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Contra todos e contra ninguém

Por Mirella S. Kamimura mirellask317@gmail.com Uma trama não-linear bem elaborada com efeitos especiais explosivos, misturados com animações de video-game, referências à cultura pop e no cenário da cidade de São Paulo. Muito confuso? Pois o filme de ação 2 Coelhos (Idem, 2012), dirigido pelo novato Afonso Poyart, é uma inovação positiva no cinema brasileiro e …

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Por Mirella S. Kamimura
mirellask317@gmail.com

Uma trama não-linear bem elaborada com efeitos especiais explosivos, misturados com animações de video-game, referências à cultura pop e no cenário da cidade de São Paulo. Muito confuso? Pois o filme de ação 2 Coelhos (Idem, 2012), dirigido pelo novato Afonso Poyart, é uma inovação positiva no cinema brasileiro e reconhecido até no exterior.

Alguns dos personagens principais do longa.

O diretor Afonso Poyart, responsável pelo enredo, não é tão novato assim. Ele já tinha dirigido o curta Eu te Darei o Céu (Idem, 2005), ganhando 4 prêmios no Festival de Gramado, incluindo de melhor filme pelo júri popular. Porém, seu grande début para o cinema brasileiro veio mesmo com 2 Coelhos. Graças ao sucesso do longa, o diretor fará sua estreia em Hollywood com o suspense sobrenatural Solace, no qual trabalhará com Anthony Hopkins.

O longa conta a história de Edgar (Fernando Alves Pinto), um homem que se envolve num acidente de carro que resulta na morte de uma mulher e uma criança. O rapaz é indiciado, mas escapa do “xadrez” graças à um conhecido político. Após passar uma temporada em Miami para “espairecer”, Edgar volta com um plano meio maluco mas bem elaborado. Nesse plano, ele tem a intenção de atingir dois lados sórdidos da sociedade: o deputado corrupto Jader (Roberto Marchese) – aquele mesmo político que o ajudou a sair da prisão – e o criminoso Maicon (Marat Descartes) – que usufrui da influência de políticos corruptos para escapar da Justiça. Num clima de constante adrenalina, Edgar coloca seu plano em prática, a fim de se redimir dos erros do passado e tentar “matar 2 coelhos – criminosos e corruptos – numa cajadada só”.

Edgar, protagonista da história, em uma das cenas com efeitos visuais.

Quem assiste o filme, não imagina que seu roteiro tenha sido desenvolvido em apenas 8 meses. A ideia original de Poyart era apenas adaptar a corrupção e criminalidade, mas acabou se tornando mais que isso. Segundo uma declaração em entrevista, para ele, Edgar é “um cara comum, meio justiceiro, que vive coisas que vivemos no dia-a-dia”, aproximando o espectador da história. Ter a cidade de São Paulo como plano de fundo também é um fator aproximador. Ver a praça Charles Miller, o Edifício Copan, a praça Roosevelt, a Avenida do Estado, o porão da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e outros locais como cenário, traz um clima de familiaridade aos paulistanos.

Outra grande sacada do filme está nos efeitos especiais. O longa conta com várias cenas de animação que chamam atenção não só pela qualidade, mas também pela ousadia de introduzir tais efeitos num filme nacional.Tendo já trabalhado como animador, Poyart contou em uma entrevista que pegou as primeiras cenas gravadas do protagonista e o modelou em 3D. Na versão finalizada, o personagem Edgar aparece como um personagem de jogo similar ao GTA (Grand Theft Auto), no qual há perseguições, tiroteios e muita ação, assim como no filme. Outro momento no qual os efeitos visuais tomam conta da história é durante uma crise de síndrome do pânico da personagem Júlia (Alessandra Negrini), a mocinha do filme. Nele, Júlia trava uma luta de espadas contra personagens animados, que simbolizam seu pânico.

Júlia e sua crise de Síndrome do Pânico, ambas retratadas com efeitos visuais.

O longa tem um ritmo acelerado, uma fotografia acertada e uma trilha sonora eclética que o acompanha, contando com músicas de Radiohead, 30 Secons To Mars, Titãs, Lenine e Avassaladores. Misturando diversos recursos de edição, ora o filme toma um tom poético, ora um tom popular, ora um tom frenético. 2 Coelhos é o tipo de filme que se precisa prestar muita atenção. Ao longo dos 108 minutos de filme, o espectador vai encaixando as peças do quebra-cabeça.

No início, parece que Edgar está trabalhando sozinho e é tudo muito confuso e suspeito, mas logo se descobre que Júlia, sua namorada em segredo, faz parte de todo o esquema. Júlia é a responsável pela aliança entre o deputado Jader e o criminoso Maicon (aliás, grande parte da trama, gira em torno de Júlia e suas relações com todos os personagens). Após muita ação, tiros e perseguições, Edgar consegue completar seu plano: com o uso de um dispositivo de duas peças que são ativados por aproximação ou afastamento, ele explode Jader e Maicon. Para explodir Jader, ele usa o dispositivo de aproximação e conta com a ajuda da esposa-infiel-infeliz-no-casamento do deputado. Para explodir Maicon, ele usa o dispositivo de afastamento e conta com a ajuda de Júlia. Maicon era apaixonado por Júlia e queria fugir com ela. Só que na verdade ela estava com Edgar e o ajuda no plano.

A explosão do carro de Maicon, da qual Júlia consegue escapar.

A surpresa do filme está em como Edgar obtém sua redenção. Lembra da mulher e da criança que Edgar atropelou no começo do filme? Pois então. Eles eram a família de Walter.. Após o acidente, o pai de Edgar (Norival Rizzo) emprega Walter, sozinho e deprimido, em seu restaurante, a fim de ajudá-lo. O que isso tem a ver?

(Se você quer ver o filme e não quer spoilers, NÃO LEIA O PARÁGRAFO ABAIXO!)

Em paralelo a todos os acontecimentos, Edgar combinara com Walter que assim que tudo acabasse, ele deveria estar a postos para cuidar de Júlia (que estava grávida de Edgar e com uma maleta cheia de dinheiro proveniente das tramóias entre Maicon e Jader). Além de acabar com os “dois coelhos”, ele ainda se redimiu do crime do passado, devolvendo uma família a Walter e garantindo o futuro de Júlia e seu filho. Ao mesmo tempo que estava contra todos, Edgar estava contra ninguém, só queria a paz.

Júlia, uma das personagens principais, que centraliza o enredo.

O longa teve um orçamento de R$ 3,5 milhões de reais e foi bancado quase que todo pela produtora Black Maria, o que deixou a produção em uma posição de fragilidade durante todo o processo. Porém, o esforço fora recompensado. 2 Coelhos recebeu 3 Grandes Prêmios do Cinema Brasileiro (GPCC), ganhou o prêmio de Melhor Montagem pela Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) e foi indicado nas categoria de Melhor Diretor (Afonso Poyart) e Melhor Atriz (Alessandra Negrini) no Los Angeles Brasilian Film Festival. Além disso, segundo a revista Variety, a produtora americana Tango Pictures comprou os direitos de refilmagem de 2 Coelhos e pretende adaptá-lo para lançar ao público norte-americano. Contra as más línguas, Poyart mostrou que é possível sim se produzir um filme de ação tupiniquim de qualidade.

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