Kantuta é uma flor do altiplano andino cujas cores lembram a bandeira da Bolívia. Fazendo jus ao nome, há 15 anos desabrochou a Feira da Kantuta em plena São Paulo. Ela evidencia saudade da Bolívia – mas ganha novos tons com a cultura do Peru também. Esta fotorreportagem tenta captar um pouco desse espaço de convivência entre imigrantes que transformam a capital paulistana como lar de memórias.
Por Caroline Aragaki
Todos os domingos, a partir das 11 horas, é possível apreciar um pouco da cultura de outros países da América Latina. Neste dia da semana acontece a Feira da Kantuta. Famosa por abrigar barracas com vários sabores da Bolívia e do Peru. A maior parte dos frequentadores são imigrantes destes locais, um pedacinho do lar natal nesta cidade brasileira.
A placa que nos recorda de que estamos em São Paulo. A praça fica próxima à estação Armênia do metrô; de lá, uma caminhada de dez minutos permite que você tenha essa experiência de se sentir em outro país por algumas horas.
Produtos, que vão desde o refresco de chicha morada até grãos típicos da Bolívia, podem ser encontrados na Feira.
O refresco tipicamente peruano é feito de uma espécie de milho com a cor roxa. Seu sabor, entretanto, está muito distante do suco de milho tradicional. Em contraste a tonalidade forte, o gosto é suave. Mas único. Vale experimentar para entender, pois nenhuma palavra ou comparação faria jus a esse líquido peculiar.
Salchipapas é um prato típico da culinária da Colômbia, mas muito consumido no Peru também. Trata-se de um petisco que alia salsicha com batatas fritas temperados.
Uma das cervejas mais consumidas no Peru. Em sua etiqueta, as ruínas de Machu Picchu.
A sopa de amendoim é uma tradição da Bolívia. Além do próprio amendoim, o caldo é feito com batatas, cenoura e alho. Por fim, coloca-se batatas fritas com salsinha e cebolinha a gosto. Não é fácil identificar o gosto do amendoim. O sabor mais acentuado da refeição são as próprias batatas fritas que, no entanto, complementam perfeitamente a sopa sem que essa seja frustrante.
Com passos sincronizados e sorrisos largos, um grupo de dança em meio à feira.
Uma variação do escondidinho brasileiro, o recheio de frango não é perceptível antes da primeira garfada por conta do purê de batata consistente que o acoberta. Também se parece um pouco com a maionese, pois estava gelada.
O refrigerante mais popular do Peru, sendo consumido desde 1935. Sua cor amarela pode causar estranhamento, mas também passa a ser um charme. O sabor adocicado lembra tutti-frutti. Parece menos gaseificado do que a maior parte das bebidas brasileiras, tornando o líquido mais suave.
Cecília saiu do país de origem há mais de 25 anos, quando foi para a Argentina para ter seus filhos. Após seu marido falecer e uma de suas filhas ficar doente, veio ao Brasil a procura de tratamento. Quando chegou, “parecia que estava escutando passarinhos conversando, pois não entendia o idioma”. Como foi professora no Peru por um tempo, conseguiu um emprego numa escola de idioma para dar aula de espanhol aqui em São Paulo, mas o rigor quanto ao traje não a agradou. Cecília sempre gostou de cozinhar, mas não achava que faria sucesso. A ideia de servir gastronomia peruana na feira Kantuta veio de uma amiga próxima. Desses 15 anos em que começou a elaborar refeições até agora, experimenta quais ingredientes do Brasil se assemelham com os utilizados no Peru para que seja o mais fiel possível.
Graciela veio para São Paulo em 1993. Desde o começo, admirou a cidade e sua primeira impressão foi de que era muito bonita, opinião que tem até os dias de hoje. Ela teve dificuldades de adaptação para conseguir administrar dinheiro e, principalmente, lidar com português, pois chegou sem saber o idioma. “Agora eu entendo, mas ainda não consigo falar tão bem.” Cecília frequenta a feira da Kantuta desde que foi criada, há 15 anos. Ela vende souvenirs bolivianos. Tais artefatos de lembrança se relacionam com seu pensamento: “A ideia da feira é de encontro, né? Ter um pedacinho da Bolívia aqui, pois sentimos muita saudade da família, dos amigos. De vez em quando ainda choro de saudade.”
Chegaram ao Brasil nos anos 90. “Como todo boliviano, a gente veio trabalhar para uma expectativa melhor. Trabalhamos em oficina de costura, mas depois a minha mãe quis mudar o jeito de ganhar o dinheiro, porque ela nunca gostou de costurar e logo viu que dava para a gente fazer nossa vida de outro jeito”, conta Marília. Francisca foi quem teve a ideia de ir para a Bolívia, trazer os produtos e vir para cá. Ela começou a Feira Kantuta.
Já abriu ?? Estaba fechado por causa da pandemia.