Por um instante, tudo parecia calmo na semi-árida planície da fronteira dos Estados Unidos com o México. Naquele cenário inóspito e homogêneo, o único ruído era um trailer aparentemente abandonado, mas que, na verdade, testemunhava uma paixão proibida. Por nada mais que um instante, tudo parecia calmo. De repente, uma explosão.
Em “Vidas que se cruzam” (The Burning Plain), acompanhamos a história de quatro (?) mulheres separadas pelo tempo e pelo espaço, e que possuem uma ligação tão estreita quanto impalpável. Sylvia (Charlize Theron) é uma mulher sozinha, e só não consegue ser mais fria e cinzenta do que Portland, a cidade onde vive. Mariana (Jennifer Lawrence) é uma jovem que, ao descobrir a relação extraconjugal de sua mãe, precisa aprender a lidar com algumas situações. Gina (Kim Basinger), mãe de Mariana, vive o dilema entre manter a estabilidade familiar ou viver um grande amor. E Maria (Tessa Ia), um garotinha que parte em busca de sua mãe, após seu pai sofrer um acidente.
O filme é de 2008, ano em que recebeu indicação para o Leão de Ouro de Veneza, mas só agora chega aos cinemas brasileiros. A produção tem o roteiro assinado pelo mexicano Guillermo Arriaga, que, pela primeira vez, foi responsável pela direção de um longa-metragem. Aliás, a estrutura narrativa de “Vidas que se cruzam” tem muito em comum com a de outros trabalhos do roteirista, como “Babel” e “21 gramas”.
Arriaga é obcecado pelas relações humanas, e se limitou a fazer mais do mesmo. Entretanto, a “esquizofrenia temporal” que compõe a história, e a impecável montagem das cenas são os únicos verdadeiros destaques do filme. Se juntássemos todas as peças e montássemos a narração de forma linear, teríamos um filme arrastado, sem muitas surpresas, e totalmente previsível.
A trilha sonora predominantemente instrumental, composta por Omar Rodriguez-Lopez e Hans Zimmer, cria uma atmosfera “country” dramática à la Bob Dylan, que lembra muito algumas produções como “Paris, Texas” do cineasta alemão Wim Wenders. A fotografia, de Robert Elswit e John Toll, consegue exprimir muito bem cada personagem e momento do filme, como a escura e monocromática rotina de Sylvia, ou a luminosidade vibrante das paixões na região da fronteira.
De repente, uma explosão. As chamas, que logo em seguida consumiriam o trailer por completo, selaram a união de muito mais corpos além daqueles carbonizados pelo incêndio. Queimaram a planície, a uniformidade daquelas existências vazias. Apesar da falta de originalidade, “Vidas que se cruzam” é um bom filme sobre destino. Mais uma vez, Arriaga mostrou que não acredita em coincidências. Assim como diz o cartaz de divulgação, “sua paixão os marcou para toda a vida”.
Por Lucas Rodrigues