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Copa do Mundo do Chile em 1962: há 60 anos, o talento de Garrincha levou o Brasil à glória máxima pela segunda vez

Bi-campeonato da Seleção Brasileira confirmou um favoritismo que parecia perdido quando o Rei do Futebol se lesionou na segunda rodada

Os campeões do mundo foram ao Chile na tentativa de reproduzir as façanhas de 1958. Em busca do bi-campeonato, a Seleção Brasileira era uma das favoritas ao título da Copa do Mundo de 1962. Outras seleções também tinham  elencos fortes e poderiam apresentar perigo ao Brasil. Ademir Takara, bibliotecário do Museu do Futebol, comenta: “Quase todas as seleções europeias tinham esse status [de força]. A União Soviética, em 1960, ganhou a primeira edição da Eurocopa. A Espanha tinha como base o elenco do Real Madrid, que há pouco tempo havia ganhado o pentacampeonato da Liga dos Campeões da Europa. A Inglaterra é sempre cotada como uma das favoritas. A Itália também, que inclusive tinha o Mazzola, campeão do mundo pelo Brasil em 58. Na América do Sul, não tem como fugir de Argentina e Uruguai. Mas o Brasil é o favorito, principalmente por ser campeão do mundo.”

Em razão do triunfo do Mundial da Suécia, João Havelange, presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, hoje CBF), decidiu repetir as condutas da campanha de 58. A única mudança significativa foi a do comando técnico da seleção. Por motivos de saúde, Vicente Feola deixou o cargo de técnico, assumido por Aymoré Moreira. Dos 22 convocados ao Chile, 14 eram veteranos. Foram eles: Gilmar e Castilho; Djalma Santos, Nilton Santos, Jair Marinho e Altair; Mauro, Bellini, Zózimo e Jurandir; Zito, Didi, Zequinha e Mengálvio; Garrincha, Zagallo, Vavá, Pepe, Coutinho, Jair da Costa, Amarildo e Pelé. Todos os convocados jogavam em clubes brasileiros. À época, jogadores atuando em clubes estrangeiros não eram convocados para a Seleção, regra que não permitia ao Brasil valer-se de alguns dos campeões de 1958.  

Em pé: Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro.
Agachados: Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo. Para Ademir Takara, Djalma Santos e Nilton Santos formaram a maior dupla de laterais da história da Seleção Canarinho. [Foto: Reprodução/Twitter @victoriabritolg]

Apesar de grandes nomes, uma estrela brilhava com destaque  no elenco brasileiro: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Campeão aos 17 anos em 1958, Pelé voltava a disputar uma Copa do Mundo já com o título de melhor jogador do mundo. Atuando pelo Santos Futebol Clube, o “Rei” encantava a todos com seu futebol. Ainda no ano de 1962, além de conquistar a Copa com o Brasil, Pelé levaria o clube alvinegro a conquistar o mundo — nesse ano, o Santos venceu o Campeonato Paulista, o Brasileiro, a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes.

Chile, 1962

  Após duas competições em solos europeus, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) decidiu retornar à América do Sul em busca do próximo país-sede. Em 1956, o Chile superou a Argentina e foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de 1962. 

  Os preparativos para o evento, porém, foram interrompidos por um enorme desastre natural. Conhecido como Sismo de Valdivia, o mais forte terremoto já registrado pela humanidade (9,5 na escala Richter) atingiu o país latino-americano e ceifou milhares de vidas. A FIFA começou a estudar a possibilidade de mudança da sede, já que a população e a economia chilena foram duramente impactadas. O principal responsável pela permanência da Copa no Chile foi Carlos Dittborn, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol. Com o slogan “Porque nada tenemos, lo haremos  todo” (em português, porque não temos nada, faremos tudo), Dittborn convenceu a FIFA de que a união nacional seria forte o suficiente para reestruturar o país a tempo da competição. Reduzidas as cidades-sede e estádios, e com mais mudanças de planejamento, o Chile se manteve como sede da Copa do Mundo de 1964. Dittborn faleceu um mês antes do início dos jogos. Em sua homenagem, o estádio de Arica foi rebatizado com seu nome.

Frase de Dittborn em Viña Del Mar, Chile. [Reprodução/Twitter @JorgeATovar]

Paulo Machado de Carvalho: nos bastidores da conquista

Além de ser “o seu, o meu, o nosso, Pacaembu”, Paulo Machado de Carvalho já foi uma personalidade de destaque no cenário esportivo. Um dos grandes responsáveis por garantir a logística brasileira na Copa de 1958,  mantido para a edição de 1962, foi Carvalho, que organizou viagens, locais de treinamento e de hospedagens da equipe.

