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Semana do Jornalismo 2025 | Jornalistas culturais debatem o funcionamento das coberturas em diferentes formatos de arte

Nomes de diferentes veículos falam sobre a atual realidade do jornalismo cultural, suas questões e como ele se diferencia de outras coberturas jornalísticas

Por Letícia Longo (letlongo2006@usp.br) e Pedro Lukas Costa (pedrolcosta@usp.br)

Na última quarta-feira (24), a Semana de Jornalismo, evento realizado pela Jornalismo Júnior, contou com a mesa “Jornalismo Cultural: Diferentes Coberturas para Diferentes Formatos de Arte”. Mediada por Fernando Silvestre, a conversa teve a participação de Braulio Lorentz, editor de Pop & Arte do g1 e membro da Academia do Grammy Latino, Paula Jacob, crítica de cinema, membro votante do Globo de Ouro e editora contribuinte na Vogue, Sandra Brogioni, coordenadora de criação de conteúdo do GNT, e Walter Porto, editor de livros na Folha de S.Paulo. Com a participação do público, os jornalistas debateram a respeito dos desafios no jornalismo de cultura e da realidade da profissão, além de falarem sobre suas trajetórias profissionais.

Situação da profissão nos dias de hoje foi tema central da mesa da noite do dia 24 [Imagem: Letícia Pelistrato/Jornalismo Júnior]

Publicidade, influenciadores e jornalismo

Entre os principais desafios atuais apontados pelos jornalistas culturais, o conflito entre o jornalismo, publicidade e influenciadores se destaca. Sobre a cobertura de eventos culturais, — cada vez mais, atribuída aos influenciadores — os profissionais enfatizaram a necessidade da presença de jornalistas, mas ressaltaram a importância  dos profissionais se especializarem nos recursos utilizados pelos criadores de conteúdo.

Ao serem questionados sobre como diferenciar a publicidade do jornalismo cultural, Paula Jacob falou sobre a questão moral que rodeia a profissão:  “A ética jornalística não deve ser vendida”. Contudo, a crítica de cinema também afirma que, mesmo que não sigam esse caminho, os jornalistas precisam saber sobre marketing, assessoria de imprensa e publicidade diante do cenário atual do mercado da comunicação.

Braulio Lorentz complementou a necessidade dos jornalistas de se adequarem a formatos comuns a influenciadores, como edição de vídeos curtos e podcasts. “É importante saber usar a arma que eles estão usando” disse o editor de Pop & Arte. Ele também comentou a decisão da Globo de ter apenas jornalistas na cobertura de carnaval de 2025, após a cobertura do ano anterior ter sido feita por criadores de conteúdo e criticada pela audiência devido a falta de informações.

Walter Porto destacou o papel do jornalista em um ambiente “tomado pelos influenciadores”. Para ele, é necessário acrescentar algo ao texto que só o jornalismo pode oferecer. “Só o jornalismo pode fazer uma comunicação com o leitor falando algo que não necessariamente o produtor, ou assessor de um artista quer que seja falado”.

Walter Porto é editor de livros da Folha desde que o cargo foi criado, em 2023 [Imagem: Letícia Pelistrato/Jornalismo Júnior]

A profissão hoje: ‘pejotização’ e condições de trabalho

Um dos temas levantados pelo mediador foi o impacto da ampliação das vagas de freelancers e da contratação de jornalistas como pessoas jurídicas (PJ) e a redução de vagas em regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) nas redações e nas editorias de cultura. Os jornalistas concordaram que esse é um processo que tem ganhado espaço.

Sandra Brogioni comenta que, paralelo à esse fenômeno, ocorre uma “demonização da CLT e da universidade”. Segundo ela, tem circulado o discurso de que “ensino superior não serve para nada”, sob a premissa de que ele não traria retorno financeiro suficiente. 

Para ela, no audiovisual, área de sua atuação, as reclamações sobre os cachês baixos são constantes. Sandra ainda relaciona essa precarização com a falta de força dos sindicatos da área. Ela compara a realidade brasileira com a estadunidense, em que uma greve de um ano em Hollywood gerou resultados consistentes. “Aqui a gente ainda está longe de conseguir isso”, diz.

Paula Jacob também conta sua experiência com o fenômeno da precarização. A crítica relata que deixou de trabalhar em redações devido, entre outros fatores, à “juniorização” da equipe e dos salários. Ela explica que os valores pagos aos funcionários contratados mais recentemente eram menores. Sobre os freelancers, ela complementa que “a indústria jornalística os paga muito mal”.

A especialista comenta que, devido à necessidade de aumentar renda, os jornalistas estão passando por um processo de multitarefa e desvio da função jornalística. “Eu faço roteiro, eu faço edição de vídeo, eu dou consultoria, eu faço várias coisas que não são necessariamente escrever a matéria e entrevista”, conta. Ela também destaca que muitos jornalistas têm direcionado sua carreira para o marketing, se associando à marcas.

“Na publicidade, o cliente é a empresa. No jornalismo, o cliente é o público.”
Braulio Lorentz

Paula destaca a importância da especialização no jornalismo e o impacto de suas pós-graduações, em Semiótica e Psicanálise, na visão de que ela parte ao produzir seu conteúdo. “Uma pessoa que tem uma especialização em Filosofia vai ver um filme de forma muito diferente da forma como eu estou vendo, porque eu estou partindo de outro lugar”, avalia. Segundo ela, é importante que o jornalista encontre uma área de seu interesse, a estude e se torne especialista. 

Sandra Brogioni ainda aconselha os jovens jornalistas que façam ‘networking’, ou seja, criem uma rede de contatos ampla e sólida. Isso porque, em um contexto de “pejotização” e de ampliação dos freelances, as indicações são importantes. “Você vai conhecer um monte de gente e através dessas pessoas você vai conhecer outras e aí vai chegar uma hora que o seu telefone vai começar a tocar e não para”, explica ela.

Braulio Lorentz, do g1, conta que seu trabalho, na cobertura de cultura, muda a forma como ele consome arte no dia a dia. Ele brinca e inverte um ditado famoso: “Trabalhe com o que você gosta que você nunca mais vai gostar de nada”, diz. Em shows, mesmo de férias, ele conta que não deixa de pensar em possibilidades de cobertura. O editor relata que em um show da cantora Adele em Londres, após uma interação da artista com uma fã, desejou que estivesse cobrindo o evento para poder entrevistá-la, já que nenhum veículo havia feito isso.

Experiências dos convidados em diferentes veículos e formatos enriqueceu e deu densidade à discussão [Imagem: Letícia Pelistrato/Jornalismo Júnior]

A conversa foi finalizada com uma pergunta que questionava se o jornalismo cultural era uma área mais ou menos afetada pela pejotização. Walter Porto e Braulio Lorentz, que trabalham em redações da grande mídia, concordam que a área da cultura é tão atingida quanto outros setores do jornalismo. Em sua experiência, os contratos em regime CLT ainda são comuns entre quem recebe salários na média, e a pejotização afeta mais funcionários do alto escalão. “Quem é PJ na Folha hoje são os salários mais altos, as pessoas com 20 anos de carreira”, relata o editor de livros.

[Imagem de capa: Letícia Pelistrato/Jornalismo Júnior]

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