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A Moral e a Revolução dos Bichos

O clássico moderno do século XX critica o totalitarismo e suas vertentes de forma atual, simples e objetiva, através de uma alegoria com animais
Por Nicoly Modesto (nicoly.modesto@usp.br)

Sendo um verdadeiro clássico da literatura moderna, A Revolução dos Bichos (Editora Aleph, 2021), por meio de uma alegoria, traz reflexões sobre moralidade e poder na luta política por justiça e liberdade e critica os ideais distorcidos por um governo corrupto e totalitário. A obra foi escrita durante a Segunda Guerra Mundial e publicada no ano de 1945, considerada um dos maiores romances da língua inglesa no século XX.

Nascido em 1903 na Índia Britânica, George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, foi um escritor e jornalista e usou sua profissão para expressar alguns dilemas vividos na época. O autor lutou na Guerra Civil Espanhola e fez parte da milícia do Partido Operário de Unificação Marxista. Além de Revolução dos Bichos, ele publicou 1984, outra importante obra literária que aborda questões complexas sociais e políticas de forma clara e acessível para o público.

Enredo

Os animais da fazenda Granja Solar, inspirados pelo sonho do porco mais velho, Major, de um mundo sem a submissão aos humanos, reúnem-se e escutam sobre as possibilidades de justiça e igualdade. Eles são ensinados a cantarolar uma melodia chamada “Bichos da Inglaterra”, que resume o conceito do Animalismo. Após a morte de Major, a liderança é passada para os porcos Napoleão e Bola-de-Neve, que continuam a planejar estratégias para a revolução. Os animais expulsam o Sr. Jones, ser humano que era dono da fazenda, renomeiam a propriedade como a Granja dos Animais e estabelecem princípios de igualdade com os 7 mandamentos:

  1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
  2. Qualquer coisa que ande sobre quatro patas, ou tenha asas, é amigo.
  3. Nenhum animal usará roupas.
  4. Nenhum animal dormirá em cama.
  5. Nenhum animal beberá álcool.
  6. Nenhum animal matará outro animal.
  7. Todos os animais são iguais.

Para alguns animais menos inteligentes, ou mesmo os que não sabiam ler, os 7 mandamentos foram resumidos em “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”, frase que foi repetida ao decorrer do livro com frequência pelas ovelhas. Durante o começo dessa nova sociedade, os bichos da fazenda trabalhavam de acordo com a necessidade e aprendiam a ler. Porém, os porcos corrompem-se com o poder da fazenda nas mãos, e transformam o lugar em uma ditadura com a manipulação de antigas premissas defendidas pelo Animalismo. Napoleão se destaca ao tomar o poder para si após expulsar Bola-de-Neve, retratá-lo como um traidor e culpá-lo por acontecimentos ou catástrofes de dentro da fazenda.

Algum tempo depois, pela falta de insumos que não eram produzidos na Granja dos Animais, os porcos começaram a fazer comércio e contato com os humanos. A partir disso, modificam algumas leis defendidas antes, mas de forma velada, para que ninguém perceba a diferença.

7. Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.

Na fazenda, o hino antes cantado que celebrava a revolução já não era mais proclamado, e as condições de trabalho e a oferta de ração tornaram-se degradantes para os animais que mais trabalham, enquanto os porcos viviam no luxo e celebravam junto com outros agricultores sobre a prosperidade econômica das Granjas. No capítulo final do livro, é narrado que os animais não sabem mais a diferença dos porcos para os humanos.

O lado crítico de “A revolução dos bichos”

A obra é interpretada como uma sátira aos regimes totalitários que estavam presentes na época de publicação do livro, por colocar os animais da Granja em situações que caracterizam o próprio sistema. Também é possível traçar um paralelo ao processo de formação da União Soviética e crítica ao Stalinismo e o autoritarismo da direita, muito presente nos textos e ensaios de George Orwell. 

A manipulação da linguagem para controlar massas está presente quando os porcos distorcem os próprios mandamentos ou acontecimentos da Granja, principalmente com a personagem Garganta, que utiliza as emoções para passar novas ordens de Napoleão ou omitir a verdade de todos. 

À medida que o poder era consolidado na mão de um grupo só de animais, a igualdade foi deixada de lado e o líder Napoleão foi promovido como uma imagem cultuada e inquestionável, caindo no uso da violência para reprimir qualquer pensamento crítico ao regime. Um exemplo é o das galinhas que realizaram uma espécie de greve e foram mortas pelos cachorros de Napoleão.

Ilustração do capítulo 5 de A Revolução dos Bicgos, com 9 cachorros sendo comandados por uma cabeça flutuante, apoiada no número 5
Imagem do capítulo 5, que mostra Napoleão apitando para os cachorros.
[Imagem: Divulgação/Leitura Parque D. Pedro/Editora Aleph]

As personagens do livro, além de facilmente associadas com figuras importantes do Stalinismo e da Revolução Russa,  também representam estereótipos de uma sociedade totalitária. O cavalo Sansão, por exemplo, representa o trabalhador que dá o seu máximo mesmo em péssimas condições de serviço, e quando não é mais útil para a fazenda, acaba sendo sacrificado. Outra caricatura são as ovelhas que, em rebanho, apenas repetem o que foi dito, sem possuir um pensamento crítico. Tanto as ovelhas como Sansão, representam as pessoas que não questionavam o sistema e contribuem com o seu funcionamento.

Os cachorros criados por Napoleão representam uma força armada, e Moisés é um corvo que carrega falas e interpretações ligadas a Igreja. O autor levanta os personagens e suas características comuns às pessoas da sociedade, incluindo a passividade daqueles que viveram o começo e o fim dos processos, como a égua Quitéria.

Relação com Seleção Natural

A Teoria da Seleção Natural proposta por Charles Darwin discute questões evolutivas de como as espécies são selecionadas, envolvendo requisitos como sobrevivência e variação.

Além de elementos da política, também é possível relacionar “A Revolução dos Bichos” com a Teoria da Seleção Natural de Darwin, focando no tratamento de competição, adaptação e sobrevivência dos animais. No livro, os porcos adaptam as estratégias, discursos e até o que plantar ou não de acordo com as necessidades defendidas, que acabam mudando de coletiva para individuais. 

Ela também é usada de forma errônea ao justificar uma liderança natural dos porcos, colocando uma hierarquia entre os bichos que ia contra o mandamentos de que todos os animais seriam iguais, que reflete na distribuição de comida, áreas da fazenda e horas de trabalho.

*Imagem de capa: Acervo pessoal/Nicoly Modesto

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