Além disso, promoveu superstições que, até hoje, são lembradas quando se fala em Copa do Chile: o terno utilizado em 1962 era o mesmo de quatro anos antes, fato que motivou muitos jornalistas a aderirem a ideia. E não foi só isso: a equipe de voo da Panair, que levou o Brasil para a Suécia, foi a mesma quatro anos depois. Paulo Machado de Carvalho aliava o planejamento, ao psicológico e ao sobrenatural. 

A Fase de Grupos: estreia tranquila, sequência dura

Estando definida a sede como o Chile, deu-se início ao mundial de 1962 com quatro grupos, numerados de um a quatro (diferentemente do formato atual, que tem oito grupos nomeados com letras do alfabeto). O grupo um teve a União Soviética como campeã, seguida da Iugoslávia, do Uruguai e da Colômbia. Já o grupo dois, teve a Alemanha em primeiro lugar, o país-sede como segundo, a então maior campeã Itália, em terceiro, e a Suíça em último. O grupo quatro, por sua vez, teve a Hungria na primeira colocação, seguida de Inglaterra, Argentina e Bulgária, respectivamente. 

O Chile foi a terceira sede sul-americana em sete edições de Copas do Mundo até então. [Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]

E o grupo três? Pois é, esse era o grupo do Brasil! A base da seleção campeã em 1958, na Suécia, entrou em campo contra o México, em 30 de maio, em Viña del Mar, para defender o título. O Brasil era favorito ao jogo e à taça. E assim foi na estreia: 2 a 0 contra os mexicanos, gols de Zagallo e Pelé, no segundo tempo.

  Até o momento, a expectativa era alta e o moral da “Amarelinha”, mais ainda. Ninguém esperava o susto que a seleção e os torcedores brasileiros tomariam na partida seguinte. A forte Tchecoslováquia, que havia vencido a Espanha de Puskas no primeiro jogo, fazia um belo trabalho em anular os atacantes brasileiros. Aos 27’, Pelé chutou ao gol e, em seguida, exprimiu um semblante de dor. A partida foi retomada e logo paralisada, quando Pelé caiu no gramado com as mãos na coxa esquerda. Apesar do atendimento em campo, esta seria a pior lesão da carreira do Rei. O jogo terminou em um 0 a 0 carregado de angústia para os brasileiros. A seleção favorita ao título acabava de perder sua maior estrela.

  A tensão se manteve ao longo de boa parte do jogo contra a Espanha, na terceira rodada. Na época, a vitória valia dois pontos e, assim, a rodada se iniciou em 6 de junho, com Tchecoslováquia e Brasil empatados com três pontos cada, seguidos da Espanha, com dois, e do México, com zero. Uma derrota do Brasil significaria, portanto, a eliminação, quatro anos depois do primeiro título, numa edição que tinha tudo para ser vitoriosa. 

O escolhido para substituir o Rei foi Amarildo, com 21 anos na ocasião. A idade era a mesma do camisa 10, mas o tempo de carreira internacional, não. “Essa é a única substituição do time. As seleções campeãs do mundo têm uma certa rotatividade. Mas a [seleção] de 1962, estava tão forte e tão consolidada que é isso. Quatro anos antes, o Amarildo sonhava em ser jogador de futebol profissional, acompanhava a Copa da Suécia no radinho. Ele fala que sentia muito nervosismo”, explica Takara sobre a alteração

Se Amarildo estava nervoso, o sentimento do torcedor brasileiro ao ver Aderlardo Rodríguez fazer 1 a 0 para a Espanha aos 34’ do primeiro tempo era indescritível. O bibliotecário lembra, no entanto, que o camisa 20 do Brasil não estava sozinho na emboscada: “Ao mesmo tempo, ele [Amarildo] é acalmado porque porque tem os companheiros do Botafogo ao lado dele: Garrincha, Zagallo…”. E aos 26’ da segunda etapa, o nervosismo virou oportunismo, e Amarildo empatou o jogo. Ele mesmo viraria a partida e garantiria a vitória e o primeiro lugar do grupo para o Brasil, já aos 43’. O jogo mais difícil do Brasil na Copa, para Takara, ainda foi marcado por decisões polêmicas da arbitragem chilena, que teriam prejudicado a seleção espanhola.

