Em um tempo no qual debates sobre igualdade de gênero e representatividade de grupos minoritários são cada vez mais frequentes, o surgimento de um filme como A Guerra dos Sexos (Battle of the Sexes, 2017) é apenas natural. A história, que se passa em 1973, retrata situações infelizmente ainda reais na nossa sociedade, envolvendo machismo e misoginia. Tal fato torna a trama ao mesmo tempo distante por causa da temporalidade e próxima pelos temas abordados.
O filme acompanha a vida de dois famosos tenistas americanos do século passado, Billie Jean King (Emma Stone) e Bobby Riggs (Steve Carell), quando ambos passavam por momentos diferentes de suas histórias. A atleta, na época com 29 anos, luta pela igualdade de tratamento entre homens e mulheres no circuito profissional de tênis, e com essa causa em mente, ajuda a criar a WTA (Women’s Tennis Association), que existe até hoje. Além disso, soma-se a instabilidade em seu casamento, quando Billie Jean começa a se envolver com uma cabeleireira de Los Angeles. O tenista, por outro lado, tem 55 anos e é um atleta sênior. Ele precisa lidar com seu vício em apostas e o descontentamento da esposa, que não aprova o hábito. Os caminhos dos dois esportistas se cruzam quando Billie Jean resolve aceitar o desafio de Bobby e os dois se enfrentam na partida de tênis que dá nome ao longa.
A temática da igualdade de gênero é retratada do começo até o final do filme, e logo se notam algumas linhas de pensamento da época que perduram até hoje. Por exemplo, para tentar justificar o prêmio reduzido das mulheres nos campeonatos de tênis, os organizadores do evento usam argumentos como “homens são mais fortes”, “mais rápidos”, “mais competitivos” e por fim, “homens são mais empolgantes de se ver jogar”, comentários de 1973, mas que ainda podem ser ouvidos atualmente.
Outro ponto a ser destacado em A Guerra dos Sexos é o figurino. Como esperado de um longa que se passa em outra época, o vestuário precisava estar de acordo com a moda do tênis dos anos 70, e o filme faz isso muito bem. As roupas de Billie Jean King, Bobby Riggs e Margaret Court – atleta australiana ex-número 1 do mundo – são réplicas exatas das usadas pelos tenistas nos eventos retratados no filme.
Apesar de ser uma espécie de antagonista da história, Carell, interpretando o tenista americano Bobby Riggs, rouba a cena do jeito que melhor sabe. Fazendo um personagem cômico e trapaceiro, várias são as cenas em que consegue transmitir o carisma e vigarice de Riggs. Não fosse suas atitudes e pensamentos extremamente machistas, o autonomeado “Porco Chauvinista” seria um personagem cativante.
O fluxo do filme vai construindo um cenário de injustiças sofridas pelas mulheres que culmina no clímax da história, a partida de tênis entre Billie Jean King e Bobby Riggs. Nesse sentido, o enredo é bem elaborado e cumpre seu papel, mostrando os obstáculos pelos quais as atletas da WTA têm de passar, bem como a influência negativa que Bobby e outros figurões da modalidade exercem no esporte feminino com suas ações opressoras.
A parte mais esperada do filme, no entanto, decepciona. Não é que o confronto seja entediante ou mal encenado. Na verdade, se assemelha muito a um jogo de tênis real, e as motivações de Billie, que luta pela causa feminista, tornam as cenas emocionantes. Apesar disso, as consequências do resultado da partida não são bem exploradas. Cria-se um pano de fundo para justificar a Guerra dos Sexos, que leva a uma alta expectativa ao final do filme, mas que não é bem atendida. O embate acaba, o vencedor comemora e vêm os créditos, sem ficar claro o significado daquela vitória. Além disso, este vazio que poderia ser preenchido com uma explicação nos créditos, não o é. Preferiu-se usar esse espaço para informar sobre a vida pessoal dos protagonistas alguns anos depois, fatos que tinham pouca ou nenhuma relação com a partida travada.
A Guerra dos Sexos estreia dia 19 de outubro nos cinemas. Confira o trailer abaixo:
por Bruno Menezes
brunomenezesbaraviera@gmail.com