São quarenta e cinco minutos na completa escuridão tendo como guia um deficiente visual e como auxílio uma bengala. A exposição Diálogo no Escuro já atraiu milhões de visitantes em 32 países ao redor do mundo e está em exibição desde o ano passado na capital paulista. O sucesso de público fez com que a mostra fosse prorrogada diversas vezes, e não era de se esperar um resultado diferente.
Durante a mostra, o visitante é conduzido por um guia e levado a quatro ambientes diferentes. Apesar de parecerem completamente estranhos inicialmente, estes ambientes não poderiam ser mais familiares. São repletos de sons, cheiros e objetos cotidianos que, no entanto, são pela primeira vez notados de maneira diferente. Somente quando passam a não contar com a visão é que os visitantes percebem o quanto os outros sentidos como a audição e o tato são importantes na vida do deficiente visual.
Renato José da Silva, um dos guias na exposição, relata que apesar da apreensão inicial, depois dos primeiros minutos a maioria das pessoas começa a sentir-se a vontade e se envolver com o ambiente e com as propostas. De acordo com ele o maior ganho da exposição é que, além de pautar-se e discutir-se sobre a deficiência visual, as pessoas também saem de lá mais reflexivas sobre o escuro. Apesar de obviamente não tratar-se de uma simulação da deficiência, algumas barreiras, como o medo da escuridão, são vencidas pelos que se dispõe a encarar o desconhecido durante estes poucos minutos.
Após andar sobre diversos solos, tocar variadas texturas, sentir cheiros que geralmente nos passam despercebidos e ouvir sons da natureza e da cidade, a mostra é encerrada com uma descontraída, mas ao mesmo tempo importante, conversa com o guia. Conversa esta que busca desmistificar a deficiência visual e que quebra diversos estereótipos que por vezes, sem nos darmos conta, carregamos conosco.
Reprodução http://www.dialogonoescuro.com.br/
Renato ressalta que esta visão estereotipada do deficiente visual muitas vezes se manifesta entre os visitantes, mas que não se limita a estes casos pontuais. Ele afirma que a maioria das pessoas acaba deixando-se levar pelo senso comum, já que a nossa sociedade ainda não vê o deficiente como alguém autosuficiente, capaz de trabalhar, divertir-se e constituir uma família. “São pessoas participativas no país, e por isso é tão justo que elas tenham também o mesmo direito de acesso”, conclui.
Ao fim da mostra, o visitante é convidado a escrever sobre sua experiência em um caderno. São páginas repletas de relatos de gratidão, surpresa e transformação, que demonstram que Diálogo no Escuro é uma experiência que busca não só despertar a empatia e transmitir conhecimento sobre a vida do deficiente visual, mas conduz também a uma busca por autoconhecimento e mudança de perspectiva.
Serviço
Exposição Diálogo no Escuro
UNIBES CULTURAL – Rua Oscar Freire, 2500, Sumaré
Ingressos:
Segunda a sexta-feira – R$12 (inteira)
Sábados e feriados: R$30 (inteira)
Por Tais Ilhéu
taisilheusouza@gmail.com