O texto abaixo faz parte de um novo projeto experimental da Jornalismo Júnior.
Por Mariana Arrudas
maarrudas@usp.br
Em 1163 iniciou-se a construção de uma das maiores obras que a humanidade já viu. Após 182 anos, quase dois séculos, estava encerrada a obra da Catedral de Notre Dame: dedicada a Virgem Maria, situa-se na Île de la Cité em Paris, banhada pelas águas do rio Sena. Sua arquitetura gótica substituiu o estilo romântico conhecido até então e marcou a história com toda sua grandiosidade.
Em seus oito séculos de existência, Notre Dame foi reformada algumas vezes, sendo a mais importante em meados do século XIX. Foram substituídos os arcobotantes, foi incluída a rosácea sul, as capelas foram reformadas e foram adicionadas estátuas.
Tem duas torres de 69 metros em sua fachada, a parte superior das torres dá acesso ao campanário onde viveu o conhecido Corcunda de Notre Dame, e também proporciona a vista de diversas gárgulas. Além disso, a Catedral possui planta no formato de cruz latina e das torres é possível ter uma vista panorâmica de Paris. Conta também com o pináculo, de 45 metros de altura, construído em 1860.
Em 15 de abril de 2019 o pináculo desabou durante o violento incêndio que atingiu o monumento mais visitado da França. O fogo durou aproximadamente 15 horas e causou colapsos à agulha principal, em espiral (pináculo) e a cúpula da igreja. Em entrevista à repórteres, Jean-Claude Gallet, comandante dos bombeiros de Paris, disse que a estrutura principal do Patrimônio Mundial da Humanidade, incluindo as duas torres, está “a salvo e preservada em sua totalidade”.
A estrutura da Catedral estava em restauração desde o ano passado, a Igreja Católica da França havia relatado que a estrutura estava com vários problemas. No entanto, a causa do incêndio está sendo tratada como acidental. Não há confirmações sobre ter sido ou não um acidente, mas a polícia de Paris afirma que o fogo pode ter relação com as obras de restauração.
Uma operação enorme foi montada e contava com mais de 400 bombeiros. Segundo o jornalista Nicolas Delesalle, da revista francesa Paris Match, todas as obras de arte da catedral foram salvas, dentre elas destacou a coroa de espinhos, que acredita-se ter sido usada por Jesus, e os santos sacramentos.
Também foram salvas 16 estátuas do teto da Notre-Dame, pois haviam sido retiradas há quatro dias (11 de abril), para serem realizadas restaurações, o que preservou mais obras. As peças tem três metros de altura e 250 quilos, e iriam retornar à igreja somente em 2022 segundo a ANSA (Agenzia Nazionale Stampa Associata).
Não houveram mortes decorrentes do incêndio, no entanto, um policial e dois bombeiros envolvidos ficaram feridos, segundo o jornal francês Le Monde. Os bombeiros bloquearam o perímetro de segurança ao redor do local e os prédios foram evacuados. A fumaça do incêndio se espalhou por toda a capital francesa.
A Defesa Civil da França disse que seria inviável o uso de aviões para conter as chamas pois o peso da água e a intensidade do despejo poderia fragilizar a estrutura da Catedral e causar danos aos prédios que se localizam ao redor.
“A Notre-Dame de Paris é nossa história, nossa literatura. É o epicentro de nossa vida”, disse Emmanuel Macron, o presidente da França, sobre o incêndio. O Presidente disse que a Catedral será reconstruída, e quis passar uma mensagem de esperança para a nação francesa: “Quero dar uma palavra de esperança a nós todos. Essa esperança é o orgulho que devemos ter. Orgulho por todos que evitaram o pior: nossos bombeiros”.
Muitas pessoas ao redor do mundo se solidarizaram com o caso, celebridades, políticos, amantes de arte, entre outros. E no Brasil, o twitter oficial do Museu Nacional do Brasil, que passou por um episódio parecido no final de 2018, deixou uma nota:
“O Museu Nacional lamenta o incêndio ocorrido na tarde desta segunda-feira, dia 15 de abril, na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Nossa instituição, que viveu episódio semelhante em sua história recente, se solidariza com os franceses nesse momento.”
No mesmo dia em que as chamas invadiram a Catedral de Notre-Dame, um incêndio em proporções menores atingiu a Mesquita Al-Aqsa, localizada na área da Cidade Antiga, parte sul do Haram Al-Sharif, em Jerusalém. O incêndio não causou grandes danos, mas colocou em risco a mesquita que já tem mais de 2000 anos de idade e é muito significativa para o islamismo.
Para o Islã, a Mesquita tinha extrema importância uma vez que se acredita ter sido nela em que o Profeta Maomé teve um evento crucial em sua vida. O nome da Mesquita faz alusão a uma passagem do Alcorão, a qual é descrita uma viagem de Maomé desde Meca até à mesquita distante (Al-Masjid Al-Aqsa).
A viagem é conhecida como Isra, e é identificada como o local do Monte do Templo em Jerusalém. De acordo com a visão islâmica, a partir deste ponto Maomé Subiu ao céu (Miraj) e dialogou com profetas como Moisés antes de se encontrar com Deus.
É considerada o terceiro local sagrado para o islão, após Meca e Medina. O departamento Islâmico Waqf da Mesquita elogiou a rapidez com a qual os bombeiros apagaram o fogo. As autoridades não sabem dizer como o incêndio começou, mas a suspeita é de que ele tenha se iniciado a partir de crianças brincando com fogo perto do local.