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Brasil nas Olimpíadas de Inverno: O desempenho do país tropical em temperaturas abaixo de 0ºC

Por Jonas Santana O Brasil possui grande tradição nos Jogos Olímpicos de Verão, sendo que das 32 edições realizadas, o país participou de 22 tendo conquistado, ao todo, 128 medalhas. Porém, não é o que ocorre nas Olimpíadas de Inverno. O evento que surgiu no ano de 1924, só contou com a participação brasileira a partir …

Brasil nas Olimpíadas de Inverno: O desempenho do país tropical em temperaturas abaixo de 0ºC Leia mais »

Por Jonas Santana

O Brasil possui grande tradição nos Jogos Olímpicos de Verão, sendo que das 32 edições realizadas, o país participou de 22 tendo conquistado, ao todo, 128 medalhas. Porém, não é o que ocorre nas Olimpíadas de Inverno. O evento que surgiu no ano de 1924, só contou com a participação brasileira a partir de 1992 que, até hoje, não conquistou nenhuma medalha.

Como os de Verão, os Jogos Olímpicos de Inverno acontecem a cada quatro anos. Até 1992, os dois eventos ocorriam no mesmo ano, mas a partir da decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) em separar as duas competições, houve a edição de 1994, dando origem a um calendário alternado aos Jogos Olímpicos. Embora não seja muito divulgado pela mídia brasileira, a cada dois anos Olimpíadas vão sendo disputadas.

A próxima edição acontecerá em PyeongChang, na Coreia do Sul, entre os dias 9 e 25 de fevereiro de 2018. Nesta edição serão disputadas 15 modalidades de sete esportes divididos em três categorias. E são elas:

  • Esportes de gelo (curling, hóquei no gelo, patinação artística, patinação de velocidade e patinação de velocidade em pista curta);
  • Esportes de neve (biatlo, esqui alpino, esqui nórdico combinado, esqui cross-country, esqui estilo livre, salto com esqui e snowboard);
  • Esportes deslizantes (bobsled, luge e skeleton).

Na TV aberta, a Rede Record foi a emissora pioneira, no Brasil, a decidir colocar os Jogos Olímpicos de Inverno em sua grade. Sua primeira cobertura foi na edição de 2010, em Vancouver, tendo outra quatro anos depois, em Sochi. A emissora, entretanto, ainda não fechou qualquer acordo de transmissão para os próximos Jogos, em PyeongChang. Já a Rede Globo, no entanto, renovou um contrato com o COI de exclusividade na transmissão de eventos olímpicos até 2032, no qual abrange tantos Olimpíadas de Verão quanto as de Inverno. Porém, ainda é incerto se a emissora terá os Jogos Olímpicos de Inverno como prioridade em sua programação.

Em um país tropical, como o Brasil, que raras são as vezes que cai um floco de gelo em seu território, a prática de qualquer desporto que envolva neve é dificultada. Muitos atletas, que decidem praticar modalidades que exigem um determinado clima, enfrentam grandes desafios e, sabendo disso, o Arquibancada entrevistou alguns desses para entender melhor como é representar um país que não possui tradição em esportes invernais.

Quem são esses atletas?

A maioria dos representantes do Brasil em Olimpíadas de Inverno possui histórias em desportos de verão, como a Laís Souza, que leva em seu currículo duas participações em Jogos Olímpicos de Verão como ginasta e que decidiu migrar para o esqui. Ela até conseguiu a vaga para os Jogos de 2014, porém, dias antes do início das Olimpíadas, em um treinamento, sofreu um grave acidente que a deixou tetraplégica.

