Black Box (2020) é uma produção que, em diversos momentos, bebe da mesma fonte que a série Black Mirror (2011-presente), da Netflix. O longa faz parte dos vários lançamentos no mês de outubro de filmes de terror que visam trazer mais diversidade ao gênero, frutos da parceria entre o Amazon Prime e a produtora Blumhouse — responsável por Corra! (Get Out, 2017) e Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, 2018).
A história é centrada em Nolan Wright (Mamoudou Athie) e sua filha Ava (Amanda Christine), que têm a dinâmica familiar completamente alterada com a morte da matriarca. Após o acidente de carro, Nolan sofre uma perda de memória que afeta seu desempenho profissional e o impede de cumprir plenamente sua função como pai. Ava, então, torna-se o alicerce da casa, responsável por instruir Nolan nas mais simples tarefas do cotidiano enquanto ainda está no ensino fundamental.
Desesperado pela retomada do controle de sua vida, Wright decide participar dos experimentos da Dra. Brooks (Phylicia Rashad) com um aparelho nomeado “caixa preta”, que propicia a imersão do paciente em seu subconsciente, o que permitiria que ele resgatasse suas memórias. Com o início dos testes, Nolan se depara com uma entidade amedrontadora em sua mente, que esconde os segredos obscuros por trás do experimento.
O longa é permeado pelos gêneros de terror, suspense e ficção científica, sem uma grande preocupação em se ater apenas ao primeiro. A construção dos momentos de suspense é leve demais até mesmo para um filme com classificação indicativa de 14 anos. A produção se escora demasiadamente no monstro que habita a mente de Nolan, com seu corpo retorcido e sons de ossos se partindo. Isso consegue provocar arrepios em quem assiste, mas acaba por ser o único elemento de horror na trama. A trilha sonora, por vezes, é exagerada e dificulta a imersão do espectador na narrativa.
Apesar de ser carismático, a atuação de Mamoudou é mediana durante toda a primeira metade do longa, ganhando vida após o plot twist, quando a dinâmica da história se altera e ele consegue explorar uma nova personalidade. Amanda é o grande destaque em todas as cenas em que participa. Com a pouquíssima idade, ela encarna a personagem assustadoramente bem e convence em todos os diálogos e emoções que transmite, seja na decepção com o pai após ele ter se esquecido de buscá-la na escola, no medo de suas atitudes estranhas ou no desespero ao vê-lo imerso no mundo propiciado pela “caixa preta”.
O roteiro é sólido e bem construído, com presença de elementos que dão pistas do desenrolar da trama para espectadores mais atentos e de pontos de virada instigantes. As cenas que retratam a violência doméstica são bem elaboradas e abordam com maestria os fluxos psíquicos e os artifícios de manipulação do abusador.
Black Box é muito Black Mirror. Apesar das inevitáveis comparações com a série, o filme tem sua carga de autenticidade e é plenamente capaz de entreter durante todos os cem minutos de duração.
Black Box já está disponível para os assinantes do Amazon Prime. Confira o trailer:
*Imagem da capa: Divulgação/Amazon Prime