Por Beatriz Gomes (beatrizgomesf9@gmail.com)
Antigamente, ter conhecimento de livros era muito difícil. Dependia do quão perto eles eram produzidos do leitor, se navios ou outros meios de transporte os transportavam, mas a principal forma de acesso era pelo famoso “boca a boca”. Quanto mais conhecido fosse um livro, maior a sua divulgação, não apenas em uma determinada região, mas por países e até mesmo, continentes. Mesmo com essa viagem dos livros, o acesso na maioria dos países do mundo era complicado, devido à prioridade dada às grandes metrópoles e cidades do continente conhecido como o núcleo de pensamento do mundo, a Europa. Com o passar do tempo, essas características foram mudando.
Nos dias de hoje, o acesso à literatura, dos mais diversos tipos, pode ser apenas a um clique na tela do seu computador. O mundo literário passou de algo restrito à uma realidade para possível a maioria das pessoas. Apesar dessa praticidade, o Brasil continua com um mercado ainda muito pequeno se comparado com outros países. No ano de 2016, apesar da produção de 427,2 milhões de exemplares, o mercado teve queda de 4,4% com relação a 2015, segundo dados realizados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Mesmo nessa situação, a publicação de livros tornou-se mais fácil devido a sites que permitem aos autores divulgar seus trabalhos. Uma dessas plataformas é o site Wattpad que permite qualquer pessoa disponibilizar seus textos, seja um conto ou até mesmo um livro completo. Os leitores têm acesso à obra mesmo offline, sem necessidade de baixar qualquer arquivo para seu aparelho. Ainda é possível que eles comentem sobre suas impressões a respeito da leitura, compartilhando sua opinião com os outros diversos leitores da obra.
Outra opção é a Amazon, uma livraria digital, por meio do programa Kindle Direct Publishing (KDP) que permite que qualquer pessoa também insira sua obra, tanto digital quanto impressa, em seu site. Os livros podem ser comprados de qualquer lugar do mundo, sendo os autores que determinam o valor na loja virtual. Todos esses serviços são fornecidos, segundo a empresa, sem qualquer tipo de cobrança para o autor.
Livros em caixinhas
As caixas de assinatura dão a chance de conhecer novos autores, livros, gêneros e obras. Desde 2016, elas vem encantando muitos leitores pelo mistério dos títulos que mudam a cada mês e chegam à casa dos assinantes. Além do suspense, outros fatores contribuem para o sucesso das caixinhas mensais de livro: possibilidade de uma edição exclusiva do livro, curadoria de personalidades para a sua leitura, brindes exclusivos ligados à história. São diversas empresas que disponibilizam o serviço, sendo as mais conhecida no país a TAG livros e o Turista Literário.
Dayane Manfrere, 28 anos, começou sua história com a literatura muito jovem. Ao sair do ensino médio, queria cursar letras, mas não conseguiu e acabou optando por fazer Publicidade e Propaganda numa universidade particular. Esse ano, ela conseguiu passar no vestibular e está cursando sua primeira opção na Universidade de São Paulo (USP), já possui algumas antologias publicadas e também é colunista e revisora de um site literário.
Em 2016, assinou a TAG livros por causa de indicações, mas, principalmente, atraída pela experiência de receber uma edição exclusiva em casa e por um novo contato com literatura. A assinatura permitiu novas vivências: “recebi muitos livros que jamais compraria por iniciativa própria, mas hoje eu tenho esse exemplar”, pontua. Manfrere sabe que apesar dessa nova forma de consumir literatura ser muito interessante, ainda não é acessível para todos devido aos valores cobrados. A média fica entre R$ 70,00 por mês, o que acaba sendo inviável para uma boa parcela da população.
Instagram de livros
Até as redes sociais que não são, necessariamente, criadas para falar de livros, acabam se tornando um meio de divulgação. O Instagram é um desses sites que, voltado para a publicação de fotos, tornou-se um espaço para compartilhamento de sensações literárias com imagens ou vídeos de curta duração expressando opiniões sobre livros e compras. Até mesmo grandes editoras apostam no Instagram como uma forte fonte de divulgação: estabelecendo parcerias, fornecem alguns livros para donos das páginas. Por estar na palma da mão de diversos usuários com múltiplas contas, o conhecimento a autores dos mais diversos torna-se muito mais fácil.
Camille Morais, 28 anos, é uma dessas milhares de pessoas que decidiram dividir suas opiniões no mundo conhecido como “instabook”, mesmo adquirido o hábito da leitura aos 20 anos de idade, pelo intermédio de amigas. Teve a ideia de criar o Instagram após perceber que estava descontente com sua escolha profissional: aproveitando esse acontecimento, já estava compartilhando suas leituras no seu perfil pessoal e criou o Li&Curti, que hoje possui mais de 12 mil seguidores. Seu principal objetivo era mostrar sua rotina de leitura, suas compras, resenhas, quotes (frases que gosta durante a leitura), e tags — perguntas sobre o mundo literário. Ela considera que as plataformas de acesso à literatura são ótimos meios de ter conhecimento sobre livros diversos: “minhas preferências literárias também mudaram muito de 2014 pra cá e estou segura de que isso se deve à exposições de obras no Instagram”, afirma. Desenvolveu interesse pelos clássicos devido à forte influência causada pelos perfis que compartilham projetos de leitura.
