Nas tradicionais cores dos clubes ou em cores e estampas inusitadas, os uniformes de futebol são parte importante do espetáculo, e hoje chamam cada vez mais atenção.
Durante a Copa do Mundo de 2018, por exemplo, a Seleção da Nigéria atraiu mais olhares por seu uniforme verde com estampas geométricas do que pelo futebol em si – embora os nigerianos quase tenham eliminado os argentinos na primeira fase da competição. A camisa se esgotou no mundo inteiro em poucos dias, e mesmo quase um ano depois do torneio, segue sendo usada com orgulho nos mais diferentes países.
Olhando para trás, é possível perceber que uniformes sofreram inúmeras mudanças ao longo do tempo: diferentes cortes, tecidos e caimentos já desfilaram pelos estádios mundo afora. Raio-X do Arquibancada faz agora uma análise dessas mudanças.
Evolução ao longo das décadas
Os primeiros uniformes de futebol surgiram por volta de 1870 na Inglaterra, país de origem do esporte, e começaram a ser usados durante o Campeonato Inglês para diferenciar os jogadores dos dois times em campo. A mudança nas roupas resultou em novas regras para o jogo: até então, não eram permitidos passes a frente da linha da bola e nem a longas distâncias, mas após as mudanças, a diferenciação dos jogadores ficou mais fácil e os passes longos foram normalizados, tornando o jogo mais dinâmico.
Durante os anos 1910 e 1940, os uniformes eram confeccionados em tecido de brim, uma mistura de linho e algodão, com cortes semelhantes à alfaiataria — camisa polo de manga longa com colarinho e calção branco até os joelhos. O brim era um tecido pesado e com alta absorção de calor. O uniforme retinha todo o suor dos jogadores, deixando-os mais pesados e cansados ao final das partidas, o que dificultava a performance em campo.
Foi só em 1954 que a Seleção da Inglaterra apareceu com um novo modelo de uniforme, e foi imitada pelas demais seleções: os calções ficaram mais curtos e as camisas perderam as mangas longas e o colarinho, dando lugar as golas em V e mangas mais curtas. Os tecidos também mudaram – aderiram a uma mistura de algodão e fibras mais leves que melhorava a movimentação em campo.
Segundo Isabel Fresati, Design de Activewear (roupas esportivas) da Kanxa, a moda esportiva, num contexto geral, foi se desenvolvendo e evoluindo junto com a moda tradicional: “A indústria têxtil, cada vez mais tecnológica, é a grande responsável pela mudança nos uniformes de futebol. O design pesado que antes existia foi substituído por camisas mais anatômicas feitas de tecidos tecnológicos que ajudam na performance do jogador em campo”, conta.
No fim dos anos 1980, as roupas passaram a ser produzidas com algodão e poliéster, absorvendo bem menos suor que os tecidos anteriores. Os modelos ainda eram curtos e com camisas de gola careca.
No Mundial de 1994, ano do tetra da Seleção Brasileira, os times desfilaram com peças mais coloridas e despojadas, compostas 100% de poliéster. Naquele ano, a FIFA lançou um código, existente até hoje, que padronizava os uniformes,exigindo que cada camisa estampasse o nome e o número do jogador correspondente. Bárbara Tella, gerente de desenvolvimento de produtos do Grupo Adidas, explica como os modelos são pensados pela marca e apresentados aos times: “Todos os uniformes criados passam por um processo jurídico para averiguar se estão dentro das normas da FIFA. Eles também precisam da aprovação do clube para garantir que estamos atendendo a necessidade do mesmo”.
Produção atual e adaptação do mercado
Isabel Fresati entende que hoje, conforme a evolução dos tecidos, as roupas passaram a ser pensadas em função dos atletas: “A maioria dos clubes opta por camisas mais justas, de tecidos com elastano e uma maior respiração, menos costura e mais transfers – quando a estampa é colocada diretamente sobre o tecido – A costura às vezes acaba machucando o jogador por causa do grande atrito com a pele”. Sobre a tecnologia aplicada aos uniformes, Bárbara explica: “Aqui na Adidas chamamos essa tecnologia de climalite. Ela consiste em um material que absorve o suor e o repele rapidamente, ajudando o atleta a se sentir confortável e preparado o tempo inteiro”.
No entanto, com o passar do tempo, as camisas de futebol deixaram de ser exclusivas dos estádios e passaram a integrar o guarda roupas dos torcedores, sendo usadas com orgulho e nas mais variadas situações.
Bárbara afirma que os torcedores são parte importante dos processo de criação dos uniformes, já que sem eles os clubes não seriam nada: “Tentamos alinhar as duas questões: atender as necessidades do esporte e tornar o uniforme atrativo para o torcedor. Os times fazem todas as aprovações antes de qualquer lançamento. Já os torcedores são bastante reativos quanto aquilo que eles não gostam, embora os mais ativos comprem o uniforme independente de gostarem ou não”.
Isabel Fresati ainda garante que, embora as marcas foquem mais na boa performance que os uniformes podem oferecer aos times, os torcedores ainda se agradam com as roupas: “As camisas de futebol realmente são como uma peça do dia a dia do torcedor. Uma camisa mais clean não impede a compra por parte dos torcedores”.
É fato que, seja nos estádios ou nas ruas, pela tecnologia dos tecidos ou pela beleza da camisa, os uniformes de futebol conquistaram o seu espaço. As camisas tornaram-se patrimônio dos clubes e seleções, e ajudam a dar cara e voz a tantas torcidas apaixonadas por aí.