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“Salve, salve o meu Leão querido!”: 100 anos de Mirassol FC

Conheça a história, os ídolos e os feitos do Leão do Interior em tantos anos de tradição e paixão
Por Letícia Oliveira Menezes (leticiaomenezes@usp.br), Davi Milani (davimilanip@usp.br) e Nina Nassar (niiina@usp.br)

Neste domingo (9), o Mirassol enfrenta o Palmeiras num dia mais que especial: seu centenário. O Leão do Interior, que ainda não sabe o que é perder em seu estádio, tem uma motivação extra para confirmar mais uma vez que não veio para a primeira divisão a passeio. Confira mais sobre a história do time na reportagem abaixo! 

A formação do clube

O Mirassol Futebol Clube foi fundado no dia 9 de novembro de 1925, a partir da ideia da criação de um time que pudesse representar a cidade nas competições regionais. O clube seguiu no amadorismo até 1951, quando estreou na segunda divisão Campeonato Paulista.

Com a dificuldade de se manter em uma competição de nível estadual e profissional, o Mirassol voltou ao amadorismo e permaneceu por nove anos distante do futebol profissional. Foi só em 1960 que o time voltou à terceira divisão, conseguindo acesso para disputar à segunda no ano seguinte. 

No período em que o time disputou competições amadoras, surgiu na cidade outro clube: o Grêmio Recreação e Esportivo Cultura (GREC) foi rival do Mirassol na segunda divisão nos anos de 1962 e 1963, até que as diretorias resolveram se fundir, como uma forma de  aumentar o aproveitamento da cidade nas competições. Por 18 anos, o Mirassol Atlético Clube representou a cidade no Campeonato Paulista, mas a parceria foi desfeita, e somente o Mirassol Futebol Clube voltou aos gramados profissionais. 

Equipe do Mirassol em 1951

1951 foi o ano da profissionalização do Leão Caipira [Imagem: Reprodução/Globoplay]

Até que estreasse na elite do futebol paulistano, comumente chamada de série A1, em 2008, o time intercalou entre a segunda e a terceira divisão da competição Em 1997, o Mirassol conquistou o título da série A3 do Campeonato Paulista.

Desde seu ingresso na série A1, o clube não conseguiu ser regular durante a temporada e, somente em 2020, conseguiu acesso a competição de maior prestígio nacional: o Campeonato Brasileiro. O Mirassol foi campeão da série D em 2021, da série C em 2022 e permaneceu na série B por dois anos, chegando a elite nacional de futebol no ano de seu centenário. 

Rafael Guanaes: pilar da revolução tática

O treinador Rafael Guanaes é a prova de que a carreira na vida adulta pode ser tão legal quanto as paixões da infância. 2025 é seu primeiro ano na elite do futebol brasileiro, assim como o de sua equipe. O técnico, de 44 anos, se encantou pelo trabalho através de tardes de videogames com os amigos. Apaixonado por jogos como Elifoot, Brasfoot, Championship Manager e Football Manager, inconscientemente, Guanaes desenhou sua futura carreira ainda quando criança. 

A ideia de Football Manager é iniciar uma carreira virtual em um time pequeno, e o desafio se trata de fazê-lo crescer e alcançar novas conquistas. Guanaes completou tal profecia por diversos clubes, com vitórias por todos os times com os quais trabalhou: o acesso à Série A3, com o Atlético Joseense, a segunda divisão 2015, com o São Carlos, a Copa Paulista, com o Votuporanguense, o Campeonato Paranaense, com o time sub-23 do Athletico Paranaense, e mais. Agora, ele demonstra, com uma campanha sensacional no Brasileirão, que a série A é apenas o começo de sua história no Mirassol.

             Rafael Guanaes, identificado por torcedores como parte da “espinha dorsal da equipe” [Imagem: Reprodução/Instagram: @rafaelguanaesoficial]

Jogadores que fizeram história

Cássio Luís Rissardo, conhecido mais como “Xuxa”, fez história no clube e marcou seu apelido para sempre, eternizado em diversas homenagens no CT e na torcida. Segundo Fagner Figueiredo, torcedor fanático, “o Xuxa é o maior ídolo do Mirassol por conta dos mais de 150 jogos que já fez pela equipe. Ele nunca foi campeão com o time, porém teve o acesso à Série A1 e jogou várias e várias vezes aqui”. 

Com diversas passagens por clubes do interior paulista, Xuxa se consagrou no Mirassol com 153 partidas. Sua última passagem pelo clube foi em 2018, para disputar o Paulistão, já com 37 anos de idade. O meio-campista sempre comenta em entrevistas o carinho que sente por Mirassol, tanto pelo time, quanto pela cidade. Nos bastidores dessa última estadia no clube, o camisa 10 desempenhava um papel de responsabilidade e liderança muito forte, e se tornou uma referência e um apoio para os novos jogadores.

Fagner comenta que os jogadores todos gostam muito da cidade de Mirassol também porque lá, levam uma vida normal: “encontramos os jogadores no mercado, fazendo compras, ou no shopping, e ninguém os para ou pede uma foto.”

Outro grande ídolo é o meia Camilo, que dentre os 20 clubes nos quais trabalhou, tem o Mirassol como o clube que escolheu para fincar raízes. Em quatro temporadas, disputou 105 partidas, marcou 26 gols, deu 11 assistências e conquistou a Série C de 2022. O maior momento de sua carreira foi a convocação para a seleção brasileira, em 2017. O atleta também entrou em campo no chamado “Jogo da Amizade”, partida disputada com a Colômbia em homenagem às vítimas do acidente da Chapecoense.

