Por Beatriz Hadler (balmeidahadler@usp.br)
De 9 a 14 de julho, a 16ª edição da Campus Party Brasil (CPBR16) ofereceu mais de 400 horas de atividades no Expo Center Norte, em São Paulo, para visitantes de todo o país. Os organizadores estimam que 100 mil pessoas participaram da feira – que nasceu na Espanha e conta com mais de 70 edições realizadas em 30 países.
Referência em ciência, inovação e empreendedorismo, o evento é uma grande experiência imersiva voltada para esse universo. A programação da sua edição nacional mais recente destacou assuntos como sustentabilidade e Inteligência Artificial (IA) no dia a dia da população através de disrupção, educação e criatividade. Oficinas, palestras e workshops proporcionaram atividades a um público diversificado, mas com uma coisa em comum: a paixão por tecnologia.
Com mais de 500 palestras, a CPBR16 contou com nomes de destaque no mundo digital. Peter Jordan, Gustavo Guanabara, Giulia Bordignon e Nina Talks compartilharam com o público suas experiências tendo a internet como campo de trabalho. Além deles, painéis que exploraram temas como inteligência artificial, divulgação científica, astronomia e psicologia tiveram convidados como Dani Monttêiro, Marcelo Tas, Luísa Santos e Pyong Lee. No aplicativo e no site da Campus Party, é possível verificar o cronograma completo.
Novidades
A cerimônia de abertura do festival, que ocorreu no palco principal What’s Next no final da tarde do primeiro dia, foi conduzida por Tonico Novaes, CEO da Campus Party. Além de comentar sobre sua estrutura geral, ele introduziu aos visitantes as inovações que a 16ª edição trouxe, como o novo local – nos anos anteriores a Campus era sediada no Pavilhão de Exposições do Anhembi, também na capital paulista.
Um ponto de destaque da apresentação foi o compromisso firmado pelo evento, a partir de 2024, com iniciativas de inclusão e acessibilidade digital. Pela primeira vez, o programa social Include – que leva laboratórios de tecnologia para comunidades periféricas de todo o país – trouxe 30 alunos envolvidos do Espírito Santo e de Minas Gerais para experienciar a Campus Party. “Se não incorporarmos as pessoas às tecnologias, não vamos avançar coletivamente”, defendeu Sidiane Zanin, diretora do projeto no Brasil.
A sustentabilidade como resposta à urgência de enfrentar questões ambientais e mitigar as mudanças climáticas também esteve fortemente presente na edição. Uma das novidades foi a Exposição Amazon Party: uma experiência imersiva, interativa e sensorial que simula o ambiente da floresta amazônica brasileira e propõe a conexão da natureza com os avanços tecnológicos. Em um espaço paralelo, discussões sobre sustentabilidade e ESG (Environmental, Social and Governance) estiveram presentes em workshops – como o ministrado por Tachi Karts, professora e desenvolvedora de IA gaúcha, que explorou soluções inovadoras para as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul.
Outra exposição cultural que estreou na 16ª edição da feira foi a Game Party. Essa atração interativa proporcionou o encontro de várias gerações de gamers em uma série de expositores com videogames antigos. A partir do jogo Pong, lançado em 1972, a mostra retratou a evolução dos consoles e convidou os visitantes a uma viagem no tempo.
Durante a cerimônia, Tonico Novaes chamou ao palco Francesco Farruggia, presidente de honra do Instituto Campus Party, para a apresentação do grande lançamento da edição de 2024: o 1° Fórum Internacional do Marco Regulatório de Inteligência Artificial. Aproveitando que o evento é um grande catalisador para inovação, colaboração e troca de ideias, seus palcos inauguraram uma agenda de 18 fóruns que serão realizados ao longo de três anos e passarão por dez estados brasileiros.
Em coletiva de imprensa, Francesco ressaltou o pioneirismo do país nas discussões e a importância de ambientes como a Campus Party para a consolidação de leis como, por exemplo, o Marco Civil da Internet em 2014. Dessa vez, ele espera um protagonismo ainda maior da sociedade civil nas discussões sobre os princípios que orientarão a usabilidade da nova tecnologia. Ricardo Cappra, cientista de dados e fundador do Cappra Institute, e Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, juntaram-se ao presidente para apresentar as possibilidades do fórum.
“Quantas vezes tivemos a oportunidade de interferir nas leis que nos regulam?”
