Por Lázaro Campos Júnior
Quando se trata de Copa do Mundo, não há espaço para muitas equipes receberem os holofotes. Já se foram 20 edições e apenas 8 países tiveram o privilégio de levantar a taça. Além desses, talvez apenas a Holanda, que ficou marcada com 3 vice-campeonatos, pode se gabar de regularidade, boas campanhas e certa tradição.
Mas através da história não somente esquadras de nações tradicionais e vencedoras conquistaram os torcedores e deixaram marcas indeléveis naqueles que assistem aos jogos. O futebol como um espetáculo vai muito além da conquista de título. Por isso, sem citar times clássicos, como a Seleção Canarinho de 1982, alvo da Tragédia de Sarriá, ou o Carrossel Holandês de 1974, lembremos daquelas equipes que, com características peculiares e únicas, conquistaram aqueles que puderam acompanhar as Copas além dos jogos do Brasil ou as decisões. Comecemos pelo mais recente, 2014:
A Costa Rica abala os campeões (2014)
Qual seria o sujeito que apostaria na discreta Costa Rica como melhor time de um grupo que ainda incluía Inglaterra, Itália e Uruguai? O time centro-americano havia, no sorteio, caído no chamado “grupo dos campeões” e não era o foco da expectativa dos torcedores. Contudo, quando a bola rolou, a realidade se revelou diferente da previsão. O técnico colombiano José Luis Pinto apostou na formação 5-4-1, e confiados nos talentos do goleiro Navas, do meia Bryan Ruiz e do jovem atacante Joel Campbell, os costarriquenhos surpreenderam e bagunçaram aquele complicado grupo D.
Venceram o Uruguai por 3×1 na primeira rodada com uma bela demonstração de como conseguiam defender-se bem e atacar com eficiência. Colocaram o Uruguai para disputar um jogo de vida ou morte com a Inglaterra, que tinha perdido para a Itália por 2×1. Na segunda partida, bateram os italianos por 1×0 e obrigaram a Squadra Azzurra a jogar pela classificação contra a celeste uruguaia na última rodada. Já classificada e tida como sensação do torneio, a Costa Rica enfrentou os ingleses e com um 0x0 se mantiveram invictos na competição.
Nas oitavas de final, só conseguiram assegurar a vitória contra os gregos quando Navas defendeu o pênalti de Gekas e Umaña converteu a última cobrança. Nas quartas de final já se vislumbrava uma façanha maior se uma vitória contra a Holanda acontecesse. A Laranja Mecânica pressionava e Navas defendia tudo. E se ele não impedia o tento holandês, era a trave ou um defensor que garantia o 0x0. Depois de 120 minutos, o técnico Louis Van Gaal deu a cartada que parou os carismáticos costarriquenhos. Trocou o goleiro Cillessen pelo grandalhão Krul antes do fim do tempo extra. O substituto defendeu dois pênaltis e encerrou o sonho da Costa Rica. Foi a melhor campanha da equipe centro-americana em Copas.
Croatas chegam longe (1998)
Em 1998, foi o futebol bem jogado de um novo país do leste europeu que surpreendeu. A Croácia se tornou independente em 1991 e levava uma seleção nacional para França com bons jogadores como Boban e o artilheiro Šuker. Em um grupo sem dificuldades, conquistou o segundo lugar ao bater Jamaica e Japão e perder para a forte Argentina. Passaram pela Romênia nas oitavas, mas foram os jogos seguintes que realmente gravaram o nome do país recém-independente na história.
Nas quartas o desafio era a Alemanha dos veteranos Matthäus e Klinsmann. Em um jogo muito disputado e com brilhante atuação dos goleiros de ambas as equipes, os croatas surpreenderam e aplicaram 3×0, sendo dois desses gols marcados nos últimos 10 minutos do jogo. A semifinal tinha por adversário os franceses, donos da casa. A sensação do torneio chegou a abrir o placar com Šuker, mas sofreu a virada com a surpreendente atuação ofensiva do lateral francês Thuram. Ele marcou o gol de empate e o da virada. Curiosamente, estes foram os únicos gols do lateral pela seleção francesa em toda a sua carreira. Na disputa pelo 3º lugar diante dos holandeses, os croatas ainda venceram a partida por 2×1 – nesse jogo, Šuker se tornou o artilheiro da competição, com 6 gols. A qualidade daquela equipe e sua campanha ainda não foi repetida pelas gerações croatas posteriores.
