Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

O fenômeno do trash talk no UFC

Trash talk é um termo em inglês utilizado para a provocação por meio de palavras ao adversário. A prática é feita durante coletivas de imprensa, por meio de redes sociais ou até mesmo durante a luta. O trash talk é bastante comum em esportes como basquete e boxe e vem ficando cada vez mais popular …

O fenômeno do trash talk no UFC Leia mais »

Trash talk é um termo em inglês utilizado para a provocação por meio de palavras ao adversário. A prática é feita durante coletivas de imprensa, por meio de redes sociais ou até mesmo durante a luta. O trash talk é bastante comum em esportes como basquete e boxe e vem ficando cada vez mais popular no MMA (Mixed Martial Arts) com os lutadores utilizando do artifício para promoção pessoal.

 

A história do trash talk

Gorgeous George é considerado o pai do trash talk nos esportes de combate. O americano foi uma estrela do prowrestling – famosas lutas combinadas nos Estados Unidos – e difundiu a prática de provocar os seus adversários antes dos confrontos. George tinha um estilo peculiar: era muito alto e vaidoso, usava sempre adereços em seu cabelo longo e loiro, além de um roupão que chamava atenção. O astro americano provocava seus adversários de diversas formas, desde a exaltar a si próprio até ataques variados a seus oponentes.

O melhor lutador de boxe de todos os tempos, Muhammad Ali, também utilizava do artifício do trash talk para se promover e desestabilizar quem iria enfrentá-lo. Ali tinha um ótimo senso de humor e utilizava dele para realizar suas provocações. Em diversas oportunidades em coletivas de imprensa, Ali conseguiu tirar risadas de todos que estavam presente fazendo previsões sobre sua própria luta, dizendo em que round nocautearia seu oponente e até mesmo durante as lutas falava no ouvido de seus adversários.

No UFC (Ultimate Fighting Championship), um dos primeiros lutadores de destaque a adotar o estilo falastrão e provocador foi o americano Tito Ortiz. Conhecido como bad boy de Huntington Beach, Tito foi campeão dos pesos meio-pesados do UFC (categoria até 93 quilos) e é integrante do Hall da Fama da organização. Durante sua carreira, provocava veementemente seus adversários, tendo uma comemoração onde encenava estar enterrando o oponente depois de o ter nocauteado. O lutador travou uma das grandes rivalidades da história do MMA com o também americano Chuck Liddell. Nos embates entre os dois, o trash talk estava muito presente, e o público se dividia entre quem gostava e quem odiava Tito Ortiz.

Tito Ortiz em sua famosa comemoração [Imagem: Getty Images]

Provocações que rendem dinheiro

Nos últimos anos, alguns lutadores bateram recordes de bolsa e de pay per view de maneira nunca antes vista. Um grande exemplo disso é Jorge Masvidal. O “Jesus das ruas” tinha uma carreira um tanto quanto discreta quando atuou pelo peso-leve no UFC. Após migrar para o peso meio-médio, Masvidal, combinando o trash talk com boas atuações, aumentou exponencialmente sua popularidade. Com isso, venceu Ben Askren e disputou o primeiro cinturão não oficial do evento com Nate Diaz, apenas para provar quem era o lutador mais “casca-grossa”. O evento foi um show de marketing com direito ao ator Dwayne ‘The Rock’ Johnson entregando o cinturão para Masvidal, que, além do título, levou um pagamento multimilionário para casa.

Passando para os dias atuais, Conor McGregor tornou-se o maior exemplo de uso do trash talk para a promoção de eventos e para recebimento de cada vez mais dinheiro. O irlandês possui os maiores recordes de pacotes de pay per view vendidos na história do UFC, além de uma superluta de boxe com Floyd Mayweather, que foi recheada de provocações e vendeu cerca de US$ 6,5 milhões em pay per view – recorde de todos os esportes de combate – e uma bolsa de US$ 30 milhões, sem contar patrocínios e premiações.

Conor McGregor em uma de suas atuações [Imagem: Jonh Locher]
Alguns lutadores, por não terem a vontade ou carisma necessários para exercer o papel do trash talk, acabam algumas vezes não conseguindo as mesmas oportunidades de lutas e de dinheiro que os atletas que o fazem. A esse respeito, o jornalista e integrante do podcast Decisão Dividida Lucas Rezende deu a sua opinião ao Arquibancada: “Lutadores excelentes dentro do octógono não recebem o mesmo apreço de caras provocadores por não investirem no trash talk e na promoção pessoal. Os esportes de combate dependem de narrativas para vender ingressos e pay per view”. 

Por esse motivo, alguns lutadores entram em um personagem forçado para tentar receber maior notoriedade por parte da imprensa, fãs e organizações. Um exemplo disso é o americano Colby Covington, que tinha uma atuação discreta nas entrevistas, e hoje é conhecido como um dos maiores falastrões do MMA.