Há outras histórias, no entanto, de sucesso nessa transição, como a de Odirlei Pessoni, atleta de bobsled, que participou dos Jogos Olímpicos de Sochi, na Rússia, e que estará na próxima edição, em 2018. Antes de ser um esportista de inverno, ele já pôde comemorar conquistas como campeão brasileiro e sul-americano de decatlo. Ele contou que teve seu primeiro contato com o esporte de inverno por influência de um amigo, que também era do atletismo e migrou para o bobsled. “Eu conheci o bobsled através do Edson [Bindilatti] que é nosso piloto hoje em dia. Ele também fazia a prova do decatlo e me convidou. Eu, por gostar muito de vários esportes de adrenalina, gostei muito de tentar ingressar nesse esporte. Fui para os EUA, conheci o bobsled, fiz alguns testes e me dei bem”.

Edson Bindilatti, Odirlei Pessoni, Edson Ricardo Martins e Fabio Gonçalves Silva no trenó na prova de Bobsled nos Jogos Olímpicos de Sochi 2014 (Imagem: Alex Livesey/Getty Images Europe)

Como Laís, Jaqueline Mourão já participou de Olimpíadas de Verão e, caso consiga se classificar para os Jogos Olímpicos de PyeongChang, em 2018, fará história ao se igualar à futebolista Formiga por disputar seis Olimpíadas. Jaqueline foi a primeira brasileira a competir em Olimpíadas de Inverno e de Verão, em três diferentes modalidades olímpicas: mountain bike, esqui cross-country e biatlo, além de ser dona de numerosos títulos de campeã brasileira, sul-americana e pan-americana. Ela relatou como um imprevisto a fez conhecer um desporto que a levaria para uma Olimpíada de Inverno já no ano seguinte: “Comecei a praticar o esqui cross-country por puro acidente da natureza. Estava competindo, em 2005, no mountain bike na América do Norte. Cheguei no Canadá e estava tudo branco: foi uma tempestade de neve inesperada no mês de maio. Tinha que ir treinar de algum jeito e a única forma era no esqui porque não tinha como pedalar. Foi assim que conheci esse esporte. Em novembro, fui para a Europa competir minha primeira prova no esqui e consegui me classificar para as Olimpíadas de 2006”.

Jaqueline Mourão encerrando sua participação em Sochi com a prova de 15km do biatlo (Imagem: Helena Rebello)

Treinos adaptados

Não há grandes estruturas para atletas invernais treinarem no Brasil e, por conta disso, às vezes, não há formas viáveis destes se manterem no exterior. Equipamentos que simulam condições de treino aos de neve tornam-se imprescindíveis para quem sonha conquistar bons resultados em competições internacionais com pouca estrutura. Um desses equipamentos é o rollerski. O rollerski, conhecido como esqui de rodinhas, “surgiu na Europa, na década de 50, como uma ferramenta para os atletas de esqui cross-country treinarem durante o verão”, segundo Leandro Ribela, representante do Brasil nas Olimpíadas de Vancouver, em 2010, e de Sochi, em 2014. Ele comentou a grande semelhança do rollerski com o esqui tradicional, fazendo com que a falta de neve não seja um grande problema para os esquiadores. “O equipamento é o mesmo. A mesma bota que a gente usa na prática do rollerski a gente usa na neve; a fixação é a mesma que a gente usa na neve e no asfalto; o bastão é o mesmo, a gente só troca a ponta, usando a ponta um pouco de aço mais resistente no asfalto para que tenha uma maior durabilidade e agarre melhor ao asfalto na hora da proporção, e no inverno lá tem uma cestinha para não afundar na neve”.

Leandro Ribela andando de rollerski e sua participação nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver (Imagem: Esporte Essencial)

Já no bobsled, em julho deste ano, após três semanas, foi finalizada a construção da primeira pista de Push do Brasil. A pista possui 78 metros e promete ajudar ainda mais os atletas que se preparam para as Olimpíadas. Quem a construiu foi o atleta Odirlei Pessoni, que explicou a importância desta pista para Seleção Brasileira de Bobsled que, quando competia em eventos internacionais, saía em desvantagem por não possuir ritmo em comparação com seus adversários. “Antes, a gente treinava a parte física aqui [no Brasil] e chegava lá para começar a temporada ainda meio cru na empurrada. Não adianta a gente estar rápido, estar forte mas não ter contato real do que a gente faz lá. Então ela vai ajudar muito, porque a gente já vai chegar lá em um ritmo muito bom para já poder competir. Essa pista a gente consegue treinar a sincronia do time, treinar aperfeiçoamento e a técnica de empurrada. Então a gente vai chegar lá 100%”.