Leões indomáveis encantam na Itália (1990)
Em 1990, os africanos de Camarões, liderados pelo veterano Roger Milla, fizeram história e agraciaram o mundo com um futebol ousado e alegre. Estreando contra a Argentina, atual campeã, de Maradona e Caniggia, não deixaram de atacar e fizeram uma partida para ser lembrada eternamente. Abriram o placar com uma falha do goleiro Pumpido e, mesmo com um a menos, sustentaram a vantagem para admiração de todo o mundo. Depois de vencer a Romênia e serem goleados pela URSS, os chamados “leões indomáveis” enfrentaram a Colômbia pelas oitavas de final e, na prorrogação, conquistaram a vaga nas quartas contra os ingleses.
A partida que colocou os africanos diante dos inventores do futebol foi uma das mais emocionantes do torneio. A vantagem mínima que os ingleses levaram no primeiro tempo não abateu Milla e companhia. O veterano de 38 anos foi decisivo para a virada. Sofreu o pênalti para o gol de empate e deu o passe para o gol da virada. Antes do fim, o artilheiro inglês Lineker empatou o jogo em uma cobrança de pênalti. Era outra prorrogação, mas dessa vez o resultado não foi feliz. O goleiro inglês Shilton lacrou a meta e não deixou nenhuma tentativa africana passar. Foi aí que a estrela de Lineker brilhou. O craque sofreu um pênalti e marcou o gol da virada. Os alegres camaroneses não superaram esse golpe. Os leões indomáveis comandados pelo lendário Roger Milla voltaram para a África e os súditos da rainha partiram para o confronto com os alemães.
Coreia do Norte coloca a Ásia no mapa (1966)
1966 foi o ano em que a Coreia do Norte surpreendeu o mundo. Após estrear sendo goleada por 3×0 em duelo com a URSS, podia se pensar que a equipe asiática iria mesmo ter participação discreta na competição. Esse diagnóstico continuava até os últimos minutos da segunda partida, contra o Chile. Foi aos 43 minutos que os norte-coreanos arrancaram um empate em 1×1 e permaneceram vivos na competição. No entanto, a classificação dependia de uma vitória contra a tradicional Itália. Graças à boa atuação do goleiro Lee Chan-Myung e o gol de Pak Doo-Ik, a grande zebra ocorreu. 1×0 Coreia e italianos eliminados. O próximo desafio norte-coreano era Portugal de Eusébio.
Totalmente diferente do recente massacre português de 2010, os norte-coreanos começaram abrindo vantagem, logo no primeiro lance. Aos 25 minutos a vantagem asiática já era de 3×0. Foi a partir daí que o Pantera-negra, Eusébio, operou uma obra fantástica em campo. Antes do final da primeira etapa, o craque português já havia diminuído a vantagem para 3×2. Ao voltar para o segundo tempo, os portugueses entraram em grande ritmo. Quando o relógio marcava 11 minutos, veio o empate. Três minutos depois, Eusébio marcou seu quarto gol. Era a virada. Antes do fim, José Augusto ampliou e determinou o placar final: 5×3. A Coreia do Norte só voltou à Copa em 2010 para ser eliminada ainda na primeira fase. Mas como equipe asiática, seu feito de chegar ao mata-mata foi igualado somente em 1994, pela Arábia Saudita.
Já se foram 20 edições e até mesmo contar as histórias de equipes marcantes sem o título é esforço de redução. Bulgária em 1994, Turquia em 2002 e o Brasil de Leônidas em 1938 estão entre essas equipes marcantes sem o título que tem suas histórias perdidas quando a atenção fica presa aos levantadores de taças. A Copa como espetáculo mundial vai além das conquistas. Ela também mostra o belo trajeto esportivo de equipes nacionais que não apenas dão alegria aos seus povos, mas que conseguem encantar todo o globo.