O mundo visual da literatura: YouTube
Mas o mundo do conhecimento não para por aí. Atualmente, a área visual tem se destacado como a principal rede social para o compartilhamento sobre livros. O YouTube tem até mesmo há uma seção exclusiva para vivências literárias, o bookTube. São canais que se possuem como principal temática a literatura. O canal com maior número de inscritos é o da professora paulista Tatiana Feltrin, que, com mais de 8 anos na plataforma, possui mais de 200 mil seguidores. A professora apresenta em seu canal livros dos mais diversos gêneros e é conhecida pela sinceridade nas opiniões, o que agrada a grande parcela do público que decide comprar ou detêm interesse em determinados livros devido as suas indicações..
No entanto, o booktube não para por aí. Outro canal é o “Literature-se” da Mell Ferraz. A paulistana de 24 anos se dedica à literatura desde pequena, quando tinha que frequentar a biblioteca da escola devido a aulas nesse ambiente. Primeiro, criou um blog literário e o canal era um complemento ao site. Percebeu que a plataforma era um ótimo de meio de encontrar alguém para conversar sobre livros, pois havia se mudado de cidade há poucos meses e não conhecia ninguém que amasse ler. Ela enxerga no vídeo algo mais interativo do que a linguagem escrita, mesmo amando escrever sobre literatura. Apesar de haver muitos canais literários, ela considera que o nicho sobre literatura ainda é bem pequeno se comparado a canais de moda e games. Mell acredita que mesmo sob essas condições, os números “são expressivos para o mercado editorial, principalmente porque o alcance da influência pode surpreender”, destaca.
A youtuber considera que uma das melhores coisas de fazer vídeos é poder receber comentários de pessoas que tinham receios de ler livros clássicos, mas, após verem seus vídeos, passaram a ter outros olhos para o tabu da dificuldade de se entender esses livros. “Eu tento mostrar que a literatura está aí para nos desafiarmos, mas que ela é, e deve, ser acessível a quem tem interesse e curiosidade, seja a obra um “clássico” ou não”, pontua. Mesmo tendo o YouTube como principal rede social, Mell também tem conta em outras redes sociais onde fala de literatura e acredita que quanto mais meios que difundirem a literatura, melhor para todos os leitores que podem se aproveitar dessa condição para ter mais conhecimento.
Ela conta que seu principal objetivo com o “Literature-se” é de difundir o hábito da literatura entre as pessoas que não lêem nada e até mesmo entre as que já possuem esse costume, além de mudar a visão de leitura como algo chato. Ela também possui vídeos resenhas sobre os livros obrigatórios para o vestibular das principais provas de São Paulo, a UNICAMP e a FUVEST (essa última, porta de entrada para a Universidade de São Paulo); livros de novos autores nacionais; e, principalmente, resenhas de livros clássicos. Apesar desses livros já serem bastantes conhecidos, Mell acredita que “é uma experiência sempre enriquecedora compartilhar o que acho de algo que muitas outras pessoas têm suas próprias opiniões e podem, por sua vez, compartilharem comigo — o que gera um meio extremamente propício ao objetivo inicial (e eterno) do Literature-se: conversar sobre literatura”, aponta.
O universo do BookTube é tão fascinante que Tauana Weinberg decidiu pegar esse mundo como tema para sua tese de doutorado. Após terminar o mestrado, começou a realizar pesquisas sobre o que poderia falar no seu projeto de doutorado. Durante esse momento seu nível de leitura aumentou exponencialmente e começou a fazer resenhas, sobre os livros que lia, em um blog pessoal. Pesquisando na internet sobre livros, acabou conhecendo o mundo booktube, adquiriu um interesse muito forte pelo tema e pela forma de apresentação visual. Decidiu escrever sobre isso como uma forma de documentar uma nova forma de ser leitor e de descobertas. Na tese, Tauana também refletiu sobre como o leitor “acabava descobrindo o seu próprio gosto combinando e contrastando com do outro”. Pela escolha da temática, era muito fácil imergir no tema por ter um forte interesse na temática do trabalho. Ela também considera muito importante ter investido em uma temática que nos últimos dois anos demonstraram um amplo crescimento desde o início do seu doutorado em 2013. “Se criou uma massa crítica que ao mesmo influencia o mercado e o próprio leitor, ajudando-o a questionar e ajudando o mercado a se aperfeiçoar e sair dessa zona de conforto”, afirma.
O compartilhamento literário em expansão
As plataformas citadas acima são apenas algumas fontes que você pode compartilhar seus gostos literários e conhecer sobre outras literaturas. Há muitas outras, como o Skoob e Goodreads, onde o leitor pode fazer listas de livros que deseja ler, comprar e até mesmo compartilhar suas sensações com a leitura a partir de resenhas que permitem a interação com os leitores que leram, ou pretendem ler, o mesmo livro. Também existem plataformas que permitem a compra de livros em formato de áudio, os conhecidos audiobooks, possibilitando ouvir livros em qualquer lugar e momento. Atualmente, o conhecimento literário pode ser encontrado em diversas formas: basta você, leitor, escolher aquela que se adapta mais à sua realidade.