Por Vito Santos (vvitofs@usp.br)
O centro de São Paulo é, constantemente, lembrado pelo perigo de suas ruas. As alamedas escuras podem esconder desfortúnios aos distraídos que cortam caminho até a estação República ou Anhangabaú. As jovens passam apressadas segurando firme suas bolsas, os moços escondem seus celulares na lateral da barra da camiseta, a fim de não se tornarem possíveis vítimas. A zona central desperta narrativas de tragédia quando chega aos ouvidos das senhoras. “O filho de dona Zélia foi esfaqueado ali perto da estação!”, “Ah! Meu sobrinho foi assaltado ali por aquelas bandas na semana passada”. Os bairros da redondeza são palco de muitos acontecimentos, dos quais fazem parte esses já citados.
Porém, o centro não esconde só perigo em suas ruas. No caminho de volta à estação, partindo do Copan, ouve-se de longe um batuque. Um jovem com uma câmera segue o som, assemelhando-se à criança que segue o flautista de Hamelin, e descobre que uma roda de samba lhe espera virando a esquina.
Sambista faz a base com seu cavaquinho, enquanto puxa as mais pedidas pela multidão
Flautista corre com seus dedos no corpo do instrumento
Violeiro se emociona tocando e cantando os sambas de roda
O som do cavaquinho, harmoniza com o assobio da flauta e os dois juntos, amarrados pelo badalar do violão, embalam a dança e os sorrisos dos casais que exclama com a melodia: “O morro foi feito de samba, de samba ‘pra’ gente sambar”.
Casal dança à luz dos postes e do bar
Casal sorri com a cantoria na roda de samba
Casal troca juras de amor nas letras românticas
Pés que sambam com o tocar dos instrumentos nas melodias de Alcione, Arlindo Cruz e Fundo de Quintal, rememoradas pelas vozes dos sambistas
Senhor entra na roda dançando no toque do samba enredo da Acadêmicos do Salgueiro
O centro de São Paulo presenteia o fotógrafo com cliques espontâneos da alegria dos bambas em sentir os breques do pagode, o grave dos tantãs e o regozijar das vozes. O jovem, que tímido chegou com sua câmera em mãos, agora recebe abraços da multidão, retratos lhe são pedidos e encontra-se, agora, com um copo de cerveja em mãos e até arrisca o “miudinho”. Termina o samba e este é até aplaudido como cinegrafista do povo.
As senhoras sorriem para a câmera do fotógrafo
Moças que sambavam no meio da roda pedem retrato e alegres posam para a câmera
Mãe e filha são fotografadas nos cantos da roda de samba
Trio se aproxima para ser fotografado nos arredores da roda
Casal posa na rua próxima aos batuques
Resumir os bairros deste território em perigo iminente é apagar um pouco da história e cultura que luta para manter-se viva em meio ao descaso público com os espaços. Em meio ao perigo, o povo sacode com o ritmo que agoniza, mas não morre. Viva o samba do centro de São Paulo! Viva à cultura brasileira!
Mãos que se movimentam no toque do tantã
Sambista se concentra no toque do pandeiro