Confira como foi a construção da primeira pista de Push do Brasil no vídeo a seguir (Reprodução/Marcio Capoano):

Dificuldades enfrentadas

Além do clima, os atletas brasileiros que disputam esportes de inverno enfrentam dificuldades que vão de apoio financeiro à adaptação de treinamentos em um país que não possui história em desportos invernais. Esse é o caso do Leandro Ribela, que contou sobre um desafio pessoal que teve após decidir disputar um desporto de pouca tradição no país. “Uma das maiores dificuldades foi encontrar pessoas capacitadas e condições de treinamento que propiciassem a chegar onde eu gostaria e onde eu visualizava objetivos que eu tinha dentro do esporte”.

Já Isadora Williams, que aos 17 anos tornou-se a primeira brasileira a competir pelo Brasil na patinação artística, nos Jogos de Sochi, comentou sobre as dificuldades enfrentadas pelos atletas que não conseguem viver unicamente para o esporte tendo que recorrer a fontes de renda secundárias para se manter. “[As dificuldades] são várias. Primeiro a falta de patrocínio, não somente para os atletas dos esportes de inverno mas para os atletas dos esportes de verão. A situação atual do Brasil está muito delicada e frágil de um modo geral. Mas também tenho esperança de que seja somente uma fase e que ainda possamos contar com a ajuda do Ministério dos Esportes com o repasse da Bolsa Atleta para que possamos dar continuidade aos treinos”.

Diante de dificuldades financeiras, Isadora optou por criar, em abril, uma “vaquinha” online para arrecadar o dinheiro que cobrisse os gastos com treinos em sua preparação para conseguir a vaga e disputar os Jogos Olímpicos de 2018.

Caso queira ajudá-la é só visitar a página neste link.

Isadora Williams com seu técnico nos Jogos Olímpicos de Sochi 2014 (Imagem: Celebmafia)

Expectativas para o futuro

Unanimemente, os atletas que foram entrevistados concordam que pensar em pódio para próxima Olimpíada é ainda cedo, porém, veem que a longo prazo o Brasil tem, sim, grandes chances de alcançar sua medalha inédita nos Jogos Olímpicos de Inverno. Entretanto, acreditam que resultados só serão conquistados com investimento e divulgação dos esportes.

Não só com esse objetivo, no entanto, surgem projetos como o Ski Na Rua criado pelo atleta Leandro Ribela. Como público alvo crianças e adolescentes de baixa renda do Jardim São Remo, comunidade localizada ao lado do campus do Butantã da Universidade de São Paulo, o projeto começou suas atividades em 2012 e tornou-se ONG em 2015. Hoje o Ski Na Rua possui 15 voluntários e atende cerca de 90 crianças e adolescentes. “A ideia foi estruturar um projeto social no qual pudéssemos passar um pouco dos valores do olimpismo e trabalhar o esporte como uma ferramenta de educação. Oferecendo não só atividades físicas, mas também atividades complementares educacionais que complementam o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes de forma integrada para que elas possam atingir o desenvolvimento pleno”, relatou Leandro.

O projeto vem tendo um grande retorno revelando novos esportistas para o futuro do esqui no Brasil. Além de já ter levado alguns atletas para disputas internacionais de esqui, na ONG, hoje, existem dois esquiadores disputando uma única vaga para representar o Brasil nos próximos Jogos. Leandro Ribela, que pôde participar das duas últimas Olimpíadas como atleta, possui grandes chances de participar da edição de PyeongChang fazendo parte da comissão técnica que acompanhará o atleta que conquistará a única vaga da categoria para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018.

Crianças e adolescentes que participam da ONG Ski Na Rua (Leandro Ribela é o de camiseta azul do meio) (Imagem: Jornal da USP)

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