É possível escutar a narração original desse jogo. Para isso, clique aqui.

Substituto de Pelé, o camisa 20 Amarildo foi uma grata surpresa na partida diante da Espanha. Na foto, tirada depois da final, ele e Pelé se abraçam. [Foto: Reprodução/Instagram @enciclopedia_das_lendas]

Quartas de final: o início do show de Garrincha e a grande prova até então 

Classificavam-se para a fase de quartas de final o primeiro e o segundo colocado de cada grupo, com o primeiro colocado do grupo um enfrentando o segundo do grupo dois e o primeiro do dois enfrentando o segundo do um, fato que se repetia na relação entre os grupos três e quatro. Confrontaram-se, Chile e União Soviética, Tchecoslováquia e Hungria, Iugoslávia e Alemanha e, por fim, Brasil e Inglaterra.

A seleção canarinho chegou para enfrentar os ingleses de Bobby Charlton no dia dez, mais confiante do que na partida anterior. Ofuscado nos primeiros jogos, Garrincha começou o que seria uma das maiores atuações de um jogador em uma Copa do Mundo na partida contra a campeã de 1966. Foram dois gols do “Anjo das Pernas Tortas”, em mais uma grande atuação de Amarildo, já apelidado de “Possesso”. Outro importante nome da seleção no Mundial, Vavá, fez seu primeiro gol nesta partida, que teria Gerry Hitchens marcando para a Inglaterra. 

Perguntado sobre Vavá, que ainda marcaria três gols cruciais no torneio, sendo um dos artilheiros, o bibliotecário do Museu do Futebol admite que o atacante muitas vezes não tem o devido reconhecimento e explica a justificativa para isso: “Acho que é normal, até porque lá tem um estilo menos técnica. Ele é o que a gente chama de trombador, então era basicamente saber que a bola pode sobrar qualquer momento, nunca desistir do lance. Ele tem esse diferencial de ter jogado e marcado em duas finais de copa do mundo (dois gols em 1958 e um gol em 1962), mas dificilmente é lembrado em uma Seleção Brasileira, Vasco ou Palmeiras de todos os tempos, times em que jogou bastante tempo”. Por essa característica, Vavá recebeu o apelido de “Peito de Aço”.

Vavá nunca foi brilhante, mas pulava mais alto do que qualquer um se fosse necessário. [Foto: Reprodução/Twitter @thalescmachado]

Semifinal: o domínio brasileiro para frustrar os donos da casa

As semifinais se desenharam com os confrontos entre Tchecoslováquia x Iugoslávia e Brasil x Chile. Após quatro vitórias em cinco jogos, cabia ao Brasil a missão de calar um povo animado com sua seleção, um alívio em meio ao caos do terremoto que assolara o país pouco antes do Mundial. Por essa razão, a partida em 13 de junho, que seria disputada em Viña del Mar para pouco menos de seis mil pessoas, foi transferida para Santiago, reunindo quase 80 mil espectadores no Estádio Nacional, cuja capacidade era de 70 mil.

O Estádio Nacional de Chile é, até hoje, a casa da seleção chilena, e foi palco do primeiro título da história de “La Roja”, na Copa América de 2015, diante da Argentina. [Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]

Diante de todo esse cenário, a motivação dos chilenos estava nas alturas. Isso não foi suficiente, porém, para frear o “Mané” Garrincha, que marcou dois gols em 32’, em uma das maiores atuações individuais já vistas em um torneio daquela dimensão. Com um gol de falta, Jorge Toro descontou para os donos da casa ainda na primeira etapa, dando esperanças à torcida vermelha. O “matador” Vavá não se preocupou com isso e marcou o gol do 3 a 1 aos 2’ do segundo tempo. Leonel Sánchez ainda faria o segundo gol chileno aos 16’, antes que Vavá, novamente, fechasse a conta aos 33’.