De acordo com Fagner, Camilo está sempre pela cidade, jogando lá ou não. “Ele estava jogando no Botafogo da Paraíba e ainda vem para Mirassol para participar da festa do centenário”. O ídolo participou, inclusive, da chegada do ônibus do clube quando subiram à Série A. Agora, o próximo passo da carreira de Camilo é virar treinador: com 39 anos, se prepara para adquirir a Licença A da CBF e iniciar seu caminho como técnico.

Torcida de Camilo durante sua passagem no Botafogo do Rio, onde fez 26 gols [Imagem: Reprodução/Instagram: @camilo10]

O coração do time atual é Guilherme Negueba, que, nas palavras de Fagner, “vem crescendo junto com o Mirassol”. O craque chegou ao clube em 2022, na série D, e tem sido essencial para a conquista de todos os acessos às séries seguintes. É o primeiro a superar Xuxa no número de jogos, com mais de 154 jogos pelo time. Negueba possui contrato com a equipe até 2027, e ainda tem muita história para fazer até lá.

Retrospectos e perspectivas para os próximos anos

Quem pensa que o Mirassol é um time montado às pressas, sem um projeto maior, se engana. O clube é um exemplo de gestão responsável, que evita impulsividades, como contratar grandes estrelas ou jogadores midiáticos; em vez disso, aposta em seu elenco e scout.

Fagner Figueiredo explica que há três pilares na fase atual do Mirassol. Tudo começa pela diretoria, que é um grande destaque. Depois vem a comissão técnica,  muito precisa na escolha do Guanaes, um treinador ofensivo, que tem suas convicções. E então, o grupo. “Os jogadores que foram escolhidos entenderam a proposta da equipe”, relata o torcedor.

Após conquistar o título histórico da série C em 2022 e quase garantir o acesso no ano de 2023, terminando a série B em sexto  lugar, o Leão do Interior finalmente chegou ao apogeu do futebol brasileiro, quando vice-campeão em 2024. Pela primeira vez em sua história, iria disputar a série A do Campeonato Brasileiro, com  boa parte do elenco do ano anterior somada à contratação de Rafael Guanaes para ser técnico da equipe.

 “Não perco um jogo. Se tiver algum outro compromisso, eu cancelo. Ou fico com o celular do lado, assistindo”

Newton Cláudio, torcedor roxo (ou amarelo) do Mirassol

Com o reconhecimento da grandeza dos adversários da primeira divisão, o Mirassol esperava lutar pela permanência. Em entrevista ao Arquibancada, o torcedor Newton Cláudio, 62, natural da cidade de Mirassol, destacou que o fato de ser a primeira vez do Leão disputando a primeira divisão já o colocava como candidato ao rebaixamento.

“A expectativa era de um ano brigando para não cair. Meu sonho era a 13ª, 14ª posição. Já seria uma maravilha! O importante é se manter”, destacou. O Mirassol enfrentou muita desconfiança por parte da mídia brasileira e de equipes rivais, que o consideravam um adversário muito abaixo do nível. O presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF-PE) chegou a dizer que “Mirassol não é clube de série A”, em uma coletiva de imprensa da pré-temporada.

“O que chateia os dirigentes, torcedores e a cidade como um todo foi terem não só rebaixado o Mirassol, mas terem colocado como candidato a pior campanha da história, como se fosse ser o pior time que já disputou a série A.”, apontou Newton

Equipe atual do Mirassol

Na legenda do post após a vitória sobre o Sport, “Alguém sabe me dizer o que é que o DANADO Mirassol vai fazer em série A de futebol brasileiro?”, em referência a fala do presidente da Federação Pernambucana [Imagem: Reprodução/X/@mirassolfc]

Com o fim da temporada próximo, vimos que o cenário é completamente diferente do projetado: o Sport de Recife é o primeiro clube já rebaixado para a série B e o Mirassol figura o quarto lugar do campeonato, brigando com times grandes por uma vaga na Libertadores. De patinho feio da primeira divisão para confronto indesejado, o Mirão se viu como adversário fraco, zebra e até mesmo sortudo, mas finalmente se firma como espelho de consistência, trabalho e dedicação.

“Tenho visto times gigantes, como Cruzeiro, Botafogo, Atlético Mineiro, vindo jogar aqui [em Mirassol] para segurar o empate, para amarrar o jogo. Puxa, como mudou, né?”, comentou Newton, que também foi atleta de base do Leão do Interior. “O Mirassol jogava a quinta divisão do Paulista. Nem se sonhava em disputar um Campeonato Brasileiro”, ressaltou.

E não tem nada de sorte nisso. A diretoria investiu em estrutura humana e de treinamento, com pessoas competentes e tecnologia de ponta nos centros de treino e recuperação. O reflexo disso foi o desempenho consistente de um time corajoso, que está invicto em casa até o momento atual do campeonato e que se encaminha para disputar um campeonato sul-americano pela primeira vez em sua história. Nada mais justo que tanta glória viesse em seu centenário.

“O nosso estádio está maravilhoso. Camarotes, bares, gramado sempre foi um tapete… Mas não é onde eu vou. Eu vou ali embaixo, perto da [torcida organizada] Fúria”, disse Newton, sobre o Estádio José Maria de Campos Maia, o Maião

E não irá parar por aqui, é só o começo. Parabéns pelos 100 anos, Mirão! Que sua torcida apaixonada e fiel continue te apoiando e torcendo, acompanhando de perto toda a glória que merecem. Por muito mais que 100!

Coleção de camisas do Mirassol

Com a trajetória construída no Campeonato Brasileiro deste ano, o Mirassol mira uma vaga na Libertadores [Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal/Fagner Figueiredo]

*Foto de Capa: Reprodução/X/@mirassolfc

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