Por Rafael Dourador (rafa.dourador@usp.br)
Na manhã do dia 31 de outubro, o Auditório da Botânica, localizado no Instituto de Biociências da USP, recebeu a cerimônia de lançamento do livro Sapiência: a surpreendente história de como os sapos falantes descobriram a ciência. A obra é fruto do trabalho do autor Carlos Navas, professor do Departamento de Fisiologia, em parceria com o Instituto Edube (Educação Baseada em Evidências).
Sapiência é um livro infanto-juvenil que narra a história de sapinhos falantes entusiastas da investigação científica. Após perceberem o sumiço das moscas, sua principal fonte de alimento, eles partem em uma aventura lúdica e interdisciplinar em busca de respostas para a causa da mudança no seu ecossistema. Durante a jornada, os anfíbios transitam pelas etapas do método científico, evidenciando a proposta pedagógica do livro.
O evento contou com a participação de importantes nomes para a produção do livro. Em tom de orgulho, Carlos Navas foi recebido com aplausos por colegas de trabalho e alunos. “Estou super emocionado, porque essa questão de ser autor não veio sem conflitos. É a forma que eu tenho de me relacionar com a sociedade”, disse Carlos, ao Laboratório, no fim da cerimônia.
O docente explicou que seu lado autor partiu dos hábitos de infância. Filho de uma ávida leitora e de um pai colecionador de enciclopédias, ele afirmou ter sido uma criança muito observadora da natureza e que teve contato com livros desde cedo. “Eu gostava de criar histórias, mas, para mim, o processo da criação sempre foi muito mais importante do que o produto em si”, contou.
Segundo Carlos, a inspiração para Sapiência surgiu de uma palestra sobre educação científica ministrada por sua irmã, Ana Maria, e uma colega professora chamada Maria Lúcia. “As duas concordavam que não há como apreciar a ciência sem entender a ciência. Fiz algumas perguntas no final dessa palestra e a professora Maria Lúcia foi muito enfática ao dizer que havia pouco material adequado para a audiência infanto-juvenil que fosse mais direcionado às lógicas e aos métodos da ciência”. A partir daí, Carlos se propôs a preencher essa carência literária.
As parcerias com o Instituto Edube, a revisora de língua portuguesa Cintia Porini, os ilustradores Hamilton Ferpo e Rebeka Balsalobre e o apoio financeiro da Pró Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP foram essenciais para a concretização do livro impresso. Há também disponível uma versão digital.
Convidada a abrir as falas da celebração, a pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária, Marli Quadros Leite, comentou sobre a importância de levar a leitura para as escolas. “A cada ano, nós temos uma quantidade muito grande de alunos que vêm de escolas públicas. Então, temos de nos preocupar com a preparação dos estudantes que virão para cá”, disse.
Marli enfatizou as ações da Universidade para aproximar a comunidade uspiana dos alunos da rede pública na educação básica, além de que destacou os novos modelos de ingresso, como o Provão Paulista e o Enem-USP. Neste ano, mais de 55% dos ingressantes da Universidade de São Paulo vieram de escolas públicas.
Em seguida, a vice-diretora do Instituto de Biociências da USP, Debora Fior Chadi, e o presidente do Instituto Edube, Renan de Almeida Sargiani, apontaram a habilidade e o brilhantismo do autor do lançamento. Renan, que já havia trabalhado com Carlos no programa Vamos Todos Aprender a Ler, não poupou elogios ao docente: “O professor é genial em todos os aspectos. Um cientista brilhante com uma bagagem intelectual extremamente distinta”, afirmou.
O presidente do Edube ainda explicou que o instituto não é uma editora, mas um “tanque de ideias que visa conectar pesquisas com a prática nas escolas”. Ao se referir ao livro, ele contou sobre o evidente carinho envolvido em um trabalho de três anos — de 2021 a 2024.
“Sapiência não é só uma metáfora, é uma alegoria completa, que mostra como o pensamento científico se constrói”
Renan Sargiani
Ana Luiza Navas, esposa de Carlos e colaboradora do Instituto Edube, falou sobre sua participação no processo de construção do livro com uma linguagem acessível ao público mais jovem — aspecto que o autor apontou ter sido o maior desafio na escrita. “Eu vejo não apenas a criatividade, mas também a preocupação com quem está lendo. Eu vejo isso nas histórias que ele escreveu,” contou Ana.
Quem é Carlos Navas?
Carlos Arturo Navas Iannini é professor titular no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e pesquisador do CNPq. A sua linha de pesquisa envolve o campo da Fisiologia, ramo da biologia que se dedica a estudar o funcionamento de organismos.
Para ele, os sapos terem sido os protagonistas do livro foi muito mais uma consequência de sua linha de pesquisa do que uma escolha pessoal. “Espero que os leitores aproveitem o livro, pois foi feito com muito carinho e dedicação”, diz Carlos.
Imagem de capa: Rafael Dourador/Jornalismo Júnior