“Como o Curupira e o Saci Pererê, Garrincha tinha um perfil incomum abaixo da cintura. […] era astuto, ágil, impossível de pegar. E por causa de seu alinhamento, capaz de se mover em direções imprevisíveis, capacidade potencializada por sua extraordinária aceleração. […] esse ser paradoxal, esse anti-atleta, esse desafio à medicina esportiva, era um fio de prumo, um homem que só caía quando derrubado e que pelo contrário, desequilibrava os outros”. Assim, Ruy Castro, biógrafo de Manoel Francisco dos Santos, descreve o lendário Mané Garrincha. Na imagem, a capa da obra do jornalista Mário Filho, autor que dá nome ao Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. [Foto: Acervo Museu do Futebol]

Engana-se, entretanto, quem pensa que as emoções de Brasil e Chile estavam encerradas com o último gol da partida. Logo após o segundo gol de Vavá, Honorino Landa foi expulso por falta dura em Zito. Poucos minutos depois, um lance que ainda geraria muita polêmica: perseguido durante todo o jogo por Eladio Rojas, Garrincha acabou por revidar, aos 38’. Frente à comoção dos chilenos e consultando o auxiliar Esteban Marino, o árbitro Arturo Yamasaki Maldonado decidiu pela expulsão do ponta brasileiro. Naquele momento, Garrincha, aquele responsável por assumir o protagonismo da seleção com a lesão de Pelé, o craque da Copa do Mundo até o momento e o grande responsável por levar o Brasil à final, estava fora da final em Santiago. 

“O Chile sucumbiu diante do poder dos brasileiros e não pôde se classificar para a final da Copa do Mundo. Garrincha e Vavá acabaram com a esperança de milhares de chilenos de disputar sua primeira final de um Mundial”. Um painel no museu dentro do Estádio Nacional relembra aquela que até hoje é a melhor campanha da história de “La Roja” em uma Copa do Mundo e exalta a seleção brasileira. [Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]

O caso Garrincha

Até hoje existe uma teoria da conspiração que diz que o Brasil foi favorecido na Copa do Mundo de 1962. Afinal, 60 anos depois, todos sabem que Garrincha, embora expulso contra o Chile na partida anterior, jogou a final. O árbitro auxiliar Esteban Marino teria “fugido” do Chile para não precisar julgar a expulsão de Garrincha e isso teria sido obra de um suborno brasileiro.

Diante dessa possibilidade, Ademir Takara esclarece o que, de fato, ocorreu. “Na verdade, as pessoas não sabem, mas naquela Copa especificamente foi desse jeito: não teria suspensão automática. Todos os jogadores expulsos passariam por uma espécie de (não é nem um tribunal) é mais um um comitê de penas. Acho que de todos os jogadores expulsos naquela Copa, só dois efetivamente tomaram uma suspensão”, aponta o pesquisador.

Esteban Marino em 1968. [Foto: Reprodução/Twitter @CONMEBOL]

Sobre Esteban Marino, Takara conta que o uruguaio já havia dito que iria embora do Chile após a semifinal, já que não estava escalado para a finalíssima: “Uma possibilidade da origem dessa lenda de que ele foi subornado é que o Esteban Marino tinha sido contratado pela Federação Paulista de Futebol. Então, ele tinha um contato próximo principalmente com o [João] Mendonça Falcão, que era o presidente da federação na época e fazia parte da delegação brasileira. Mas o fato é que nos jornais da época, você consegue acompanhar que Esteban Marino falava abertamente que depois do jogo ele já iria embora”, completa.

A Grande Final: rival conhecido, Mané em campo, bolas na rede e troféu erguido

Com ou sem suborno, Manoel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha, foi liberado para jogar a final em Santiago. O adversário? A Tchecoslováquia, que trazia ao Brasil a triste lembrança da lesão de Pelé e do único jogo sem vitória naquela campanha.

Cumprimento dos capitães Mauro (à esquerda) e Novák (à direita) no primeiro duelo entre brasileiros e tchecos. [Foto: Reprodução/Twitter @ruimtovar]

Com 15’, um baque para o Brasil: Josef Masopust abriu o placar para os tchecoslovacos. Tal qual na primeira fase, porém, o Brasil tinha um herói improvável, pronto para ajudá-lo nas adversidades. Dois minutos depois do gol rival, aos 17’, Amarildo colocou a bola nas redes de uma região do campo onde um gol seria improvável de ocorrer. Placar fechado no primeiro tempo: 1 a 1.

