Por Mariana Ricci (mariana.ricci@usp.br)
Depois de quase três anos de seu último álbum, Happier Than Ever (2021), Billie Eilish retorna com Hit Me Hard and Soft (2024). A produção é o terceiro álbum da carreira da cantora em conjunto com seu irmão, Finneas, também músico. As dez faixas que compõem o álbum constroem uma narrativa linear, tanto no quesito lírico quanto sonoro.
Vencedora de nove Grammys e dois Oscars, Eilish apega-se a sua essência e traz de volta o pop melancólico em seu novo álbum. Mas dessa vez, a cantora assemelha-se ao novo estilo de álbuns de Beyoncé, como a recente produção, Cowboy Carter (2024) e sai de sua zona de conforto: mescla bossa nova ao rock industrial, pop à eletrônica em diferentes faixas e mergulha o álbum no espectro eclético.
Eilish canta em Hit Me Hard and Soft as desilusões de um romance que não deu certo. Ela aborda os traumas de anos de sua juventude entregues à fama e aos holofotes e, finalmente, fala sobre sua sexualidade quase um ano após a polêmica entrevista à Variety. Na ocasião, a cantora afirmou que “não sabia que as pessoas não sabiam” de sua atração por mulheres.
Ao cantar sobre insegurança e autoestima, Billie Eilish volta a suas origens em Skinny. A faixa de abertura une seus dois álbuns anteriores e cria uma transição suave entre suas produções antigas e Hit Me Hard and Soft. A melancolia de Skinny dá espaço para a enérgica Lunch, que ganhou clipe na mesma semana de seu lançamento. Nos versos “I could eat that girl for lunch/ Yeah, she dances on my tongue” (Eu comeria essa garota no almoço/ Sim, ela dança na minha língua, em tradução livre), Billie assume sua sexualidade em seus próprios termos, sem a intervenção tumultuada da mídia. Com ritmo dançante e temática ousada, Lunch tornou-se hit em poucos dias e virou um hino para a comunidade LGBTQIAPN+.
Chihiro fala sobre solidão, mas com ritmos psicodélicos que mesclam entre lo-fi e batidas eletrônicas. A música também virou hit e já ganhou seu clipe, enquanto Birds of a Feather possui um ritmo suave e temática romântica e, nos últimos dias, virou a queridinha das redes sociais, e já é a música mais ouvida do álbum no Spotify. Wildflower traz de volta a melancolia e mantém-se em tons mais baixos. A canção versa sobre um triângulo amoroso e deixou os internautas curiosos sobre sua história de origem.
Uma vez de volta, a melancolia perdura na melodia até o fim do álbum. Billie Eilish sabe mexer com as emoções dos ouvintes com as notas do piano sofisticadas e a implementação de instrumentos clássicos, como o violino em Skinny. Em The Greatest, a cantora entrega os vocais mais potentes do álbum, enquanto fala sobre um coração dilacerado.
“I wish you the best or the rest of your life” (“Desejo o melhor para você pelo resto de sua vida”, em tradução livre) é o primeiro verso de L’Amour de ma vie, que traz um eu-lírico que supera um romance. A canção começa com uma melodia pop agitada e se encerra com batidas eletrônicas que distorcem a voz de Eilish, estilo que se estende para The Diner, faixa descontraída e experimental.
Bittersuite faz um trocadilho com as palavras em inglês bittersweet (agridoce) e suite (suíte) e conta sobre um caso proibido. A faixa que encerra o álbum, Blue, une elementos de todas as músicas. “I try to live in black and white but I’m so blue” (Eu tento viver em preto e branco, mas eu sou tão azul) é o verso que sintetiza todo o álbum: um grito de liberdade que desprende Billie dos paradigmas que a foram impostos desde muito cedo.Em entrevista para a The Rolling Stone, Billie afirma que Hit Me Hard and Soft foi a coisa mais genuína que já fez, enquanto Finneas escreveu em um post no Instagram que o álbum é “A coisa favorita que ele já fez parte”. Os irmãos são grandes nomes da cena musical contemporânea e ao produzirem um álbum tão pessoal, com tamanho impacto, mostram que a indústria cultural, em especial a da música, pode ir muito além das visualizações do número de reproduções. O álbum ainda assim foi feito pela e para a geração Z — e isso não é um ponto negativo. Billie mescla perfeitamente a efemeridade das chamadas “músicas de Tik Tok” e a complexidade das grandes obras musicais aclamadas na atualidade.
Billie e Finneas terminam o álbum com a mensagem de que é possível criar uma produção inovadora, juntando o clássico com a novidade. “When can I hear the next one?” (“Quando posso ouvir o próximo?”) é como a dupla encerra a produção, com a promessa de que logo mais os fãs serão surpreendidos com um novo álbum.
*Imagem de capa: Reprodução/ Instagram/ @billieeilish