tempo depois. Por conta de seu passado, utiliza muitos chutes durante suas batalhas.

O narrador da UFC anunciou: “Carlão está com fome de luta”, o que pôde ser visto pelo espectador da Cornerman em alta-resolução na tela. O membro da Fighting Nerds avançava com seus pés e punhos, muitas vezes encurralando o outro atleta. Seu parceiro de profissão, Maurício Ruffy, apostou em um nocaute no segundo round. Mas, faltando três segundos para acabar o tempo do primeiro round, Prates girou e acabou o movimento com uma cotovelada no rosto do oponente, que caiu no chão. Então ouviu-se o apito anunciando sua vitória. O resultado rendeu a ele o bônus de Performance da Noite e sua quinta vitória no UFC.

Em entrevista ao UFC Brasil, Carlos disse não saber que faltava apenas um segundo para o fim do round antes de dar a cotovelada. “Eu nem escutei. Estava tão focado no cara. Tão focado nas mãos do cara e em não tomar um golpe inteiro que eu nem sabia.”

Cornerman

O ginásio foi inaugurado há apenas dois meses, mas já conta com spa, restaurante, podcast, e recebe o time Fighting Nerds em seus treinos secretos — realizados em horários fora do expediente normal da academia ou com o octógono coberto. A CEO do estabelecimento, Sonia Kim, quer tornar os eventos rotineiros: “A gente quer criar uma cultura, esperamos que todos venham aqui torcer para os brasileiros nos cards”. Além da cerveja gratuita, era possível comprar drinks e lanches no restaurante da própria Cornerman, por preços entre $30 e $60. Os presentes também podiam participar de sorteios concorrendo a itens de artes marciais e day-uses na Cornerman.

O evento também contava com um DJ tocando durante os intervalos das lutas para criar uma atmosfera mais divertida aos convidados.  [Imagem: Acervo Pessoal/Letícia Longo]

Acho que em alguns lugares, infelizmente, existe um pouco de preconceito com a luta, até pelos investidores. Mas é um esporte, não é? Eu sinto que as pessoas que chegam aqui e nos veem sentem o sonho delas um pouco mais próximo.”

Maurício Ruffy

*Foto de capa: [Acervo Pessoal/Letícia Longo]

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