A existência de padrões de beleza não é nenhuma novidade. E, apesar de existirem tanto para homens quanto para mulheres, é inegável que são elas quem mais sofrem com um modelo ditatorial de beleza e aparência. Isso porque, em algum lugar da história, algo saiu terrivelmente errado e foi determinado que era obrigação da mulher ser linda e maravilhosa – segundo os critérios da sociedade, claro. Basta observar a quantidade de revistas, publicações e programas televisivos destinados à moda e às inúmeras dicas e dietas das mais malucas para ajustar a mulher, fazendo-a, finalmente, atingir o padrão ideal da beleza.
No entanto, esse tem parecido cada vez mais impossível de se alcançar. Mulheres ao mesmo tempo magérrimas e com busto e bumbum avantajados estampam todas as capas de revistas existentes, numa combinação que parece biologicamente impossível. Algumas imagens são tão absurdas que tornam logo óbvio o uso da mais querida ferramenta da mídia atual: o idolatrado Photoshop.
O advento desse mágico programa tornou possível a construção de corpos e imagens completamente ideais e perfeitas e, por isso mesmo, inexistentes. Mas nada disso é divulgado: as fotografias são vendidas em revistas de moda e de beleza, acompanhadas sempre das famosas e descabidas “dicas para conseguir esse corpo” sem que seja avisado para as mulheres que aquilo não passa de uma total falsidade.
Um caso bastante polêmico e recente de abuso do photoshop foi o da entertainer Kim Kardashian: em ensaio para a revista Paper, a celebridade saiu com um bumbum colossal e uma cintura mínima, parecendo bastante desproporcional e improvável. Apesar do uso do photoshop ter sido negado de inicio, logo os editores o admitiram e as imagens originais foram vazadas, comprovando as alterações feitas.

O problema desse uso abusado é que isso acaba gerando na mulher uma enorme frustração e sentimento de inadequação, como se fosse irreal ter falhas – quando o irreal é justamente o contrário. Movidas por esses sentimentos, muitas pessoas passaram a adotar medidas extremas para alcançar um objetivo inalcançável, tornando-se doentes e desenvolvendo distúrbios como anorexia e bulimia. Apesar de hoje ser amplamente reconhecido o uso do photoshop, possibilitando uma conscientização maior das mulheres sobre a falsidade desses corpos, nem sempre foi assim. Além do mais, o retoque é tão bem feito em algumas ocasiões que impossibilita afirmar o uso do programa.
Mais adiante da enganação causada pelo photoshop, que por si só já é bastante condenável, muitas revistas passaram a retocar suas modelos de capa sem autorização das mesmas, causando uma revolta justificável. Recentemente, a atriz Keira Knightley foi convidada a posar topless pela revista Interview. Ela aceitou o convite sob uma condição: que a revista não fizesse nenhuma alteração na foto original, para que as pessoas pudessem ver como ela realmente era. Mais tarde, em entrevista a The Times, Knightley disse ter sido um forma de protesto: “Tive meu corpo manipulado tantas vezes diferentes por tantas razões diferentes, quer se trate de um paparazzi ou de cartazes de filmes de cinema. Esse foi o limite onde eu disse ‘Ok, irei fazer o topless, desde que você não deixe meus seios maiores.”

Aqui no Brasil um caso alarmante do uso inapropriado de Photoshop foi o da cantora Preta Gil: ao posar para a capa da revista “Moda Moldes”, Preta foi completamente descaracterizada, tornando-se não só mais magra e loira, como muito mais branca! A cantora se mostrou indignada e postou nas redes sociais a imagem verdadeira em contradição com a tratada, dizendo estar “em estado de choque” com as mudanças.

Sendo o uso autorizado ou não, é inegável a nocividade da enganação do photoshop. Assim, é melhor ouvir a cantora Meghan Trainor quando ela canta em seu hit All About That Bass: “I see the magazines working that photoshop, we know that shit ain’t real, c’mon now make it stop.”* Fica a dica.
*Eu vejo as revistas abusando daquele Photoshop, sabemos que essa porcaria não é real. Fala sério, faça isso parar.
Por Isabela Augusto
isabelacaugusto@gmail.com
Super demais, minha querida. Beijinhos!