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Atômica: grande visual, roteiro desordenado

Lorraine Broughton, interpretada por Charlize Theron, é uma mulher forte. Logo de cara já sabemos isso. Não só pela sua incrível habilidade de luta, mas também por sua coragem e determinação. Iminente a queda do muro de Berlim em 1989, ela – uma agente do MI6 – é enviada disfarçada em uma missão na capital …

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Lorraine Broughton, interpretada por Charlize Theron, é uma mulher forte. Logo de cara já sabemos isso. Não só pela sua incrível habilidade de luta, mas também por sua coragem e determinação. Iminente a queda do muro de Berlim em 1989, ela – uma agente do MI6 – é enviada disfarçada em uma missão na capital alemã para recuperar o corpo de um de seus colegas morto pela KGB e uma lista com o nome de todos os agentes duplos do serviço de inteligência britânica. Acompanhamos sua trajetória contada por flashbacks em meio a uma Berlim dividida e efervescente com a popularização da música eletrônica e o estilo punk.

Atômica (Atomic Blonde, 2017) é dirigido por David Leitch – o co-diretor de John Wick: De Volta ao Jogo (John Wick, 2014) – e inspirado na graphic novel Atômica: A cidade mais fria, escrita por Antony Johnston. O estilo visual remete ao visto em John Wick, mas agora aprimorado e melhor resolvido. Os cenários são invadidos pelo neon azul e vermelho, construindo um clima intimista e misterioso, capaz de envolver o espectador e levá-lo por uma viagem no caótico submundo de Berlim. Nada é por acaso. As cores, os enquadramentos e os movimentos de câmera se conectam e resultam em um filme bonito de se ver.

As cenas de ação são muito bem construídas. Quase não se vê armas automáticas e balas. As lutas são muito mais práticas e impactantes, dado principalmente pela violenta e ótima coreografia do corpo a corpo. A protagonista é colocada meio a inúmeras situações de perigo e desespero, muitas das vezes desenroladas por soluções improvisadas e técnicas, no mínimo, criativas. As cenas são extremamente divertidas de assistir, com uma combinação de tensão e humor na medida certa, não ultrapassando o limite do ridículo (às vezes, por pouco). Destaque para um plano-sequência sem cortes aparentes de mais de 10 minutos meio a uma ação frenética numa escada. Junto a tudo isso, o filme nos conquista com uma trilha sonora incrível, um dos seus pontos mais altos. As músicas animadas e bem-humoradas dos anos 80 e 90 são colocadas calculadamente nos momentos certos e contrastam muito bem com a agressividade dos planos.

A atuação de Charlize é boa. Não é espetacular, mas é condizente com o que o filme exigia. Theron dá o máximo de si nas cenas de ação e nos convence de que é uma bela de uma espiã. Os outros personagens não são tão memoráveis quanto, mas James McAvoy está muito bem na pele de David Percival, outro espião malandro e cômico.

A despeito da personagem, não existem grandes momentos emocionais, mas percebe-se que ela é uma pessoa complexa e com diversas camadas, sofrendo internamente. Há uma tendência de que, agora, mulheres passem a ser retratadas em situações de poder. É o caso de Lorraine: misteriosa, imponente, destemida. Porém, não deixa de cair no padrão da “mulher impecável”: mesmo depois de bater em um grupo de policiais, sai completamente arrumada com um figurino incrível. É também sensual e vaidosa, mas no fundo, é vulnerável, aspecto que ajuda a humanizar a personagem. Não é imbatível, nas lutas também cansa e apanha.

Apesar das qualidades, há um defeito: o roteiro. Mesmo tendo aspectos diferentes do óbvio e dos clichês, o longa peca ao tentar fazer reviravoltas em excesso, o que pode torná-lo confuso para o público. Contribuindo para isso estão os diálogos expositivos, que nem sempre são claros e você nunca sabe se o que aquele personagem está dizendo é verdade ou simplesmente enganação. Sua estrutura vai ficando cada vez mais complexa, com burocracias, intrigas políticas e traições, e é fácil perder-se no caminho.

Atômica é um filme divertido, ousado e violento. Há um equilíbrio na mescla entre humor, ação e contexto histórico. Se não pela narrativa, vale muito pela experiência visual e auditiva. Seu aspecto técnico é muito bem feito e acrescenta ao gênero de espionagem. As músicas dão o tom do filme. As cores o complementam. Por esses motivos, só resta dizer: merece uma conferida. Mesmo sendo confuso, de uma coisa não podemos reclamar: o filme não subestima a inteligência do público. E isso pode ser bem raro ultimamente.

Atômica estreia nos cinemas dia 31 de agosto! Confira o trailer:

por Ane Cristina e Giovanna Simonetti
anecristina34@gmail.com
g_simonetti@usp.br

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