Rachel, Jack e Ashley Too é o terceiro e último episódio da nova temporada de Black Mirror. Com a participação ilustre de Miley Cyrus como uma das personagens principais, o episódio era muito esperado pelos fãs, tanto os da cantora como os da série.
Um desafio apresentado desde que a história foi anunciada era se ela manteria a qualidade comum da série, ou se seria uma espécie de fanservice, já que conta com uma das cantoras pop mais renomadas da atualidade. O termo se refere a elementos trazidos por qualquer tipo de obra artística que tem como objetivo agradar os fãs, contando geralmente com conteúdos pouco desenvolvidos, mas de forte apelo emocional. Em certos momentos, o episódio cai nesse buraco, pois apresenta ocasiões em que o enredo é pouco construído e momentos de estrelato demasiado para Miley, com músicas inéditas e até atuações cômicas.
A trama se baseia em três personagens principais, Rachel (Angourie Rice), seu ídolo Ashley O (Miley Cyrus) e sua irmã Jack (Madison Davenport). A personagem de Cyrus é uma cantora renomada no mundo pop, porém infeliz com o trabalho que realiza, pois é impossibilitada de agir da forma que deseja e praticar sua autenticidade no meio em que vive. O teor tecnológico e futurista vem com o brinquedo Ashley Too, uma boneca robô que tem a capacidade de conversar com qualquer um, sendo programada para ter personalidade e aparência iguais à Ashley O. Então, Rachel – grande fã – ganha a boneca e passa a criar uma relação afetiva com ela.
Até aproximadamente metade do longa, que tem cerca de 67 minutos, são apresentadas críticas sociais ferrenhas, características da série. Meritocracia, a substituição de relações sociais pela tecnologia e a toxicidade da indústria musical são alguns dos temas tratados. Porém, na segunda metade, há uma mudança brusca no teor do episódio, apresentando cenas mais cômicas e previsíveis. Isso passa uma impressão de incerteza na proposta do enredo, uma vez que várias discussões são trazidas, mas poucas são bem desenvolvidas.
Outra questão que se difere do que a série geralmente apresenta é a já citada previsibilidade do roteiro. Muitos dos problemas apresentados são resolvidos de forma simplória, e o final é facilmente previsto, sem apresentar surpresas ou reviravoltas. Diversas dúvidas ficam sem resposta aparente. Um exemplo disso ocorre com o alto tempo de tela dado à confecção de uma tecnologia de caçar ratos por parte do pai das duas irmãs, mas que acaba sem finalidade aparente, influenciando infimamente na condução do roteiro. Mais uma vez, parece que foi algo jogado durante a trama e não é finalizado.
A atuação é um dos pontos fortes. Cada personagem realiza o que foi proposto de forma grandiosa. Vale destacar Miley Cyrus, que consegue conciliar dois lados antagônicos de sua personalidade, cativando, assim, o público.
Rachel, Jack e Ashley Too tem seus altos e baixos. Ainda que a intenção do episódio deixe suas dúvidas, a emoção, as boas atuações e os momentos cômicos podem grudar a atenção de quem assiste. Diferente do usual, Black Mirror arriscou em uma nova forma de construir suas narrativas, trazendo um ar mais “alegre” do que geralmente é apresentado, mas sem perder a essência da série. Em seu desfecho, a quinta temporada divide opiniões, o que só reforça seu sucesso mesmo após sete anos de exibição.
O enredo está maravilhoso. Um excelente redator.