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Dia 03 | 9ªs Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos: O ressignificado da pose acadêmica

Entre o academicismo e o entretenimento, evento de histórias em quadrinhos é palco para a diversidade e abre possibilidades para o mundo da arte
A imagem de capa da matéria tem quatro estudantes em uma sala de aula fazendo poses com os braços para a câmera
Por Catarina Martines (catarina.martines@usp.br)

O penúltimo dia da 9ªs Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos contou com novidades na semana do evento. Além das sessões temáticas que ocorreram nos outros dias, a programação do dia 21 de agosto também contou com o lançamento de livros. Com início no dia 19 e fim no dia 22, o evento aconteceu no prédio central da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). A participação de doutorandos e alunos secundaristas de diferentes regiões do país e do mundo marca a pluralidade que esse evento representa para a comunidade de fãs das histórias em quadrinhos (HQs). 

Ao longo do dia, várias sessões ocorreram e cada pesquisador teve o tempo de 15 minutos para apresentar seu trabalho, além de meia hora de debate ao final da mesa. Com apresentações de slides coloridas e um público interessado no mundo das HQs, cada discussão abriu uma nova face a ser explorada nesse tipo de produção e relembrou que tudo pode ser arte. O Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP organizou o evento e dividiu as pesquisas em quatro eixos temáticos: artes e mídia, educação e inclusão, história e sociedade e linguagem e narratividade.

Um ponto de encontro

Rachel Cosme Silva dos Santos é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da UFG (Universidade Federal de Goiás) e veio para as Jornadas como parte de um grupo de pesquisa chamado Cria_Ciber, que contou com a participação de mais sete integrantes nesta edição. Ela fez parte de uma sessão ao longo da semana junto de outras colegas que destacavam a presença das mulheres no grupo de pesquisa no qual atuam. Rachel destacou a relevância desse evento como um ponto de encontro e compartilhamento entre pesquisadores da área.

“Aqui é um dos poucos lugares onde a gente não precisa bater na tecla de que quadrinho é arte. Então, é muito importante estarmos aqui para entender o que está rolando nesse ambiente e poder levar essas discussões para o nosso meio acadêmico dentro do cenário da UFG”, colocou a pesquisadora.

A feira de livros que ocorreu no segundo andar no prédio da central ECA contou com mangás e HQs de gêneros diversos [Imagem: Acervo pessoal/Catarina Martines]

As artes de uma quinta-feira

As sessões tiveram em média quatro trabalhos apresentados nos horários entre 14:00 e 15:30 e entre 16:00 e 17:30. No dia 21, a sessão do eixo temático Quadrinhos, Artes e Mídias conduzida pela professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Maria Isabel Borges contou com três apresentações.

Alice Nascimento Alcarde, aluna da mediadora da sala, analisou aspectos do conto de terror Na companhia dos túmulos de Junji Ito. Durante sua apresentação, ela destacou os elementos da literatura fantástica construídos pelo desenhista, que formam uma atmosfera que coloca em dúvida o imaginário, o real e a presença do sobrenatural. Santhyago Camello, doutorando em Estudos Literários pela Universidade Federal Fluminense (UFF), também explorou o gótico em sua fala através de uma análise da adaptação para os quadrinhos de um conto de Aluísio de Azevedo.

A pesquisadora Alice Nascimento Alcarde apresentou o conto de Junji Ito no qual baseou seu trabalho [Imagem: Acervo pessoal/Catarina Martines]

A doutoranda da UFG Sarah Carvalho Colodeto explorou o folclore goiano e sua representação em HQs autorais brasileiras na sua apresentação. Logo no início de sua fala, a pesquisadora questionou, em tom provocativo, se o público que a ouvia conhecia alguma lenda folclórica do centro-oeste. Ao receber apenas respostas negativas, Colodeto apresentou os personagens abordados em seu trabalho, como as figuras do Rodeiro, do Caboclo d’água e do Pé-de-garrafa.

Além de narrar as histórias às quais eles pertencem, a representação dessas figuras nos desenhos feitos pela artista fez o público se encantar com as lendas que nunca antes tinham ouvido falar. Além da pesquisa apresentada, a goiana também divulgou seu livro Desestruturar: o prólogo, publicado de forma independente. “A arte como entretenimento é fundamental, principalmente porque, sem entretenimento, a gente não está vivo”, destacou a artista ao explicar o papel que tenta desempenhar com seu processo criativo.

Os trabalhos apresentados lidaram com as temáticas do imaginário popular, do mistério, do sobrenatural e dos medos profundos da sociedade. As três mesas nortearam suas discussões em torno da questão: o que é o gótico? Mesmo com épocas e contextos diferentes, os temas apresentados possuem características desse estilo. Os palestrantes concluíram que a definição mais precisa não utiliza esse termo para rotular as obras e sim para abarcar suas profundidades emocionais e visuais.

A palavra e o traço

A edição das Jornadas contou com a participação de mais de 200 inscritos, incluindo ouvintes, apresentadores de trabalhos e membros da Comissão Científica. A interação entre o público e as apresentações contou com perguntas complexas, trocas de contato e convites para futuros eventos. Durante as sessões, era comum encontrar participantes que desenhavam em seus cadernos. Um desses desenhistas era o orientador de Colodeto e de Cosme: Edgar Franco (Ciberpajé) é artista transmídia, professor e pesquisador na Faculdade de Artes Visuais da UFG, onde coordena o grupo de pesquisa Cria_Ciber.

O Ciberpajé vestia roupas coloridas, uma cartola e vários anéis de caveira nos dedos. Embora sua aparência fuja dos padrões de um professor universitário, ele é um dos pioneiros na defesa dos trabalhos voltados para histórias em quadrinhos no país. O professor entende que as Jornadas legitimam essa área de pesquisa, que enfrenta constantes desafios para seu reconhecimento. “Mas, aos poucos, esse panorama está se ampliando e melhorando. E as Jornadas de Quadrinhos da USP é o principal evento da área no Brasil, indiscutivelmente, um dos mais importantes da América Latina. Então, eu acho que apresentar os trabalhos aqui se tornou quase que algo fundamental”, apontou o artista.

A “pose acadêmica” criada pelo Ciberpajé foi pensada como uma forma de juntar o meio acadêmico com o entretenimento gerado pelas histórias em quadrinhos [Imagem: Acervo pessoal/Catarina Martines]

*[Imagem de capa: Acervo Pessoal/Catarina Martines]

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