Ricardo Cappra
Dinâmica e espaços
Em uma disposição inédita, o palco onde acontecem as palestras de maior destaque da edição ficou voltado tanto para a Arena quanto para a Área Open, um espaço gratuito e aberto à visitação. Em funcionamento entre 10 e 13 de julho, das 10h às 20h, o ambiente livre ao público reuniu as novas exposições e a sala para os debates do Fórum. Nele, os visitantes também tiveram acesso a atrações e atividades que já são sucesso entre os participantes, como corridas de drones, simulações de missões espaciais, concursos de cosplay e painéis sobre o universo gamer.
Dentre as experiências que mais chamam a atenção dos visitantes estão os tradicionais campeonatos de eSports, realizados ao longo do evento na Arena Campus Play, e o maior combate de robôs da América Latina, torneio que reuniu mais de 1300 participantes na Arena RoboCore. Com a repercussão da 1ª edição nacional no ano passado, a competição gastronômica Printer Chef – que utiliza alimentos vegetais produzidos em impressoras 3D – aconteceu dessa vez com máquinas aprimoradas, inclusão do peixe no cardápio e introdução de técnicas da culinária molecular.
Os “campuseiros” – como são chamados os participantes do evento – também puderam aproveitar as diversas apresentações que ocorreram ao longo de quatro dias nos palcos da Arena, o espaço pago da feira. Além de tablados para palestras organizadas por patrocinadores, como Petrobras e Loterias Caixa, palcos menores protagonizados por comunidades de universidades, institutos federais ou grupos digitais e uma Arena de Disrupção para workshops e hackathons – maratonas de programação para solução de problemas tecnológicos – equiparam o espaço.
Campuseiros
A cada edição, o perfil dos participantes do evento se torna mais diversificado. Pessoas de todas as regiões do Brasil, de inúmeras faixas etárias e com diferentes ocupações se encontraram mais uma vez em 2024 para trocarem experiências.
Apesar do público entre 21 e 30 anos corresponder a 40% dos visitantes, as atrações também contemplaram os mais novos e os mais velhos. Com 17 anos, Sâmela, estudante de Desenvolvimento de Sistemas na Etec de Hortolândia (SP), veio na sua primeira Campus Party com uma caravana de alunos para conhecer mais sobre sua área de estudo. Já Vougarth Paim, de 32 anos, veio com sua esposa e filho de 7 anos. “Vim para estar em família e fomos muito bem recebidos”, comenta o assessor comercial paranaense.
Diante desse cenário, as motivações dos campuseiros também são variadas. “Minha vinda foi para pegar novas ideias e ver o que está sendo feito no momento voltado para as crianças, para que eu possa utilizar nas minhas aulas”, explica Elisângela Carvalho (56), professora de educação digital na rede pública. Em sua segunda edição, Bianca (31) , técnica de enfermagem no Rio Grande do Sul, veio para se divertir e entrar em contato com inovações científicas e tecnológicas do seu interesse.
Alguns “veteranos” no evento compartilharam suas expectativas para a 16ª edição. “Espero que esse ano a Campus seja ainda maior que as anteriores e que continue sendo um lugar para juntar pessoas que têm assuntos em comum, para que possamos criar cada vez mais vínculos”, pontua Jaime Ribeiro, que é investidor e participou pela décima vez. Um dos líderes da comunidade chamada “Távola Quadrada”, Tiago Augusto, na sua sexta edição, expôs um receio sobre o cancelamento de palestras – que, segundo ele, foi um problema recorrente no ano anterior.
Bianca, Jaime, Tiago e mais de cinco mil visitantes estiveram acampados no Expo Center Norte para vivenciar a imersão em tempo integral e aproveitar tudo que a Campus Party tem a oferecer. No Camping, espaço com barracas e áreas de convivência dos apaixonados por tecnologia, o Laboratório entrevistou Clara Raquel (23) para saber sobre a experiência.
“Tenho alguns amigos que vieram ano passado e contaram sobre como foi uma vivência de muito aprendizado, diversão e networking. Isso influenciou alguns colegas a visitarem, inclusive eu. Está sendo muito bom, tanto nas barracas quanto na Arena”, compartilha a estudante de Desenvolvimento de Sistemas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). As irmãs Laís e Lilian Carvalho também elogiaram a estrutura da feira e admitiram que nem dormiram durante a noite para aproveitar mais o tempo e as pessoas.
A Campus Party foi patrocinada por grandes empresas como a Loterias Caixa, GWM, Petrobras, 3 Corações, Unilever e Senac. O evento é uma realização do Instituto Campus Party e Gouvea Ecosystem, com parceria do Sebrae e apoio institucional da Prefeitura de São Paulo e da São Paulo Negócios.
Confira as outras matérias da nossa cobertura da CPBR16:
Campus Party Brasil 2024: o impacto das novas tecnologias e a regulamentação da IA
Imagem da capa: Acervo pessoal/Beatriz Hadler