Foi também dos possessos pés de Amarildo que saiu o gol da virada. Aos 24’ do segundo tempo, ele cruzou a bola para Zito marcar para os comandados de Aymoré Moreira. Ainda daria tempo do sempre presente Vavá aproveitar uma falha do goleiro Viliam Schrojf e fazer o terceiro gol, aos 33’. Mané Garrincha, cuja presença foi tão aguardada, acabou fazendo um jogo discreto, o que Takara atribui à forte marcação adversária sobre ele, o que propiciou que outros jogadores brasileiros se destacassem. Logo, o árbitro soviético Nikolay Latyshev apitou pela última vez no Estádio Nacional de Chile, onde quase 70 mil pessoas acompanharam, em 17 de junho de 1962, o segundo triunfo consecutivo da Seleção Brasileira em mundiais. O Brasil era bi-campeão do mundo!

Edição da Gazeta Esportiva no dia seguinte ao título brasileiro no Chile. [Foto: Acervo Museu do Futebol]

 

Mauro: um capitão low profile

Mauro Ramos de Oliveira está, hoje, num rol onde apenas Bellini, Carlos Alberto Torres, Dunga e Cafu se encontram: o de capitão do Brasil em uma final de Copa do Mundo. Contudo, ele é menos lembrado do que todos esses, embora tenha feito parte também do elenco campeão em 1958, disputado a edição de 1954 e cortado às vésperas do Mundial de 1950, no Brasil. A explicação de Ademir Takara para esse “esquecimento” de Mauro é simples: “Eu acho que é muito contexto mesmo. 1958 sempre vai ser lembrado porque é a primeira. 1970 vai ser sempre lembrado porque ela que conquista em definitivo (à época, o país só ficava com a Taça Jules Rimet quando a conquistava por três vezes, e o Brasil foi o primeiro a conseguir o feito). Então a edição de 1962 fica numa espécie de transição, acaba sendo secundária”, analisa.

Mauro Ramos de Oliveira repetiu o gesto inaugurado por Bellini, capitão em 1958 e reserva do próprio Mauro em 1962, e levantou a taça no Chile. [Foto: Reprodução/Twitter @CuriosidadesBRL]

Takara também conta que a Copa do Chile foi a última competição disputada por Mauro com a camisa canarinha, vindo a se aposentar do futebol pouco depois. “Ele já era um zagueiro consagrado. Estava no auge da forma física e ele brigou para ser quase que literalmente titular do time porque naquele tempo não tinha substituição. E ele estava brigando por uma vaga com o Bellini. Então ele bateu o pé e falou que ele queria jogar e queria ser o capitão”.

O pós-Copa: fracasso em 62, glória eterna em 70.

Depois de o Brasil ser campeão do mundo pela segunda vez, houve a expectativa para que a Seleção conquistasse o inédito tri-campeonato na edição seguinte, disputada na Inglaterra. Acontece que o Brasil vivia uma entressafra de jogadores e teve uma preparação turbulenta, em um momento igualmente turbulento para o país. Nem mesmo o retorno de Vicente Feola ao comando da seleção evitou o desastre na eliminação durante a fase de grupos. O Brasil estreou com uma vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária, mas sucumbiu por 3 a 1 diante de Hungria e Portugal. A Inglaterra foi a campeã pela primeira oportunidade — única vez até os dias atuais.

A vitória por 2 a 0 do Brasil, em Liverpool, diante da Bulgária, marcou a última partida de Pelé e Garrincha juntos pela Seleção Brasileira. Juntos, atuaram 30 vezes, com 26 vitórias e quatro empates. Contra os búlgaros, um gol de cada um, para tornar 12 de junho de 1966 uma data ainda mais simbólica. Hoje, é fácil dizer que a CBD acertou ao não manter João Carvalhaes na comissão após a Copa de 1958 – ele sugeriu que Pelé e Garrincha fossem afastados da Seleção. [Foto: Reprodução/Twitter @thalescmachado]

A Copa de 1970, disputada no México, porém, não poderia ser mais histórica. O tri-campeonato veio para a seleção mais brilhante da história das Copas do Mundo. Os comandados de Zagallo,  campeão em 1962 e 1966, formaram um dos esquadrões mais sensacionais da história do futebol, aliando a tática ao talento, e encantaram o planeta para trazer a Jules Rimet de forma definitiva para o país. Félix; Carlos Alberto Torres (o “Capita”), Brito, Piazza, Everaldo; Clodoaldo, Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino fecharam um ciclo iniciado em 1958, que passou por 1962, e deram início a uma fila de 24 anos sem títulos mundiais para o Brasil, que viria a ser campeão em 1994 e 2002. 

Hoje, 60 anos depois, os brasileiros esperam viver novamente a glória de conquistar o mundo. 

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