 

Quando o trash talk passa dos limites

O trash talk costuma recompensar financeiramente melhor os atletas que o praticam, pois não existem muitos dispostos a assumir esse papel, que, muitas vezes, é visto como o de vilão por grande parte do público. Porém, na mesma proporção que consegue bolsas maiores, o lutador aumenta progressivamente o número de pessoas que torcem pelo seu fracasso. Quando ele perde, recebe uma enxurrada de xingamentos gerada pelo ódio acumulado de suas provocações. Sobre isso, Lucas afirma que “lutadores direcionam provocações para um grupo específico e fazem com que os fãs virem-se contra o atleta”. Em alguns casos, as provocações acabam ultrapassando  limites, com atletas ofendendo pessoas que sequer estão envolvidas no combate e até a população do país em que o adversário nasceu. Lucas emitiu sua opinião sobre o limite das provocações: “O trash talk  passa do ponto quando se confunde com discurso de ódio”, e completa: “Tem que ser uma provocação entre os lutadores, sem envolver outras pessoas”.

Alguns episódios que podem retratar esse desrespeito causados pelo trash talk foram realizados pelo mesmo lutador, Colby “Chaos’’ Covington. Em 2017, o americano veio até o Brasil para enfrentar Demian Maia, na cidade de São Paulo. Na entrevista pós-luta, após uma vitória por decisão unânime, Colby xingou os brasileiros presentes no local, chamando aqueles da torcida de “animais imundos”. O caso gerou revolta nos fãs e atletas brasileiros. Covington voltou a desrespeitar terceiros quando disputou o cinturão dos meio-médios contra o nigeriano Kamaru Usman, falando de seu falecido mentor e criador da academia Blackzilians, Glenn Robinson. Esse fato aumentou a rivalidade entre os dois e gerou pronunciamento por parte da família de Glenn. Dessa vez, Covington saiu derrotado no quinto round e sofreu hate por grande parte do público nas redes sociais.

Colby Covington após luta contra Kamaru Usman [Imagem: Jeff Bottari]
Uma rivalidade que desencadeou diversos problemas relacionados à violência foi entre o irlandês Conor McGregor e o russo Khabib Nurmagomedov. Os dois trocaram provocações por muito tempo, Conor chegou a ofender a esposa de Khabib chamando-a de “toalha de mesa” por estar usando um véu que cobria seu rosto, fazendo referência à religião do russo durante o casamento. McGregor durante um media day de Nurmagomedov em Nova York invadiu o local e arremessou uma grade em direção ao ônibus em que seu adversário se encontrava. A grade feriu um outro lutador e gerou enorme polêmica. A violência não parou por aí. Logo depois da luta entre os dois, em que McGregor fora finalizado por um mata-leão, Khabib pulou as grades do octógono e partiu para a agressão aos técnicos de Connor, o que acabou desencadeando uma pancadaria generalizada.

 

Os maiores falastrões do MMA

Chael Sonnen talvez seja o lutador com o maior caso de sucesso combinando suas habilidades com a sua boa comunicação para irritar seus adversários e se promover. Chael protagonizou uma grande rivalidade com o brasileiro Anderson Silva e enfrentou o campeão dos meio-pesados Jon Jones. 

O principal momento que simbolizou o poder de fala do americano aconteceu em 2011. Após finalizar Brian Stann, Sonnen pegou o microfone das mãos de Joe Rogan, comentarista do UFC, e disparou um desafio para uma revanche com Anderson Silva, dizendo que se perdesse largaria o esporte para sempre. Chael não cumpriu a promessa após ser nocauteado por Anderson, porém, conseguiu ter a oportunidade mesmo tendo sido pego no doping no primeiro duelo entre os dois. Chael Sonnen continua, até hoje mesmo após sua aposentadoria, comunicando-se com o público. O ex-lutador possui um canal no YouTube com milhares de inscritos, onde expressa suas opiniões sobre assuntos quentes do mundo da luta.

Chael Sonnen e o trash talk
Chael Sonnen e Anderson Silva em encarada durante a pesagem [Imagem: Divulgação UFC]
O maior falastrão da atualidade é Conor McGregor, além dos absurdos nas provocações na rivalidade com Khabib Nurmagomedov, Connor possui um grande currículo de confusões envolvendo outros atletas. Uma das maiores é com o brasileiro José Aldo. Na promoção da lutas entre os dois, houve um tour de coletivas de imprensa pelo mundo. Conor roubava os holofotes nas entrevistas com suas ofensas e provocações e até movimentos mais inesperados, como no dia em que tomou e levantou o cinturão que pertencia a Aldo em plena coletiva. Depois de tudo isso, o irlandês nocauteou o brasileiro em apenas 13 segundos e sagrou-se campeão. Posteriormente, Conor subiu de categoria e ganhou mais um cinturão, tornando-se um dos poucos a conseguir tal feito. Atualmente, McGregor é sinônimo de dinheiro para o UFC e para seus adversários. Cada vez mais aumenta o número de lutadores que desafiam Conor Mcgregor pensando na exposição midiática e retorno financeiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima